De olho no cofre

A Copa começa em uma semana. E ninguém sabe ao certo quanto ela vai custar

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • FABRICE COFFRINI/AFP

    Dilma Rousseff cumprimenta Blatter: gasto público para torneio da Fifa ainda são duvidosos

    Dilma Rousseff cumprimenta Blatter: gasto público para torneio da Fifa ainda são duvidosos

Falta uma semana para o início da Copa do Mundo de 2014 e a presidente Dilma Rousseff já disse que o Brasil está preparado para o torneio. Mas, afinal, quanto custou a preparação? Essa é uma questão que ainda não tem uma resposta oficial. Tanto é assim que diferentes órgãos do próprio governo Dilma têm dados divergentes sobre o mesmo assunto.

A Presidência da República, em si, tem divulgado que a preparação do Brasil para o evento envolveu investimentos de R$ 25,6 bilhões. Esse é o valor que consta da última versão da Matriz de Responsabilidades da Copa, documento elaborado pelo Ministério do Esporte e que reúne informações de todas as obras para o torneio.

A Matriz de Responsabilidades foi divulgada em janeiro de 2010. Desde então, passou por várias atualizações. Sua versão mais recente é de setembro de 2013. São os dados dessa versão da matriz, por exemplo, que o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, tem apresentado a integrantes de movimentos sociais em debates sobre a Copa promovidos pelo país.

Acontece que a CGU (Controladoria Geral da União), órgão responsável por assistir direta e imediatamente à Presidência da República, também tem dados sobre os investimentos para o Mundial. A Controladoria, aliás, mantém um site visando à transparência dos gastos com o torneio. Segundo esse site, a Copa do Mundo de 2014 vai custar R$ 25,8 bilhões –R$ 200 milhões a mais do que os R$ 25,6 bilhões da matriz.

A divergência na conta dos órgão governamentais, entretanto, não é o único problema nas contas oficiais do custo da Copa do Mundo. Alguns gastos, como a construção de centro de treinamentos ou as estruturas temporárias para a Copa, não estão sendo computados. Outros estão subvalorizados.

Confira problemas nas contas sobre o custo da Copa
  • José Ricardo Leite/UOL
    Onde estão as estruturas temporárias?
    As contas do governo não levam em conta investimentos essenciais para a Copa. As estruturas temporárias que estão sendo instaladas no entorno dos estádios são um exemplo. A Fifa exige tendas, grades e outros equipamentos nas arenas. Só o governo do Rio de Janeiro gastou R$ 67 milhões com as estruturas temporárias do Maracanã. O investimento de nenhum estado consta da lista de custos da Copa. Foto: José Ricardo Leite/UOL
  • Fluminense/divulgação
    Centros de treinamento fora
    Para uma Copa do Mundo são necessários estádios e também centros de treinamento. Boa parte dos custos para construção ou reforma dos locais em que as seleções se prepararão para os jogos do Mundial foi pago com dinheiro público. Nenhuma conta oficial da Copa inclui esses investimentos. Só o governo federal pôs R$ 233 milhões em CTs que, aliás, nem serão todos utilizados na Copa. Foto: Fluminense/divulgação
  • Coutinho, Diegues, Cordeiro/DDG
    Valores desatualizados
    As contas da Copa dependem de informações fornecidas por diferentes órgãos de governo. Acontece que esses dados não são enviados com a frequência ideal. Resultado: há várias obras com custo desatualizado na lista de projetos do Mundial. A construção do Itaquerão, por exemplo, ainda custa R$ 820 milhões nas contas oficiais. Segundo o Corinthians, porém, ela já consumiu mais de R$ 1 bilhão. Foto: Coutinho, Diegues, Cordeiro/DDG
  • THOMAS HODEL/REUTERS
    Isenção fiscal contabilizada à parte
    Para receber a Copa e realizar todos os investimentos necessários para o torneio, o governo federal abriu mão de receber R$ 1,2 bilhão em impostos. Os benefícios fiscais foram concedidos à Fifa, suas parceiras e às construtoras de estádios. O TCU chegou a determinar que o valor fosse incluído na conta da Copa. Isso, porém, foi divulgado num documento à parte. Assim, ficou fora da custo oficial. Foto: THOMAS HODEL/REUTERS
  • Divulgação
    Obras para depois da Copa
    O custo oficial da Copa considera o que é necessário para o torneio e que, portanto, deve ficar pronto para o Mundial. Entretanto, alguns projetos que ainda estão na lista de obras do torneio não serão entregue a tempo. Enquanto não saem da lista, o custo deles segue na conta da Copa. O VLT de Cuiabá, que só ficará pronto em 2015, por exemplo, ainda acrescenta R$ 1,6 bilhão ao custo do torneio. Foto: Divulgação

O UOL Esporte procurou o Ministério do Esporte e a CGU para ouvir a posição dos órgãos sobre as contas do custo da Copa do Mundo. O Ministério do Esporte, responsável pela Matriz de Responsabilidades do Mundial, não respondeu até a publicação da reportagem.

Já o CGU informou que segue normas e leis para divulgar as contas da Copa de 2014. Declarou que recebe diretamente de órgãos federais responsáveis pelas obras do Mundial e de governos locais os valores divulgados em seu site. Ratificou que, apesar de divergências com o informado na matriz da Copa, o Portal da Transparência do Mundial é um "retrato fiel" dos investimentos para o Mundial.

"Por essa razão, consideramos que o Portal propicia sim transparência aos gastos públicos relacionados à Copa", complementou o órgão, em nota. "Entendemos que o Portal vem cumprindo a função de dar publicidade aos recursos federais que estão sendo aplicados na Copa e de despertar o controle social para a vigilância sobre os demais atores públicos (estados e prefeituras) e também dos privados, quanto à transparência na execução dos empreendimentos por eles administrados."

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