Comerciantes da Arena da Baixada têm prejuízo na Copa e se calam por medo

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em Curitiba

Não é preciso procurar muito longe de um estádio onde diferentes seleções disputarão jogos da Copa do Mundo para encontrar brasileiros insatisfeitos e prejudicados com a realização do evento no país. É o caso da Arena da Baixada, em Curitiba, sede na qual comerciantes que trabalham a poucos metros do estádio sofrem calados com o prejuízo causado pelas obras no local. Calados, mas nem tanto. Diversos comerciantes relatam que fecharam os últimos meses no vermelho pela primeira vez, fazem diversas críticas à Copa, ao COL (Comitê Organizador Local) e às autoridades, mas não se identificam por medo de que, em 2015, não recebem alvará na prefeitura para continuar trabalhando.

O caso afeta especialmente aqueles que têm estabelecimentos na Rua Brasílio Itiberê. A via, que contorna uma das laterais do estádio, é a que recebe a maior parte das obras na Arena da Baixada. No espaço de duas quadras até o começo do terreno do estádio, são muitas as críticas à Copa em Curitiba. Donos de estabelecimentos menores, como bares, são os mais críticos.  

"Trabalhamos aqui há oito anos e pela primeira vez estou fechando no vermelho. A gente teve queda de 30% no faturamento. Ficou muito mais difícil de chegar aqui à rua, por causa das obras e principalmente porque não dá para parar o carro. A rua fica lotada de carro porque os caras que trabalham no estádio [funcionários do COL] ocupam a rua inteira, de manhã até a noite. Então além do trânsito, quem vinha de carro não consegue mais parar. E a gente não pode falar nada, se não no ano que vem já viu, né? A gente precisa do alvará para trabalhar", afirma um dos donos de estabelecimentos na rua, em crítica semelhante às repetidas por vizinhos. "Eu já falei muito, comprei a briga aqui. Agora, como já apareci, prefiro não falar mais nada. Vou continuar trabalhando, vendendo minha cerveja a R$ 7 aqui enquanto eles vendem a R$ 20 no estádio. E ainda vou colocar o jogo para passar na televisão", afirma o dono de um bar.

Para Angela Maria da Silva, dona de um salão de beleza vizinho à Arena da Baixada, a preocupação é grande. Segundo ela, não houve planejamento para com os comerciantes do entorno do estádio. Ela, que aceita se identificar, no entanto, afirma que não espera prejuízo com a Copa do Mundo. "Acho que não vou ter prejuízo, no meu caso, não. Não sou contra a Copa do Mundo, sou contra a falta de planejamento da prefeitura", diz, apontando como principal problema a rua ocupada por veículos que seriam de integrantes do COL em várias quadras.

Aqueles que tem comércios de maior porte, como restaurantes e panificadoras, não mostram tal insatisfação. Luiz de Luca, um dos proprietários de um bistrô, o período da Copa pode até ser benéfico após um período de pequena queda no faturamento: "Pode até compensar. Não acredito que vá atrapalhar".

Para funcionarem nos dias de jogos em Curitiba, os comerciantes que estão dentro do perímetro de segurança estabelecido pela Fifa precisaram realizar um cadasramento na prefeitura. Entre seis horas antes do início da partida e duas horas depois, só será permitido acesso ao perímetro àqueles credenciados – o mesmo vale para os moradores da região. E é isso que preocupa alguns dos comerciantes. Os donos dos estabelecimentos fizeram o cadastro, mas a preocupação é em relaçãos aos funcionários.

Neste domingo chegou a Curitiba a seleção espanhola, que escolheu a cidade e o CT do Caju, do Atlético-PR, para ficar alojada e realizar os treinamentos durante o período da Copa do Mundo. A seleção campeã mundial também irá jogar na Arena da Baixada no dia 23, contra a Austrália. O estádio ainda receberá mais três partidas: Irã x Nigéria, no dia 16, Honduras x Equador, no dia 20, e Argélia x Rússia, no dia 26. 

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos