Espanha troca intérprete, mas tradução falha de novo. Eles explicam

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em Curitiba

  • AFP PHOTO / Orlando KISSNER

    Volante Koke, do Atlético de Madri, foi um dos entrevistados em coletiva com nova intérprete

    Volante Koke, do Atlético de Madri, foi um dos entrevistados em coletiva com nova intérprete

O inimaginável acontece na tradução das entrevistas coletivas da seleção espanhola durante o período de preparação para a Copa do Mundo, no CT do Caju, em Curitiba: o que é dito por jornalistas e jogadores em espanhol não consegue ser reproduzido por intérpretes em português. Nesta quarta-feira, a Espanha trocou de intérprete e contratou uma profissional. Mas nem isso resolve a questão. Novamente, houve respostas trocadas e alguns erros, como o nome do atacante brasileiro Diego Costa, que virou "David Costa".

A enorme maioria dos jornalistas brasileiros consegue entender o que dizem os espanhóis, e até arriscar falas no idioma. Mesmo assim, a seleção espanhola prefere ter o intérprete. Na segunda-feira, as coletivas de imprensa estrearam com David Silva e Raúl Albiol. Quem fez a função foi o curitibano Thomas Hecke, de 51 anos, que trabalha com turismo e tradução. Uma pergunta sobre a bola – "balón", em espanhol – virou resposta sobre "valor" dos jogadores. Quando Silva disse que preferia jogar como meia, atrás do ataque, a tradução afirmou que o jogador prefere jogar "bem avançado", no ataque. Até a camisa vermelha, "roja" em espanhol, virou "roxa".

Nesta quarta-feira, Hecke não quis fazer a tradução. Ele compareceu ao CT do Caju porque acompanha alguns espanhóis no Brasil, mas explicou à reportagem que ficou aborrecido com a repercussão negativa do caso. Além disso, ele diz ter feito um favor na tradução, sem receber qualquer remuneração pelo serviço, que normalmente rende R$ 1 mil por dia para um tradutor.

No lugar de Thomas Hecke, a seleção espanhola contratou uma intérprete, que também teve problemas. Nenhuma das perguntas feitas na entrevista coletiva foi reproduzida de forma exata, e a maioria teve mudança no sentido ou ficou incompleta. Durante a entrevista, a intérprete ainda afirmou no microfone que tinha problemas para ouvir o que era dito pois não tinha retorno de áudio – todas as caixas estão voltadas aos jornalistas, e não à mesa de entrevistados. Chegou a pedir para repetir algumas das questões. Além de trocar o nome do atacante brasileiro, errou ao traduzir as posições, como zagueiro, volante, meia, quando ditas pelos jogadores. 

Durante a coletiva, os membros da mesa de entrevistados chegaram a sorrir e fazer breves comentários, em tom de piada, sobre a tradução, que apresenta problemas pelo terceiro dia seguido. Os jornalistas espanhóis também reclamaram. Principalmente porque a tradução toma tempo que poderia ser aproveitado para que mais pessoas perguntassem.

Questionada após a coletiva, a intérprete afirma que quem responderá sobre o tema é a seleção espanhola, e não ela. Diferentemente de Thomas Hecke, ela não tem a mesma liberdade de comentar porque agora é funcionária contratada. Mas explica brevemente: trabalha com tradução simultânea e tem total capacidade de entender, traduzir e falar em espanhol, mas teve dificuldades porque não conseguia ouvir o que diziam na mesa os jogadores – Javi Martínez e Koke deram coletiva nesta quarta.

A repercussão negativa dos dois primeiros dias também já transforma o tema em polêmica no CT do Caju. A discussão entre jornalistas após a coletiva foi sobre a necessidade de ser feita a tradução. Na opinião da maioria, a tradução é dispensável, porque praticamente todos os destacados para a cobertura conseguem entender o que é dito em espanhol.

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