Até alto membro da Fifa critica falta de penas na Copa contra discriminação
Rodrigo Mattos
Do UOL, no Rio de Janeiro
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AFP PHOTO / Robert SULLIVAN
Jeffrey Webb reclamou da falta de medidas para combater o preconceito na Copa
Membro do Comitê Executivo da Fifa, e chefe de combate contra a discriminação na Fifa, Jeffrey Webb reclamou da falta de punições para atos discriminatórios na Copa-2014, e lembrou que a diretoria da entidade não implantou medidas para evitar manifestações preconceituosas no Mundial. Já o presidente do Comitê Disciplinar da federação internacional, Claudio Sulser, disse que não houve penas por não se identificar pessoas ofendidas objetivamente, e disse que haverá punições só quando indivíduos forem atingidos. Há uma discordância no discurso dos dois.
Em março de 2014, Webb, que é negro, propôs a criação de um escritório de anti-discriminação na entidade, que monitoraria manifestações de torcedores dentro do estádio. Assim, haveria especialistas para tentar identificar ofensas.
"É o que precisamos trabalhar. Não há motivos para não termos um escritório de anti-discrimininação (nesta Copa). Há uma desconexão entre a prestação de contas e o discurso (contra racismo). A discriminação é igual se é atacado o time inteiro ou para um indivíduo. Para nós, isso é discriminação", afirmou Webb. "Precisamos de indivíduos que forem treinados, e podem dar relatórios para o comitê disciplinar. Infelizmente, ainda não vimos isso. A Uefa tem um grupo por alguns anos. No futuro, a Fifa poderá usar. O comitê disciplinar poderá ter um guia consistente."
O diretor da Fifa para assuntos sociais, Federico Aridechi, explicou que o escritório contra discriminação não foi implantado por falta de tempo. Há um trabalho com ONGs (Organizações Nacionais Não-Gorvenamentais) como a Fer para ajudar nesta identificação. "Não haveria tempo para treinar experts", disse o dirigente.
Mas houve casos em que era fácil identificar manifestações preconceituosas no Mundial, mas nada foi feito. Foi assim nos jogos do México, onde a torcida gritava "putos" como uma manifestação de homofobia, quando o goleiro pegava na bola. Só que o Comitê Disciplinar da Fifa abriu procedimentos contra a federação mexicana, mas a absolveu. A alegação foi de que os gritos eram insultuosos, mas não dirigidos a uma pessoa.
"Precisamos distinguir os casos. Abrimos um inquérito contra Federação da Mexicana sobre comportamento inadequado. Vimos palavras inapropriadas, e rudes, mas não eram dirigidas a nenhum jogador certo. Faz parte de jogos mexicanos", explicou o presidente do comitê disciplinar, Claudio Sulser. "Houve uma discussão grande. Objetivamente, são palavras insultuosas, mas não houve intenção de atacar alguém."
Webb claramente não concordou com esse critério de Sulser. Para ele, a discriminação de qualquer tipo deve ser punida. Outros casos de preconceito que passaram em branco foram bandeiras supostamente racistas em jogos da Croácia e da Rússia, que foram identificadas pelo grupo Fer, parceiro da Fifa.
Mas Sulser entende que eram casos isolados. "Uma das bandeiras estava atrás da torcida brasileira. É muito difícil. Qualquer um pode levar uma bandeira dessa para dentro. Como podemos punir os croatas pelas bandeiras?", argumentou ele.
Fato é que, sem especialistas e com um comitê disciplinar pouco atuante neste tipo de caso, a Copa-2014, que no discurso deveria ser um marco contra a discriminação, não tem nenhuma pena contra torcedores por preconceito até agora. Isso apesar de alguns fatos ocorridos dentro dos estádios do Mundial. A Fifa exibiu um vídeo para mostrar que os jogadores são contra o racismo.