A história da seleção é uma história de conflitos entre técnicos e mídia

Mauricio Stycer

Do UOL, no Rio

  • FLAVIO FLORIDO/UOL

    Luiz Felipe Scolari responde a perguntas de jornalistas durante entrevista coletiva na Granja Comary

    Luiz Felipe Scolari responde a perguntas de jornalistas durante entrevista coletiva na Granja Comary

Nos últimos 14 anos, a seleção brasileira teve apenas quatro técnicos e cada um adotou uma política diferente com a imprensa. Os jornalistas conheceram desde a total cordialidade de Mano Menezes (2010-2012) até a política de guerra aberta de Dunga (2006-2010), passando pela simpatia seletiva de Carlos Alberto Parreira (2003-2006) e o estilo "sincerão" de Luiz Felipe Scolari (2001-2002 e desde 2013). Como se pode imaginar, nenhuma funcionou direito.

Nesta quinta-feira (03), em um encontro com jornalistas promovido por uma marca de refrigerantes, Dunga foi questionado sobre a decisão de Felipão chamar seis jornalistas para um encontro privado: "Cada um tem uma forma de reação. Deixei todo mundo trabalhar igual e fui criticado. O Felipão está fazendo escolhas e está sendo criticado."
 
A passagem de Dunga pela seleção foi marcada por conflitos permanentes com a imprensa. Além de limitar o acesso da Rede Globo aos jogadores,  dificultou o trabalho de profissionais de todos os veículos. Até mesmo em suas folgas na África do Sul, os jogadores eram proibidos de falar com os jornalistas.
 
Algumas horas depois da fala de Dunga, Felipão comentou o mesmo assunto em entrevista no Castelão. Irônico, tripudiou dos jornalistas que reclamaram do privilégio seletivo de falar apenas com seis profissionais: "Ciúme de homem é brabo".
 
"Vocês todos sabem. Não tem como eu descer pra falar com todo mundo. Até porque tem uns que são meus amigos, que eu gosto mais, e vou fazer isso, como em 2002 [Copa do Mundo no Japão/Coreia do Sul]. Sentava junto com sete, oito, dez e conversava. Aqueles que não foram convidados é talvez porque eu não goste tanto ou porque na hora eu não queria conversar", explicou. "Não pode existir ciúme de homem. Pelo amor de Deus. De mulher tudo bem. De homem é brabo", completou.
 
Dunga sempre disse que adotou a política de restringir o acesso dos jornalistas à seleção depois de ler, na imprensa, críticas à facilidade que os profissionais da midia tiveram durante a Copa de 2006. O técnico sempre lembrava, na África do Sul: "Vocês não criticaram o oba-oba em Weggis?"
 
Em 2006, Parreira não conseguiu, de fato, controlar o clima de euforia e bagunça na fase preparatória da seleção para a Copa da Alemanha. Irritado com a pressão da imprensa, ele recorreu a um pequeno grupo de jornalistas para pedir apoio em um jantar fechado. 
 
O encontro, na época, foi noticiado pelo jornalista Renato Maurício Prado, que participou. O ex-jogador Tostão, colunista da "Folha de S. Paulo", também esteve presente. Parreira justificou a sua impaciência com as perguntas do jornalistas reclamando do número excessivo de profissionais que ele não conhecia presentes nas entrevistas.
 
A relação de Mano Menezes com a imprensa é o caso mais curioso. Ao assumir o cargo depois da demissão de Dunga, o técnico foi saudado como "bom de mídia" pelo estilo pausado e estudado de falar. E, embora tenha tido vários atritos com jornalistas ao longo de sua carreira, no comando da seleção a relação foi sem maiores problemas. O que o atrapalhou, mesmo, foi o desempenho do time que comandou. 
 
O excesso de experiências e os maus resultados elevaram o tom das críticas, mas Mano nunca perdeu o controle. Certa vez, em uma entrevista coletiva, pediu que a imprensa apoiasse mais a seleção, mas não foi além disso. Foi demitido sem nunca reclamar dos jornalistas.  
 
Comentando a sua relação tensa com os jornalistas, Dunga fez uma revelação curiosa. "Ser treinador da seleção tem muito mais prazer do desgosto. Como a gente reclama, vocês podem achar que a gente não gosta. Até com as entrevistas a gente se divertia", disse. 
 
"A gente sabia até o que os repórteres iam perguntar. 'Aquele cara, ele vai fazer uma pergunta pra me alfinetar'. Assim como voces estudam a gente, a gente estuda vocês. Nunca deixei ninguém sem resposta. O treinador vai ser criticado sempre." Nisso, Dunga tem razão.
 

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