Obra mais cara da Copa opera com risco de acidente e baixa velocidade
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Gabriel de Paiva/ Agência O Globo
Pedestres e ciclistas ignoram riscos de atropelamento e andam pela faixa do BRT Transcarioca
Inacabada, insegura e, por isso, ainda ineficiente. Essa é a Transcarioca, obra mais cara entre todas as realizadas para a Copa do Mundo de 2014. O sistema de BRT (Bus Rapid Transit) ligando a Barra da Tijuca ao Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, foi oficialmente inaugurado no domingo. Sua construção trouxe benefícios a quem usa o transporte público, entretanto, ainda não cumpre a função que se espera de um projeto que custou R$ 2,2 bilhões.
Na quinta-feira pela manhã, a reportagem do UOL Esporte testou a maior obra de mobilidade urbana já realizada pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Percorreu os 39 quilômetros da Transcarioca dentro do ônibus expresso, que circula em uma faixa reservada exclusivamente para ele. Constatou que ainda há falhas no mais novo meio de transporte público da capital fluminense, sede da final da Copa do Mundo de 2014.
A primeira delas é que construção da Transcarioca ainda não terminou. Apesar de ônibus já circularem pelo corredor desde segunda-feira, perto da metade das 47 estações que compõe o BRT não está pronta, assim como os terminais de passageiros. Viadutos e pontes construídas para a Transcarioca também ainda estão em acabamento, e isso é parte da causa de outro problema: a insegurança.
Como a Transcarioca está em obras, operários ainda trabalham em espaços por onde circulam os ônibus. Motoristas do BRT sabem disso. Desaceleram quando aproximam-se de estações em construção para evitar acidentes. O risco de acidentes com trabalhadores, contudo, é o menor entre os que rondam o funcionamento do BRT.
O pior problema é "convívio" da Transcarioca com pedestres e motoristas. Apesar de toda a sinalização e da orientação de agentes de trânsito espalhados por todo trajeto, a todo momento carros, motos e transeuntes cruzam o caminho do BRT criando um risco de batidas ou atropelamentos.
Na manhã desta quinta-feira, aliás, o UOL Esporte presenciou o primeiro acidente registrado na Transcarioca. Um motorista fez uma conversão no sinal fechado, cruzou a pista do BRT e teve seu carro "atropelado" por um ônibus expresso. O motorista feriu-se sem gravidade.
A insegurança da Transcarioca é preocupação constante dos funcionários do BRT. Por isso, motoristas tem circulado com velocidade reduzida no corredor de ônibus. Isso, obviamente, compromete a eficiência do sistema.
Antes da inauguração do corredor de ônibus, a prefeitura esperava que a viagem entre a Barra e o Galeão durasse 1h10 pela Transcarioca. Na quinta, durou 1h30 --20 minutos a mais do que a expectativa inicial.
Passageiros satisfeitos
Apesar das falhas, passageiros da Transcarioca disseram estar muitos satisfeitos com o BRT. Segundo eles, o novo meio de transporte público é mais rápido e, principalmente, mais confortável que os disponíveis até a inauguração do corredor.
"Achei excelente", afirmou José Evangelista, auxiliar de serviços gerais de 31 anos que usou a Transcarioca pela primeira vez na quinta-feira. "Demorou um pouquinho mais que eu esperava, mas o ônibus é muito bom. Bem diferente do trem que eu teria que pegar para vir até aqui hoje [José partiu da Zona Oeste]."
O estudante Isaac França, de 24 anos, também aprovou o BRT. Ficou satisfeito com o tempo de viagem e com o conforto. "O ônibus tem ar condicionado e estava vazio. Com certeza, vou usar", disse ele. "Ficará ainda melhor quando o terminal da UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro] estiver pronto."
Na quarta-feira, o secretário municipal de Transporte do Rio de Janeiro, Alexandre Sansão Fontes, acompanhou o primeiro dia de operação da linha da Transcarioca entre a Barra e o Galeão. Confirmou que o BRT passará por "ajustes".
Antes mesmo de a Transcarioca começar a funcionar, Sansão também já havia demonstrado preocupação com acidentes envolvendo carros e pedestres. O secretário disse que a prefeitura intensificou a sinalização nas vias próximas ao BRT. Ressaltou que cidadãos também devem agir com prudência e respeitar as leis.
Sobre as obras do BRT, quem falou foi o prefeito Eduardo Paes (PMDB). Ele disse antes da inauguração da Transcarioca que as obras serão concluídas conforme as necessidades de operação do corredor de ônibus.
O BRT está em período de testes. Ainda não usa todas as suas estações. Por isso, segundo Paes, nem todas as estações estão prontas. "Não abrir todas as estações é uma forma de operar. Se quisesse operar inteira, a gente abriria."
A Transcarioca foi a única obra de mobilidade que a prefeitura comprometeu-se a entregar para a Copa. Em 2010, o próprio prefeito assinou um documento, a chamada Matriz de Responsabilidades da Copa, em que informava que concluiria o BRT até maio do ano passado. Na época, a obra estava orçada em R$ 1,6 bilhão.