Croatas passam a primeira noite em Manaus cantando na chuva
Felipe Pereira
Do UOL, em Manaus
As folhas da árvore não servem mais de abrigo e a chuva que cai em Manaus forma pingos grossos que atingem quem está embaixo. Em vez de desanimar, a água desperta o grupo de croatas que começa a gritar. São cerca de 20, mas assistir ao coro desses malucos molhados e com a camisa da seleção de seu país empolga as pessoas em volta. Elas se juntam aos torcedores mesmo sem ter a menor ideia do que está sendo dito. Não é a letra, mas a atitude que funciona como ímã.
O primeiro canto entoado às 23h34 diz: saia da cidade; caras bêbados estão chegando; a Croácia joga aqui. As palavras soam ofensivas, mas como ninguém entende e os torcedores são amistosos a rodinha aumenta com brasileiros e pessoas de outras nacionalidades.
Nos 19 minutos que a chuva dura, Pablo Sanhueza, 25 anos, ensina e os croatas gritam: chi chi le le. Viva Chile. Kinderlly Oliveira, 20 anos, faz todos repetirem Flamengo. O abrigo da árvore da principal praça de Manaus mostra que para uma grande festa não precisa muita gente.
O clima é tão bom que as pessoas filmam e tiram fotos. Quando a água para de cair o grupo compacto sob a árvore se abre e uma brasileira é vista aos beijos com um croata. Flagrada pelos amigos, ela não perde o rebolado e canta "Ai Se Eu Te Pego". É claro que os estrangeiros sabem do que se trata. A música de Michel Teló não é a única referência que conhecem do país da Copa. Um homem escreveu Neymaric no espaço para nome da camisa oficial da Croácia que está usando.
A noite de terça para quarta-feira marca o segundo encontro de Manaus com estrangeiros que visitam a cidade para a Copa do Mundo. Primeiro foram os ingleses. Mas Tomislav Mileis, 41 anos, conta que eles são diferentes. "É um país pobre, pequeno, mas que torce pela seleção com o coração". O lema do povo é respeitar os anfitriões de qualquer lugar em que estejam para serem respeitados.
Eles são amistosos e o celular entra em campo para ajudar na interação com os moradores de Manaus. A maioria da população local não fala inglês e croata então nem pensar. Nada que o Google Tradutor não resolva.
Nessa hora, um homem estaciona o carro junto ao grupo, abre o porta-malas e manda ver na música eletrônica. Os torcedores não ligam e o motorista dança sem empolgação com os dois amigos que estavam no veículo.
A quarta-feira começou faz uma hora e a velocidade com que as latas de cerveja passam pelas mãos dos croatas diminui. Assistir ao jogo contra Camarões é prioridade, afirma Leo Markotic, 32 anos, por isso eles dão um tempo com a bebida. Vão até a parte central e mais iluminada da praça e tiram fotos.
Neste momento encontram um grupo de venezuelanos que quer fazer imagens com eles. Todos se entendem fácil e logo estão cantando juntos. O grupo de croatas também ajuda os recém-conhecidos a esvaziar uma garrafa de uísque Santa Tereza, que o próprio dono admite ser bebida de má qualidade.
De volta à árvore que serviu de abrigo, percebem que a quantidade de brasileiros em volta da música eletrônica aumentou. É hora de ir embora. Eles entram nos táxis a partir da 1h30. E prometem se concentrar na praça neste começo da tarde antes de ir para Arena Amazônia. Sonham em voltar ao lugar na noite desta quarta para comemorar a vitória sobre Camarões. Certamente serão bem-vindos.