Geração perdida deixa Brasil aquém de força sonhada para 2014

Do UOL, em São Paulo

Quando deixou o comando da seleção, em 2002, Luiz Felipe Scolari aparentemente deixava um legado e tanto. Ronaldinho galgava para virar protagonista, Kaká era uma grande promessa e Adriano e Robinho apareceriam bem nos meses seguintes. Tudo deu errado para a geração que substituiria Ronaldo e Rivaldo. Nesta quarta, na convocação para a Copa do Mundo que disputará em casa, o mesmo técnico pode cravar o fim das esperanças de um grupo de jogadores que nunca conseguiu cumprir o prometido pela seleção brasileira, e que deve deixar Neymar e companhia sozinhos para o desafio de jogar em casa. 

De todos, o único que tem chances de ir à Copa do Mundo é Robinho, reserva no Milan que foi lembrado por Felipão no fim do ano passado e decidiu o amistoso disputado contra o Chile, no Canadá. O atacante brigaria por uma vaga na reserva de Fred ou por um espaço já muito disputado no meio-campo, com Willian e Ramires bem cotados.

Ainda assim, Robinho iria à Copa como um coadjuvante de Neymar, Paulinho e Oscar, todos mais jovens que ele. Os novatos, que poderiam ir à Copa dividindo o peso com uma geração mais experiente e vencedora, foram afetados pela década "perdida". O ex-santista é só um dos jogadores que, nos últimos anos, ensaiaram levar a seleção a grandes glórias, embora não tenha sido a maior esperança verde-amarela a falhar.

Esse papel coube a Kaká e Ronaldinho Gaúcho, últimos brasileiros a serem eleitos melhores do mundo pela Fifa, em 2007 e 2004/2005, respectivamente. Ambos estiveram na Copa do Mundo de 2002, quando Ronaldo e Rivaldo brilharam, e àquela altura pareciam fadados ao protagonismo na seleção.

Em 2006, teriam ao seu lado, além do próprio Fenômeno, Robinho e Adriano. O "Imperador" era destaque da Inter de Milão, cobiçado por vários gigantes europeus e credenciado pelo sucesso que foi sua participação na conquista do Brasil na Copa das Confederações de um ano antes.

A experiência do quadrado mágico fracassou, o Brasil caiu nas quartas diante da França e a geração sofreu seu primeiro baque, acusada de descaso com a seleção. Ronaldinho e Adriano entrariam em um espiral de decadência. O primeiro perambulou por Barcelona e Milan durante os quatro anos seguintes, sempre sem brilhar e criticado pelo comportamento longe dos gramados.

Adriano fez pior. Com problemas pessoais, viveu seus melhores momentos no Brasil, por São Paulo e, especialmente, Flamengo. Sua falta de constância e o comportamento errático, porém, o tiraram da lista de Dunga, que foi à África do Sul em 2010 apostando em Kaká e Robinho.

A dupla, por sua vez, fracassou junto com a seleção, iniciando seu drama particular. Kaká sofreu com lesões, ficou três anos com pouco espaço no Real Madrid e nunca voltou a apresentar seu melhor futebol. Robinho, no Milan, foi perdendo espaço aos poucos, e hoje mal é utilizado por Seedorf no Campeonato Italiano.

O fracasso do quarteto que despontava em 2002 explica grande parte da seleção atual, que deposita toda a maior parte da sua confiança em jogadores bem distantes dos 30 anos. Não por acaso, ao longo dos 12 últimos anos, Ronaldinho, Kaká, Robinho e Adriano foram, quase sempre nessa ordem, nomes que voltaram à pauta dos treinadores como um fio de esperança.

Felipão ao que tudo indica, colocará um ponto final nas expectativas. Em 2018, Robinho será o mais novo dos quatro, com 34 anos de idade. As chances de uma ida à Rússia se restringiriam a um papel pequeno diante daquele que deve ter a geração atual. A pitada de experiência que poderia ser útil em Mundial em casa deve ser dispensada pelo treinador, e não por falta de testes.

Como as estrelas da geração perdida falharam na seleção?
  • Folhapress
    Ronaldinho Gaúcho
    Foi bem em 2002, mas não brilhou como estrela em 2006. Não convenceu Dunga e perdeu a Copa do Mundo seguinte, na África.
  • Juca Varella / Folhapress
    Kaká
    Novato em 2002, sofreu com lesões nas duas Copas seguintes e perdeu espaço por isso, inclusive na sua carreira em clubes.
  • AP Photo/Marcelo Hernandez
    Robinho
    Foi a 2006 como reserva de luxo e não fez a diferença. Em 2010, como estrela, falhou de novo, e agora pode ter sua última chance.
  • AP Photo/Roberto Candia
    Adriano
    Imperador brilhou em 2004 e 2005, mas começou a cair na carreira a partir da Copa da Alemanha. Hoje, está sem clube e afastado.

Ronaldinho Gaúcho enfrentou Inglaterra, Bolívia e Chile, enquanto Kaká foi aos jogos diante de Itália e Rússia. Nenhum dos dois convenceu Felipão, que deixou ambos assistindo à Copa das Confederações de casa e levou a taça com os garotos em quem apostou.

A chance de Robinho veio no fim do ano passado. O atacante foi bem, mas a concorrência pode tirar do ex-santista a chance de uma terceira Copa. Adriano, por último, não é lembrado na seleção desde os tempos de Dunga, mas seu retorno foi ensaiado a cada tentativa de volta aos gramados, seja na Roma, no Corinthians ou no Atlético-PR, mais recentemente.

O fracasso da geração fica ainda mais evidente com a avaliação das promessas da base da seleção brasileira. Nenhum jogador nascido a partir de 1982 (data de nascimento de Kaká) foi eleito melhor do mundo pela Fifa. Neymar, de 1992, é a maior esperança que esse cenário mude.

Entre os dois camisas 10 do Brasil em tempos recentes, pereceram Diego, Carlos Alberto, Daniel Carvalho, Dudu Cearense, Kleber e Anderson, todos destaques do Brasil em títulos ou boas campanhas em Mundiais de base. Sem uma turma "intermediária", deve sobrar para Neymar e companhia o papel de "substituir" Ronaldo e Rivaldo. 

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