Homofobia de Irã e Nigéria unirá LGBT e black blocs em protesto em Curitiba

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em Curitiba*

A decisão de mandar para a Arena da Baixada, em Curitiba, as partidas da Copa do Mundo entre Irã e Nigéria, no dia 16, e Argélia e Rússia, no dia 26, revoltou a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) da capital do Paraná. Para o grupo, dos quatro jogos que Curitiba receberá, esses dois possuem as seleções que representam os quatro principais países homofóbicos dentre os 31 que vêm ao Brasil para o torneio. E já está definido: haverá protesto no dia 16, data da primeira partida, e com apoio de manifestantes que atuaram recentemente em outras causas como black blocs. O ato será estático e absolutamente pacífico.

O protesto é anunciado por líderes do movimento LGBT de Curitiba. Os mesmos contam que aproveitaram que já haveria um protesto natural contra a Copa no dia 16 para conversar com manifestantes que adotam a linha black bloc e reforçar a ação. Mas não será adotada a linha black bloc. A comunidade LGBT passou por seis reuniões até definir a manifestação e não apoia atos de vandalismo para justificar as reivindicações. Houve até a ideia de se organizar um "pink bloc", como sátira, algo que também não foi aprovado.

O jogo de estreia na cidade, entre Irã e Nigéria, é o que mais revolta pelo fato de os dois países adotarem medidas de extrema repressão contra homossexuais. Tanto no Irã como em regiões da Nigéria a homossexualidade pode ser punida com pena de morte. A manifestação acontecerá às 10h30 do dia 16 e vai durar até as 14h30. Tudo vai acontecer na Boca Maldita, região do centro da cidade marcada por atos políticos e culturais. Não haverá deslocamento no ato. 

Ironicamente, a partida entre Irã e Nigéria será chamada no protesto LGBT de "jogo da morte". Os detalhes do protesto e outras ações serão definidos em uma reunião na noite da próxima segunda-feira. A partida do dia 16 é o principal ponto de revolta, mas não o único. O protesto já tem apoio também da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Segundo o Grupo Dignidade, que atua na organização do protesto, a manifestação pacífica conta com o apoio do Comitê Popular da Copa, do sindicato dos psicólogos do Paraná e da APP-Sindicato, dos trabalhadores em educação pública do estado.

A presença de manifestantes que adotam a linha black bloc deve fazer, também, com que o protesto LGBT se misture em meio a outras vozes no dia 16. O black bloc não é um partido ou movimento organizado com ideias próprias, mas sim um estilo de protesto, que ficou comum no Brasil durante a comoção popular que surgiu dos primeiros atos do Movimento Passe Livre, pela redução das tarifas do transporte público no país. Os black blocs normalmente atuam mascarados e vestidos de preto e fazem das ações a própria propaganda. Estes manifestantes depredam com frequência fachadas de instituições que representam o capitalismo, como bancos e concessionárias de automóveis.

Depois, alvo é Vladimir Putin

Argélia e Rússia se enfrentam na quarta e última partida em Curitiba e serão o segundo ponto de protesto do movimento LGBT. Apesar de não condenarem homossexuais à morte, o país do norte da África tem em seu código penal punição de dois meses a dois anos de cadeia para homossexuais, e a Rússia do presidente Vladimir Putin proibe qualquer manifestação contra a homofobia. O movimento LGBT aguarda a confirmação de que Putin virá ao Brasil para assistir à partida em Curitiba para intensificar o protesto. 

Curitiba ainda receberá as partidas entre Honduras e Equador, no dia 20, e Austrália e Espanha - a mais badalada, pela presença da seleção campeã mundial - no dia 23.

*Atualizado às 16h26

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