O mundo começa a tomar o Itaquerão. Mas não tem lugar para Jonathan

Luis Augusto Simon

Do UOL, em São Paulo

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    10.06.14 - Trabalhadores aguardam em fila para buscar emprego no Itaquerão

    10.06.14 - Trabalhadores aguardam em fila para buscar emprego no Itaquerão

É muito importante pra nóis. Is very important to us.

O idioma é diferente, a entonação ainda mais, mas havia a mesma ansiedade, quase desespero, na voz de Jonathan Silva e Viet Minh Nguyen, ambos nesta terça-feira no Itaquerão.

O brasileiro, na fila, junto com amigos, tentava ser um dos mais de cem selecionados para um dia de trabalho no estádio de abertura da Copa do Mundo. O vietnamita, na sala de imprensa, tentava descobrir um tour que lhe levasse a uma favela.  "Meu chefe pediu, preciso fazer a matéria", dizia o repórter do "Bong Da", de Hanói.

Se buscava história triste, Nguyen poderia conversar com Jonathan, que não mora na favela. Não tem casa. Vive em um albergue na Mooca. "Só de lá a gente veio em mais de 50. O trabalho é bom, é só carregar caixa por 12 horas. Pagam 40 paus e ainda tem almoço".

Difícil falar muito tempo com Jonathan. Seus amigos, todos com a típica cara inchada de quem bebe muito, cercam o repórter e perguntam se ele é um recrutador, se está contratando também. A negativa afasta todos e cria outra negativa. Não querem foto. "Melhor não, a gente é muito feio".

Nguyen se convenceu de não ir à favela. "É um suicídio", disse um dos voluntários. A visita ficou para o Rio, onde há o tour tão procurado pelo vietnamita. A outra missão era aprender a tomar o táxi para evitar custos.

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Viet Minh Nguyen, do Vietnã

Logo, estava trocando endereços com jornalistas de outros países. Nguyen queria comer pizza e ficou feliz ao saber que está na cidade certa.  "Me disseram que em São Paulo as pessoas são muito fechadas, mas todo mundo me ajudou. Me pareceu um povo feliz".

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John Botha, da Nigéria

A sala de imprensa tinha em torno de 40 jornalistas estrangeiros. "Muito boa, é melhor que a de Londres. Eu sei porque estive lá", disse John Botha, da Nigéria. "É tão boa quanto a do estádio de Berlim", disse o suíço Markus Brutsch.  Os números impressionam mesmo: são 530 pontos para repórteres, com direito a uma pequena luminária. Há relógios com horário de seis cidades diferentes e ainda sete pontos para descanso de jornalistas. São quatro poltronas (uma de três lugares, duas de dois e duas de um lugar) colocadas frente à frente. Há 543 armários individuais.

O voluntário Diego Guillen também aprovou a sala. "Sou espanhol. Juntei dinheiro por quatro anos para vir à Copa. Não ganho nada, apenas a refeição e o transporte, mas estou gostando muito. Vou fica mais três semanas por aqui. Gostaria de viver no Brasil, aqui o desemprego é menor que na Espanha".

Na estreia, estarão pelo menos 70 voluntários. E uma quantidade imensa de jornalistas. Quem não estará é Jonathan e seus amigos. Sua parte na construção do estádio que ajuda estrangeiros a mudarem de opinião sobre o Brasil já está terminada.

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