Copa é sul-americana, mas eles estão fora. Torcemos com bolivianos em SP

Verônica Mambrini

DO UOL, em São Paulo

A rua Croácia, na região do Bresser, é a mais verde e amarela da região. Os quarteirões estão pontilhados de pinturas nas ruas, bandeiras por todo os lados e camisetas verdes e amarelas colorindo o peito dos moradores do bairro. A empolgação que rareou em outros locais sobra ali, mas não tem nada a ver com os brasileiros. São os bolivianos, que ficaram de fora dessa Copa, que estão vibrando pelo Brasil. 

Dos países latinoamericamos, participam dessa Copa, além do Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, Equador, México, Honduras, Costa Rica e Uruguai. Ficaram de fora do torneio Peru, Venezuela, Bolívia e Paraguai. A Bolívia já participou de outros mundiais, mas esse ano não se classificou. "Estávamos sem um bom técnico", acredita Roberto Zuniga Rojas, que tem um pequeno comércio na rua Croácia. "Com a vinda do novo técnico, Eduardo Villegas, vamos nos classificar para o próximo mundial", acredita. Sem o time do seu país, ele foi de Brasil. "Nós temos gratidão pelo acolhimento dos brasileiros. Não teria como torcer para outro time."

Esse sentimento parece repercutir por trás de outras camisas amarelas na comunidade. Gonzalo Hurtado está no Brasil há 40 anos e apresenta um programa da rádio Trianon, em espanhol, com audiência de 500 mil ouvintes latinos ou falantes do espanhol - para dar uma ideia, o consulado boliviano estima haver 400 mil imigrantes bolivianos no país. Torço para o Brasil porque é simplesmente maravilhoso, tenho gratidão a esse país. Mas acho que na próxima Copa a Bolívia tem chance de se classificar, então vocês vão perder alguns torcedores. Fico um pouco triste pela Bolívia estar fora da Copa."

O estudante de Direito Geraldo Gutierrez é brasileiro, filho de uma nordestina e de um boliviano de La Paz. "Mas me identifico mais com a cultura boliviana. Adoro futebol e acho impressionante como a comunidade consegue se juntar ao redor desse esporte", conta. De acordo com estimativas dos próprios times, há cerca de 50 campeonatos entre equipes locais, com 2 mil atletas de fim de semana, nas comunidades espalhadas pela cidade. "Antes era tudo aqui no centro, mas com bolivianos indo para bairros distantes daqui, eles armam seus campeonatos, fazem suas feiras com comida regional", diz o estudante.

Geraldo tem orgulho de ter chegado à final da Copa Gringos, torneio que reuniu expatriados em São Paulo em equipes. "Disputamos a final contra Camarões", conta. A vitória de 2 x 1 contra a Bolívia não intimidou em nada a torcida boliviana, que compareceu em peso aos jogos e comemorou o vicecampeonato. O estudante só não é otimista quanto à 2018. "Futebol tem muito dinheiro envolvido, e nosso país não tem condições." Ele tentou iniciar uma carreira como jogador de futebol no Mato Grosso, mas uma fratura interrompeu o sonho. "Hoje meu time é Brasil. E, quem sabe, um dia, vou poder torcer pela Bolívia."

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