Pelé: "A Argentina tem o melhor ataque da Copa"
Javier Quintela
Do Clarín, em Buenos Aires (Argentina)
Por Skype, de terno vermelho, gravata azul e sorriso amável, aparece Pelé, aquele dos mais de mil gols e dos milhões de dribles, que aos 73 anos ainda demonstra ter uma memória invejável. O Rei deixa de lado todos os preconceitos relacionados à rivalidade entre argentinos e brasileiros. Horas antes de começar uma nova Copa, a voz mais autorizada do Brasil – tratando-se de futebol – encontra um momento em sua agenda complicada e conversa cara a cara com o Clarín, no meio à gravação de uma propaganda do Banco Santander. Em um portunhol bem avançado, Pelé fala sobre tudo: do presente da seleção brasileira, do momento da seleção argentina, de Neymar e, é claro, de Lionel Messi, a grande ameaça da seleção canarinho para conseguir um novo título do mundo.
Clarín: Pelo que foi feito na Copa Confederações e por estar em casa, você acha que o Brasil é favorito?
Pelé: Claro. Temos confiança e esperamos chegar à final, seja contra quem for. Mesmo contra a Argentina, esperamos que seja uma excelente final.
E nesse sentido, você vê a Argentina como o rival a ser vencido?
Vi três ou quatro partidas da Alemanha e também algumas da Espanha. Da Europa esses dois são os que estão mais organizados e os mais fortes. E na América temos o Chile e a Argentina, que sempre temos que respeitar.
Com o Brasil acontece uma coisa muito interessante: seu futebol sempre foi caracterizado pelo jogo ofensivo, mas ultimamente a parte defensiva é a que tem melhor nível. Há uma mudança de estilo para esta Copa?
Estou de acordo com isso. Eu também vejo e sinto que é a primeira vez na história do futebol que o Brasil vai começar uma Copa com uma defesa melhor do que o ataque. Do meio-campo para trás o Brasil está muito bem, a tal ponto que temos os melhores defensores da Europa na equipe. Além disso, outra coisa que eu noto é que estamos colocando muita responsabilidade no Neymar em tudo o que está relacionado ao ataque. Ele é um jogador jovem, portanto toda essa responsabilidade pode ser um peso.
Assim como você diz que a defesa do Brasil é a melhor, você acha que a seleção argentina é a melhor na ofensiva?
Sem dúvida, a Argentina tem o melhor ataque da Copa. É um ataque muito poderoso, apoiado na grande figura do Messi. Há uma coisa importante que muitas vezes as pessoas podem esquecer: o Messi, quando joga no Barcelona, é um jogador diferente porque lá ele está acostumado a um estilo de jogo que vem se consolidando paulatinamente há quatro anos. Na seleção argentina é outra história porque os treinamentos são mais espaçados e eles chegam na Copa com menos de um mês de treinos. Mesmo com um rendimento que pode ser diferente, a dianteira da Argentina para esta Copa do Mundo é muito boa e muito forte. Seus jogadores tiveram uma temporada muito boa na Europa.
Jogadores como Pelé, Diego Maradona, Johan Cruyff, Alfredo Di Stéfano sempre são colocados em um grupo de destaque. Você acha que o Lionel Messi merece um lugar nesse grupo? Ou falta ganhar a Copa para ele se consagrar?
Claro, sem dúvida que sim. Mas o rendimento dele nos últimos cinco anos, graças ao talento que tem, faz com que ele esteja no mesmo nível que Cruyff, Beckenbauer, Maradona...
Pelé termina sua resposta e a conversa chega ao fim. No entanto, ainda há tempo para mais uma coisa. Antes de desligar o computador, o Rei se despede dizendo algo que não admite uma dupla leitura: "A gente se vê na final", diz com um sorriso de cumplicidade. É que o calendário sorri para esse prognóstico: os dois grandes rivais sul-americanos só poderiam se encontrar na partida decisiva do dia 13 de julho. A Copa ainda nem começou. Mas Pelé já espera um Argentina-Brasil no mítico estádio do Maracanã.