Amarildo, herói em 1962, diz que não há salvador óbvio na seleção agora

Andrew Downie

Da Reuters, em São Paulo

O jovem atacante que assumiu o lugar de Pelé e ajudou o Brasil a vencer a Copa do Mundo de 1962 acredita que há paralelos com a perda de Neymar, mas também que não há salvadores óbvios neste momento na seleção brasileira.

"Não é a mesma coisa, embora haja algumas similaridades", disse Amarildo, o homem que mostrou ao Brasil o caminho da vitória no Chile, em entrevista à Reuters na segunda-feira.

"A grande diferença é que o time de 1962 tinha 22 jogadores excepcionais. Não interessava quem saísse, havia um grande jogador para assumir seu lugar e sabíamos que quem entrasse faria um grande trabalho."

"Modéstia à parte, a diferença é grande. O único atacante que a seleção tem é Fred e ele não está na mesma classe que os jogadores de 1962. Tínhamos Coutinho, companheiro de Pelé no Santos, tínhamos o Vavá. E Garrincha estava lá também. Ele era extraordinário."

Amarildo, que hoje tem 74 anos, era um reserva de 22 anos em 1962 e não esperava jogar quando Pelé teve uma lesão no músculo da coxa após 27 minutos do segundo jogo da fase de grupos, contra a Checoslováquia.

Não havia substituições naquela época, mas tamanho era o respeito por Pelé que os jogadores checos se recusaram a tirar vantagem de sua lesão, e a partida se encerrou em 0 x 0, com o craque brasileiro mancando em campo.

"Ele continuou jogando, mas estava claramente machucado, então eu disse a meus colegas que quando Pelé estivesse com a bola eles não deveriam forçar a jogada", disse no ano passado o então capitão checo, Josef Masopust, durante a Copa das Confederações.

Amarildo teve sua chance no jogo seguinte contra a Espanha, e marcou os dois gols do Brasil em uma vitória por 2 x 1.

Ele marcou outro na final, quando o Brasil jogou novamente contra a Checoslováquia e venceu por 3 x 1. Foi considerado um herói, como também seu colega no Botafogo, Garrincha, que marcou quatro gols nas últimas três partidas.

"Eu não senti pressão, eles só me pediram para fazer o que eu sempre fazia", disse em uma entrevista por telefone em sua casa no Rio de Janeiro. "Então eu fiz o que sempre fazia no Botafogo, onde joguei ao lado de Didi, Zagallo, Garrincha, Nilton Santos."

"Não foi um problema para mim. Eu não estava nervoso porque nada tinha mudado para mim."

HERÓIS IMPROVÁVEIS

Alguns brasileiros têm relembrado o heroísmo improvável de Amarildo nesta semana como um possível presságio antes da partida da semifinal contra a Alemanha, nesta terça-feira.

A seleção está sem seu craque Neymar, que sofreu uma fratura em uma vértebra na vitória por 2 x 1 sobre a Colômbia na partida de quartas de final, na sexta-feira.

O meia Willian, do Chelsea, e o ala do Shakhtar Donetsk, Bernard, estão entre os jogadores cotados para entrar como substitutos.

Amarildo, que em 1962 tinha a mesma idade de Neymar agora, disse que a perda do atacante do Barcelona é um grande revés para o Brasil. Mas ele espera que a seleção possa mudar esse rumo, assim como o episódio da ausência de Pelé, que deu mais liberdade a outros atacantes.

"O time não depende mais dele. Eles precisam trabalhar juntos e precisam assumir a responsabilidade que nunca tiveram antes. Eles têm que querer isso e têm que mostrar o quanto querem isso."

(Reportagem adicional de Mike Collett)

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