Em Salvador, comerciante se queixa de megalomania e vai às ruas contra Copa

Vagner Magalhães

Do UOL, em Salvador

  • Vagner Magalhães/UOL

    João Cabral diz que está pronto para protestar, mas vai torcer para o Brasil

    João Cabral diz que está pronto para protestar, mas vai torcer para o Brasil

Quem passa pela porta do "Brechó do Cabral", no centro histórico de Salvador, vê o recado na porta: "menos arenas, mais escolas". No comando da loja está o comerciante mineiro João Cabral, 53, que há cerca de 25 anos fixou residência na Bahia. Entre moedas, lustres, telefones, livros e toda a sorte de antiguidades, a quem ele dedica seu tempo faz duas décadas, está um pequeno mastro, com um pano preto amarrado na ponta. É sua bandeira de protesto. 

Cabral se diz pronto para ir às ruas protestar contra a Copa do Mundo, que começa nesta semana. Depois da estréia do Brasil, contra a Croácia, dia 12, em São Paulo, Holanda e Espanha se enfrentam no dia seguinte em Salvador. E o discurso de ser contra a Copa está na ponta da língua.
 
"Diziam que esta Copa iria deixar um legado. Será uma herança maldita", diz ele. Cabral não se conforma com os cerca de R$ 700 milhões investidos na Arena Fonte Nova, enquanto a cultura, principal atrativo de Salvador, é relegada, em sua opinião, a segundo plano.
 
"Não é só o custo com a obra. No fim, a manutenção do estádio, cujo valor não é desprezível, também acaba sobrando para o Estado. E para o que realmente interessa para Salvador, sempre há a desculpa de que não há dinheiro.
 
A lista de reclamações de Cabral é grande. Ele diz que o centro histórico da cidade teria condições de atrair muito mais turistas se estivesse plenamente revigorado. "São igrejas de mais de 300 anos precisando de reforma. Está tudo largado. Enquanto isso, o Brasil caiu nessa megalomania, essa demência de fazer a Copa do Mundo aqui. Disseram que não haveria dinheiro público nos estádios, mas a conta será nossa", diz ele.
 
Ele disse estar atento à programação dos protestos. "Se tiver, pode contar comigo que eu vou". Segundo ele, a Copa é um bom negócio para a Fifa e seus patrocinadores. "A população, como sempre é quem paga a conta".
 
Com tudo isso, ele afirma que não há como não torcer pelo Brasil durante a Copa do Mundo. "Não há dúvidas que vai haver Copa. Para a seleção, em campo, não tem como não torcer. Agora, quem quis lucrar politicamente com a Copa, acho que se deu mal", diz ele.
 
"Nesta época era para estar um outro clima no País. E não está, justamente porque a condução do processo não foi adequada. Os únicos que não poderão se queixar são os políticos", diz.
 

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