Nos 20 anos da morte de A. Escobar, Federação Colombiana ignora data

Vanessa Ruiz*

Do UOL, em São Paulo

Um dia muito difícil. Foi assim que Santiago Escobar definiu esta quarta-feira, data que marcou os 20 anos da morte do irmão Andrés Escobar, zagueiro da seleção colombiana no início da década de 1990. Andrés foi assassinado na volta ao país depois de fazer o gol contra que colaborou para a eliminação da Colômbia da Copa de 1994, mas até hoje o motivo não foi esclarecido.

"Foi um dia difícil para a família por tudo o que temos vivido neste tempo, são 20 anos, são muitas memórias", disse Santiago em contato por telefone com o UOL Esporte. Ele esteve presente no memorial organizado pelo Atlético Nacional de Medellín, último time do irmão.

"Morreu por causa da infeliz intolerância que às vezes nos supera", diz a primeira de várias notas publicadas no site do Nacional durante o dia. As homenagens se deram no centro de treinamentos de Belén, que leva o nome de Andrés.

O memorial teve início com uma oração e um minuto de silêncio. Os presentes assistiram a um vídeo com imagens de Andrés em campo. Em seguida, ex-jogadores do Nacional receberam uma medalha de recordação e foram a campo disputar uma partida em memória de Andrés. Os torcedores presentes cantaram em homenagem ao "cavaleiro do futebol", como era chamado o zagueiro.

As únicas homenagens vieram do Nacional, conta Santiago. Não houve nenhum contato por parte do governo colombiano ou da Federação Colombiana de Futebol, de quem a família sempre deixou claro não ter recebido apoio: "Não estávamos esperando, nunca esperamos nada nem do governo, nem da Federação. Basta para nós o carinho das pessoas". Santiago recebeu, no entanto, ligações da Argentina, Itália, Brasil e outros países "porque Andrés era uma pessoa muito querida", recorda o irmão.

Nesta quarta, o UOL Esporte publicou reportagem em que ressaltava a dificuldade de falar sobre o tema do "narcofutebol" com os colombianos. Para Santiago, isto se deve ao fato de que o narcotráfico fez muito mal para o país nos anos 1980 e 1990, e a situação hoje mudou muito: "Estamos vivendo algo muito diferente. As pessoas não gostam de falar porque hoje em dia a Colômbia já tem muito investimento estrangeiro, turismo, vamos bem no ciclismo e agora de novo no futebol. A Colômbia tem coisas muito mais importantes que o narcotráfico".

"Todos os países latino-americanos tiveram muitas dificuldades, mas estamos todos melhorando apesar dos desafios", analisa Santiago. Mesmo acompanhando a Copa apenas pela televisão enquanto parte da família veio ao Brasil para ver os jogos de perto, Santiago está otimista: "Creio que é a primeira vez que a Colômbia chega para enfrentar o Brasil com chances reais de ganhar, está muito perto".

Irmã de Andrés Escobar fala a site da Fifa

Não houve um contato formal da Fifa com Santiago, mas a entidade publicou em seu site uma reportagem em que entrevista Maria Ester, também irmã de Andrés. "Eu queria escapar de Medellín porque lá estarão falando muito da morte de Andrés em todos os programas de notícias e jornais, e seria muito difícil. Prefiro passar [o aniversário do assassinato] aqui, com a família, e depois participar de um serviço religioso quando voltarmos", disse Maria.

Segundo ela, o fato de a Copa ter começado com um gol contra, o do brasileiro Marcelo contra a Croácia, mexeu com a família: "Nos trouxe memórias muito tristes, mas ajudou a reforças em casa que é uma coisa do futebol, que acontece todo o tempo".

*Colaborou Vanderlei Lima, do UOL, em São Paulo.

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