Colônia russa do MT monta caravana e aproveita Copa para estrear em estádio

Guilherme Costa

Do UOL, em Cuiabá (MT)

  • Gali Tibbon/AFP

    Russo ortodoxo acende vela na igreja do Santo Sepúlcro, na cidade velha de Jerusalém, em 2011; em 2014, comunidade brasileira aproveitará Copa para conhecer estádio

    Russo ortodoxo acende vela na igreja do Santo Sepúlcro, na cidade velha de Jerusalém, em 2011; em 2014, comunidade brasileira aproveitará Copa para conhecer estádio

A previsão oficial do governo russo é de que 4 mil torcedores do país acompanhem a seleção às 19h desta terça-feira (horário de Brasília), em Cuiabá, no duelo de estreia na Copa com a Coreia do Sul. Uma parte considerável desse grupo saiu de uma comunidade rural isolada, no interior do Mato Grosso, e vai entrar em um estádio de futebol pela primeira vez. O apoio aos europeus na Arena Pantanal será reforçado pela comunidade rural de Primavera do Leste, que enviou um ônibus e alguns carros à capital mato-grossense.

Primavera do Leste está situada a pouco mais de 230 quilômetros de Cuiabá. Fundada há apenas 26 anos, a cidade tem 52 mil habitantes e vive primordialmente de plantações de algodão e soja. A comunidade russa é considerada parte do município, mas vive em uma área rural mais isolada, a 40 quilômetros do centro.

"A comunidade russa está lá desde a década de 1970. Eles seguem o catolicismo ortodoxo, com tradições do catolicismo primitivo. Isso inclui um calendário diferente e uma cultura que está fora do nosso senso comum", explicou Marcos Pedro da Silva, professor da Unic (Universidade de Cuiabá).

Em fevereiro de 2014, o professor defendeu tese de mestrado na UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) sobre cultura russa. O grupo também deve ser foco do trabalho de doutorado de Marcos Pedro da Silva, que é cuiabano e vive em Primavera do Leste desde 2008.

"É uma cultura passada de pai para filho, regida pela religião", disse o professor. "Nada que possa denegrir a fé é permitido. A televisão ainda não é permitida, apesar de alguns terem TVs em casa. Outra coisa é o celular, que até três anos atrás não era permitido", completou.

A diferença de costumes também inclui vestimentas tradicionais. Eles comemoram feriados como Natal e Páscoa em datas diferentes, por exemplo, porque não reconhecem reformas feitas no calendário.

"Eles têm uma longa história de migração desde a primeira revolução russa. Passaram pela China, mas outra revolução começou por lá. Começaram a vir para o Brasil no início do século passado e montaram alguns grupos por aqui. Um dos líderes dessa comunidade comprou terras aqui na década de 1970. Aí vieram outras pessoas que faziam parte da família, e eles começaram a se formar", relatou Marcos Pedro da Silva.

Assim como a maioria da população em Primavera do Leste, os russos vivem basicamente da agricultura. Muitos são produtores de médio e grande porte. A comunidade perto de Primavera do Leste tem pouco mais de cem pessoas, e a maioria estará em Cuiabá para ver Rússia x Coreia do Sul nesta terça-feira. Viajaram para capital do Mato Grosso 28 torcedores em um ônibus, além de um grupo menor em carros particulares.

"O interesse para nós é assistir a um jogo no estádio pela primeira vez. Vai ser diferente", disse Larion Ovchinikov, um dos integrantes da comitiva russa. Os torcedores estreantes em estádio levarão faixa com as cores do país europeu e alusão à comunidade de Primavera do Leste.

A agenda do grupo em Cuiabá inclui coisas além do jogo na Arena Pantanal. Antes, eles visitarão a seleção russa no hotel para tentar conversar com os atletas e verão o jogo Brasil x México em algum ponto da capital.

"Não poderíamos estar no jogo por causa da religião, mas o pessoal abriu uma exceção por ser jogo da Rússia e por ser Copa do Mundo. Aí resolveram montar uma torcida. Vai ser interessante", disse Ovchinikov, que nasceu no Brasil – os avós dele trocaram a Rússia pelo país na década de 1950.

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