Luizão ganhou jogo da Copa com dica de malandragem de Arnaldo Cezar Coelho

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

O jogo contra a Turquia na estreia do Brasil na Copa de 2002 estava difícil. A seleção empatava em 1 a 1 quando, nos minutos finais, Luizão se enroscou com um zagueiro e caiu dentro da área. Teatro puro, mas o juiz marcou pênalti, convertido por Rivaldo. A vitória por 2 a 1 foi o início perfeito da caminhada que resultou no pentacampeonato. E o placar foi obtido com uma ajudinha do comentarista de arbitragem Arnaldo Cezar Coelho.

Luizão contou a história por telefone naquele mesmo dia para a mulher, Mariana Mesquita. "Se foi ou não foi eu não sei. Mas o juiz deu pênalti e expulsou o jogador. Ele (Luizão) me disse que uma semana antes o Arnaldo Cezar Coelho, um comentarista de arbitragem da Globo, foi dar palestra e tava explicando da malandragem do jogador brasileiro. Ele falou que na hora que sofreu a falta pensou na palestra e no que o cara disse e já se jogou na área."

Se a malandragem era aplaudida em campo, fora dos gramados preocupava a mulher de Luizão, que não esconde os ciúmes num mundo em que jogador de futebol tem status de superstar. Com o marido jogando a Copa no outro lado do mundo este sentimento ficou mais forte.

"50 dias longe, deu saudades. Você fica com ciúmes, teu marido no outro lado do mundo, atacante da seleção brasileira. A mulherada cai em cima, entendeu? Não tem jeito, você fica com ciúmes, tá. Ligava e perguntava "onde é que você tá, com quem você tá". Pegava o telefone do quarto do hotel. Aqui era dia (no Brasil), lá era noite então dava para pegar os horários bem que ele ia sair."

Para aumentar os ciúmes, Luizão era companheiro de quarto de Vampeta, um festeiro assumido. Por isso Mariana ficava com os olhos abertos. "Preocupava porque o Vamp é terrível. Amo ele de paixão, é um querido, mas é terrível."

Ela morria de vontade de estar perto do marido dividindo as emoções do Mundial, só que havia uma prioridade maior: Yasmin. A menina estava com quatro meses e não havia a menor possibilidade de viajar com o bebê. Deixar a criança no Brasil, jamais! Restou assistir à Copa pela televisão e torcer pelo o sucesso do marido e da seleção.

E se a Copa teve Ronaldo como o melhor de todos, Mariana ressalta que na estreia o protagonista foi Luizão. Ela insistia na entrada do atacante. "Eu falava "põe o Luizão". Eles já tinham perdido inúmeros gols. O Luizão não é habilidoso, mas sobrou na área ele é matador".

No final não foi bem com um gol que o marido mudou a história da partida. O jogador sofreu falta fora da área e mergulhou dentro enganando o juiz que marcou pênalti. "Ele foi um coadjuvante na seleção, mas nessa cena foi protagonista."

Falando em telefone, Mariana recorda de outra maneira de marcar de perto o atacante. Ela conta que a filha acordava com cólica no meio da noite e ligava.

Mas a cobrança para que andasse na linha não foi nem de perto o tema predominante nas conversas. Os votos de sorte eram bem maiores. A mulher também repetia alguns rituais conhecidos pelo casal como falar do banho de sal grosso que Luizão tomava antes de todas as partidas e da vela que Mariana acendia antes do apito inicial. A relação era tão forte que mesmo em dias que ambos estavam brigados o jogador não pisava no gramado sem antes ligar para a mulher e ouvir um boa sorte de sua boca.

"Mesmo a gente sem se falar eu falava com Deus. Dizia boa sorte, tua vela tá aqui. Não tem como, isso é muito maior". 

Durante a Copa não era somente o telefone do atleta que tocava. O Mundial é tão especial que os amigos e parente ligavam para conversar e parabenizar Mariana pelo desempenho da seleção. Muito antes mesmo de fazer Mulheres Ricas, programa da Band, ela teve dias de celebridade com pessoas puxando papo no supermercado ou no prédio.

E a trajetória que levaria Luizão para a Copa foi consolidada em 14 de novembro de 2001, data em que fez 26 anos. Neste dia o Brasil jogou contra a Venezuela pelas eliminatórias, corria o risco de não se classificar e havia descrença da torcida com a seleção. Mas a solução dos problemas veio rapidamente e passou pelos pés do jogador.

No primeiro gol da partida, um ensaio da Copa. Luizão contou com ajuda da arbitragem que não marcou falta de Edílson no zagueiro venezuelano. A bola sobrou limpa o atacante que driblou o goleiro antes de marcar. Depois o jogador recebeu na entrada da área e rolou rasteiro no canto direito. Em 18 minutos ele espantava todos os fantasmas da seleção e ganhou a confiança de Felipão.

No dia da lista dos selecionados Luizão jogava pelo Grêmio e estava em Porto Alegre. "Quando saiu na televisão a convocação eu abracei, beijei. Eu fiquei muito feliz, muito feliz por ele. Fiquei muito impressionada pela atitude do Felipão. Ele não esqueceu o Luizão."

Mariana lembra que o marido ficou cinco meses parado por causa de uma lesão e se desmancha em agradecimentos a Luiz Felipe Scolari. "Eu sou família Scolari totalmente. Eu ouço os jogadores falando no churrasco da minha casa. Eles falam com amor".

A mulher lamenta não poder ter participado da festa da Copa, mas nos churrasco de boleiros compartilha de um pouco daquele espírito. Como Vampeta se dirigindo ao marido como Sapo, apelido carinhoso. "Eles chamam o Luizão de Sapo há muito tempo. Ele atende até hoje. O Vampeta diz: "Sapinho, ô sapinho"."

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