Bolões diferentes valorizam "zebras" e têm até calzone como prêmio
Danilo Valentini
Do UOL, em São Paulo
A obviedade de se apostar nos favoritos e em palpites cautelosos não tem vez para quem encara os bolões de Copa do Mundo como uma chance de garantir a dupla alegria de embolsar uma bolada e ainda poder tirar sarro dos amigos. Regulamentos complexos que premiam quem se arrisca e prêmios que fogem do óbvio começam a ganhar espaço entre grupos de amigos e colegas de trabalho.
Alguns bolões, inclusive, são tão diferentes que quase já não podem mais ser chamados simplesmente de bolões. É o caso, por exemplo, do tradicional Mundrungo, que já está entrando em sua quarta edição e conta com a participação de um grupo de quase de 100 amigos e amigos de amigos de São Paulo. Para participar da brincadeira, não basta sair colocando resultados em uma tabelinha ou mandando os palpites por e-mail.
Um arquivo de Excel com 42 páginas já deixa claro, logo na sua apresentação, que a brincadeira é séria. Inspirada nas casas de apostas, a pontuação é, digamos, invertida. Explica-se: quanto mais gente apostar em um mesmo time em determinado confronto, menos o jogo pagará pelo resultado mais apostado. Em compensação, o azarão da partida vai dar mais pontos para quem decidiu fugir do óbvio.
"Pensamos em regras que façam as pessoas a tomarem riscos. Um amigo matemático veio com a ideia para incrementar o bolão e brincar como acontece nas bolsas de apostas, para se fugir das barbadas e dos palpites óbvios. A pessoa tem de bancar uma 'zebra' e não só falar que vai arriscar, porque conheço um monte de gente que fica falando que o Chile vai avançar, mas, na hora H, afina e não tem coragem, por exemplo, de eliminar a Espanha", diz Maurício Grilli, publicitário de 38 anos e um dos três organizadores do Mundrungo. "A ideia era fazer com que polêmica saia da conversa e vá para a prática".
Além dos resultados inusitados renderem mais pontos, o bolão tem outras várias peculiaridades. Para quem quer ousar e ir além da aposta básica de R$ 30, há três pacotes especiais para as fases finais da Copa do Mundo: o "Boicoto, mas Torço" custa R$ 50 e dá ao apostador a chance de apostar no Brasil e em outra seleção como campeã do Mundial; o "Boicote Geral" sai por R$ 75 e vale para quem escolhe três campeões que não sejam a seleção canarinho; e o "Somos só um Brasil", em que três apostas que colocam o time de Felipão como campeão dão direito a um bônus de escolher mais uma seleção como a melhor da competição.
"Não queremos ninguém em cima do muro. É uma mistura de emoções, vale boicotar, torcer, se arriscar", diz Grilli, que não vê a hora da Copa acabar para que se defina a parte mais divertida do bolão: os três piores colocados serão os garçons de um churrasco que será organizado com 30% da verba arrecadada (o primeiro colocado fatura 50% e o segundo, 20%).
A coragem de arriscar também é o que pauta o bolão que contará com a participação de outro publicitário, Edison Rodrigues, de 57 anos. Vencedor em 2010, o corintiano que estuda as seleções para ter uma melhor ideia de quais serão os resultados certos entrou neste ano em um bolão de uma outra turma, e que tem um regulamento que também não é dos mais comuns.
Ao final da fase de Grupos, quem tiver vencido sozinho leva o prêmio acumulado. Se houver empate, porém, a disputa recomeça: os candidatos que tiverem avançado colocam mais R$ 50 na disputa e aumentam o bolo. "A primeira fase, na verdade, é uma peneira para uma disputa que vale mais ao final da Copa", explica Rodrigues.
Prêmios que vão além do óbvio, entretanto, não faltam. Em Pelotas-RS, por exemplo, uma pizzaria realizou durante o Campeonato Gaúcho deste ano um bolão que premiava, a cada rodada, o vencedor com um prato diferente, variando entre um calzone ou uma pizza de 50 cm de diâmetro. Um fundo de investimentos localizado em São Paulo, por exemplo, deu um carro ao vencedor do bolão da Copa do Mundo de 2010.
Em um clube da zona oeste de São Paulo, o prêmio sempre é dinheiro. Mas sempre muito dinheiro. Em 2010, o executivo Leandro Campos, de 33 anos, desembolsou salgados R$ 100 para fazer sua aposta. Mas a recompensa valeu bem à pena: ele embolsou a bagatela de R$ 16.500.
"O dinheiro caiu do céu. Eu tinha acabado de casar e tinha monte de coisa para pagar da festa de casamento e da lua de mel. O prêmio pagou toda minha dívida", festeja Campos, que já confia em repetir a sorte este ano, ainda mais porque o valor da aposta subiu para R$ 200. "Minha filha nasceu há 40 dias e agora tenho as contas dela para pagar. Um novo prêmio será bem-vindo", diz o executivo.