Ideia de apoiar a seleção juntas divide torcidas gays

Vanessa Ruiz

Do UOL, em São Paulo

Na semana passada, o UOL Esporte publicou a notícia de que a torcida LGBT Gaivotas Fieis, do Corinthians, adotará o nome Gaivotas do Brasil durante a Copa do Mundo no intuito de ampliar o alcance da luta contra o homofobia no futebol. A iniciativa dividiu outros grupos de torcedoras e torcedores gays que a reportagem contatou ao redor do Brasil em razão do posicionamento político de alguns deles em relação ao evento.

Em Porto Alegre, a Queerlorado, do Internacional, é uma das que diz apoiar a iniciativa das Gaivotas Fieis: "Achamos muito positiva a ideia de ampliar nacionalmente a abrangência da torcida. Estamos dispostos a construir juntas e juntos este movimento". A única ressalva seria quanto ao nome: "Justamente pelo caráter e amplitude, precisaríamos dialogar sobre um nome que reflita esta diversidade, como BrasilQueer", sugerem.

A diferença entre a Queerlorado e as Gaivotas Fieis é que o grupo gaúcho se posiciona menos como uma torcida física e mais como um grupo de ativismo online. Por isso, reforçam que não existe a intenção de estarem presentes nos estádios. "Cada um dos membros do Queerlorado exerce sua militância de formas diferentes e até mesmo em locais diferentes", disse o grupo em nota assinada pelos moderadores da página, Fergs Heinzelmann, Leca Heinzelmann, Coiote Flores, Diego Dresch e Luísa Stern.

A torcida Palmeiras Livre também acredita em um possível alinhamento: "Entendemos que se trata de uma iniciativa muito importante para que aproveitemos o momento da Copa e discutamos as questões LGBT, além de machismo e racismo dentro do futebol. Esse tabu precisa ser quebrado e as bandeiras, levantadas", diz uma das fundadoras do grupo criado em abril do ano passado, Thais Nozue.

Já em Belo Horizonte, o posicionamento das torcidas Galo Queer, a primeira da "nova geração" de torcidas LGBT, e Cruzeiro Maria é praticamente o mesmo. Ambas não pretendem associar-se às Gaivotas do Brasil por um motivo simples: são contra a realização da Copa do Mundo da FIFA no Brasil. "Somos contra as violências da FIFA e a forma pela qual a Copa está sendo imposta no Brasil, com despejos, assassinatos e restrição de direitos, à revelia das grandes manifestações contrárias a ela. Por isso, não temos o intuito de utilizar o mega evento para ganhar mais visibilidade. Ao contrário, apoiamos os movimentos de resistência ao Mundial", disse um dos membros da Galo Queer, que pediu para não ser identificado desta vez por conta das ameaças de violência que recebeu no passado.

A Cruzeiro Maria, num parecer semelhante ao da Galo Queer, não criticou o movimento das Gaivotas do Brasil mesmo optando por não participar dele: "Nós obviamente apoiamos até certo ponto porque é sempre um movimento necessário colocar em pauta a discussão sobre homofobia e preconceito no futebol. Achamos que é válido, mas não pretendemos fazer porque acreditamos em movimentos de âmbito local, lidando com a realidade local", disse um dos moderadores da página no Facebook, que pediu para não ter seu nome publicado.

As torcidas gays que surgiram no Brasil a partir de 2013 são compostas por fãs inveterados de equipes de futebol, mas têm um componente ideológico forte, o que explica o posicionamento da Galo Queer e da Cruzeiro Maria. Contatá-las não foi fácil. Um ano após o boom dos grupos na internet, muitos dos fundadores acabaram se recolhendo diante de seguidas ameaças de morte. 

Com ou sem o frenesi em torno da Copa, algumas delas têm projetos para passar a frequentar estádios, no entanto. Caso da Palmeiras Livre, que pretende começar antes mesmo do Mundial, e da Cruzeiro Maria, ainda sem data para colocar o plano em prática.

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