Colômbia se prepara com "otimismo contido" para enfrentar Brasil

Arturo Wallace

De Bogotá, para a BBC Brasil

A Colômbia se prepara para a partida das quartas de final contra o Brasil um pouco como para uma batalha, mas sobretudo como para uma grande festa.

Por decreto presidencial, os funcionários públicos terão a tarde da sexta-feira livre e espera-se que dezenas de milhares de colombianos se reúnam diante dos telões colocados em parques e praças por todo o país, somente para a ocasião.

Como tem sido habitual durante este Mundial, diversas cidades - a começar pela capital, Bogotá - proibiram a venda de álcool no dia do jogo. Por isso, muitos estão estocando bebidas nos dias anteriores.

As autoridades da capital também anunciaram que na sexta-feira o Exército patrulhará 19 "zonas críticas" de Bogotá e que, ao longo do dia, soldados e policiais farão revistas e apreensões.

Também há restrições à venda das farinhas - como a maizena - e espumas típicas das celebrações colombianas, o que sugere que o que preocupa as autoridades não é exatamente a possibilidade de conflitos por causa de uma derrota da seleção colombiana.

O temor é, na verdade, que haja excesso de comemorações no caso de uma vitória, como as que provocaram nove mortes em Bogotá depois da primeira vitória, contra a Grécia.

Porque uma vitória contra o Brasil é precisamente o resultado com que todos os colombianos sonham. E que a imensa maioria espera.

"Colômbia 2 a 1. Eles estão em casa, mas a Colômbia pode com eles", disse à BBC Brasil James Casas, de 21 anos, orgulhoso de ter o mesmo nome que James Rodríguez, a estrela da seleção colombiana.

"Vamos ganhar, vamos ganhar. O Brasil não está jogando bem. Dá para chegar neles", concordou Carlos Novoa, de 47 anos, enquanto caminhava por uma das muitas ruas de Bogotá decoradas de amarelo, azul e vermelho, as cores da bandeira nacional.

'Otimismo contido'

As vendas de camisetas da seleção também dispararam, até o ponto que alguns tamanhos já não podem ser encontrados nos comércios - o que garante que no dia do jogo praticamente todo mundo estará vestindo o amarelo da "seleção cafeteira".

Para além disso, em termos gerais, o ambiente aqui pode ser descrito mais como de expectativa do que de nervosismo. Apesar de que, inevitavelmente, os nervos pioram na medida em que o jogo se aproxima.

"Vai ser difícil, mas é possível ganhar. Há uma espécie de otimismo contido, porque sabemos que o Brasil é o Brasil, mas acreditamos neste time, porque tem talento e tem juventude", disse León Darío, de 40 anos, resumindo o sentimento geral.

Muitos também esperam que o peso das expectativas acabe afetando especialmente o Brasil, porque o que alcançou a seleção colombiana na Copa 2014 já pode ser considerado um sucesso.

"Não seria um fracasso (perder para o Brasil), de jeito nenhum. Este time já entrou para a história, chegando pela primeira vez às quartas de final de um Mundial e ainda por cima sem Falcão", disse à BBC Brasil Zilia Gavarito, de 38 anos.

"Mas eu sou muito otimista. Já estamos bem até agora, continuaremos indo bem, por mais que o Brasil seja um rival difícil e com muita tradição."

A verdade é que independentemente do resultado da sexta-feira, a Colômbia continuará a ter motivos para comemorar o Mundial no Brasil durante muito tempo.

Por um lado, um país tradicionalmente dividido por fortes regionalismos e por uma história política cheia de violência está unido por uma só camiseta.

Sobretudo, os colombianos se sentem bem representados pela excelente imagem projetada por seu time de estrelas jovens, talentosas e humildes.

Para muitos, não é apenas coincidência que o jogo mais importante da história do futebol colombiano aconteça na mesma semana que marca os 20 anos de um de seus episódios mais tristes: o assassinato do jogador Andrés Escobar, poucos dias depois de marcar o gol contra que selou a eliminação do país da Copa de 1994, nos Estados Unidos. E que além de tudo, que a partida seja contra a emblemática seleção brasileira.

O país sente que esta pode ser uma oportunidade para deixar este capítulo para trás definitivamente.

Uma oportunidade para mostrar que esta é uma Colômbia diferente.

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