Um vídeo, feito dentro de um estádio da Copa, mostra uma pessoa caminhando para chegar a sua cadeira de rodas e tem causado polêmica na internet. O vídeo foi filmado por um torcedor no Maracanã durante o jogo entre Equador e França, na última quarta-feira, e depois publicado em sua página no Facebook.

Ele apresenta um homem no setor especial para deficientes físicos, e caminhando. Depois de dar alguns passos, o homem senta em sua cadeira de rodas, posicionada em local específico para ela na arquibancada.

Ao fundo, se ouve uma voz feminina condenando o cadeirante: "Ele devia ter vergonha de fazer isso." "Depois quer reclamar do governo. Coxinha, safado!", afirma outro homem.

A filmagem é só mais uma das imagens que têm surgindo na internet mostrando pessoas que entraram na cota de ingressos especiais e, supostamente, não teriam direito de fazê-lo. A Fifa reserva cerca de 1% de todas entradas para deficientes, o que dá mais ou menos 21 mil bilhetes.

Esses casos de "falsos cadeirantes" têm indignado torcedores que entram em intermináveis filas on-line para conseguir bilhetes comuns. Têm sido chamados, ironicamente, de "os milagres da Copa".

"Condenamos firmemente qualquer tentativa de uso indevido de ingressos reservados para pessoas com deficiência", afirmou em nota o Comitê Organizador Local da Copa. "A Fifa pede aos fãs para respeitarem essas pessoas e solicitarem estes bilhetes somente se necessário. Os ingressos como parte dos esforços para fazer a Copa acessível a todos. Qualquer uso indevido de tais ingressos irá dificultar as chances de torcedores com deficiência honestos de assistirem aos jogos."

A entidade diz que a pessoa precisa provar que é deficiente no momento da compra, na entrega do ingresso e na entrada do estádio. Na internet, é possível encontrar anúncios de cambistas que oferecem bilhetes especiais, atestados médicos falsos e cadeira de rodas para quem estiver disposto a burlar a checagem da Fifa.

Mas existe o outro lado da moeda.

Ao mesmo tempo em que é provável que muita gente esteja burlando a lei, apresentando documentação falsa e se fazendo passar por cadeirante, existem os que usam cadeira de rodas por terem limitações de movimento, mas que, ainda assim, conseguem andar ou ficar de pé.

É o caso da atleta e cadeirante Dani Nobile. Em seu blog, ela publicou há uma semana um texto em que faz um alerta àqueles que apontam falsidade em cadeirantes que podem andar.

"Existe sim cadeirante que fica em pé. Eu fico!", ela escreveu. "Eu preciso me apoiar em algum lugar (na grade, por exemplo) ou em alguém. E consigo me sustentar em pé por menos de dois minutos. Aliás, eu preciso ficar em pé várias vezes durante o dia, pra aliviar a dor gigantesca na minha lombar. Então, eu vou ficar em pé no intervalo do jogo sim! E quero ver quem vai tirar minha foto e colocar nas redes sociais falando que sou cadeirante fake."

Também há o caso de pessoas que usam próteses ou muletas e que, com elas, conseguem andar e ficar de pé, embora possam preferir se locomover em cadeira de rodas. E também aqueles que podem vencer distâncias curtas, mas que precisem de cadeira de rodas para fazer caminhos mais longos, como entre suas casas e as arquibancadas de um estádio.

A reportagem do UOL Esporte já havia conversado com diversos cadeirantes que compraram ingressos especiais e alertaram para generalizações e acusações injustas que esse público pode sofrer.

Por sua vez, a Fifa admite que há dificuldade em definir quem tem direito ou não aos bilhetes para deficiente. "Não podemos dizer se quem é deficiente ou não. Não é justo'', explicou ao blog do Rodrigo Mattos o chefe responsabilidade social corporativa da Fifa, Federico Addiechi. "Alguns casos pode ter acontecido de não ser deficiente. Temos uma dificuldade. Mas entendemos que não há abuso."