Animais selvagens usados para tirar trocado de gringos em Manaus
Felipe Pereira
Do UOL, em Manaus (AM)
Chama-se encontro das águas o passeio mais procurado pelos estrangeiros que estão em Manaus para ver a Copa. Numa das atrações os turistas são colocados em barcos que navegam lentamente pela parte alagada da Floresta Amazônica. Os motores são desligados para o guia mostrar uma árvore com idade estimada de 400 anos. As pessoas mal escutam porque a atenção é capturada por um adolescente que se aproxima de canoa segurando um jacaré grande. Noutra canoa uma criança segura um filhote.
Os dois animais têm a boca amarrada e são exibidos para os turistas que sacam máquinas fotográficas e celulares. Enquanto as pessoas fotografam, os jovens pedem dinheiro. O guia do passeio solicita que as pessoas não contribuam.
Explica também, em inglês, que aqueles são animais selvagens que, por estarem aprisionados, não desenvolverão seus extintos e morrerão quando forem soltos na natureza. Acrescenta que dar dinheiro incentiva que as espécies sejam retiradas de seu habitat natural, uma prática costumeira na região. As pessoas ignoram o discurso e notas de R$ 2 escorregam para os garotos.
E não são somente jacarés as vítimas. Outro adolescente exibe uma cobra que lembra uma jiboia e as pessoas refugam quando oferece o animal para ser tocado pelos passageiros dos barcos. Há ainda duas preguiças que são levadas por uma menina e uma mulher.
O discurso do guia demonstra que a exposição de animais selvagens da Amazônia para conseguir trocados de turistas é comum, mas não chegou ao Ibama. A assessoria em Brasília informou que o instituto fiscaliza diversas atividades e, entre elas, o maltrato aos animais. Acrescenta que na região há uma parceria com a Secretaria do Turismo do Amazonas
Existe também uma campanha chamada: "Do Brasil, não leve cartão vermelho, leva apenas boas lembranças". A assessoria de imprensa também garante que denúncias são averiguadas. Mesmo assim, a prática na floresta que fica a menos de uma hora de barco do Porto de Manaus continua.
O português Gonçalo Santos, 34 anos, foi uma das 62 pessoas que participou do passeio e não gostou do que viu. Mas ele sabe que é minoria. "Sou contra ver os animais ali presos, mas todo mundo gosta. O turista adora", lamentou.
O ponto onde as espécies selvagens são exibidas é conhecido por ser área de parada dos passeios para falar da árvore. Os ribeirinhos ficam de campana e quando os barcos se aproximam eles aparecem em pequenas canoas com uma pessoa remando e outra mostrando o animal num ritual diário.