Vale a pena "cota" pra jogador jovem na seleção brasileira na Copa?

José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

  • Zeca Guimarães/Folha Imagem

    Ronaldo ainda bem jovem, com 17 anos na Copa de 1994

    Ronaldo ainda bem jovem, com 17 anos na Copa de 1994

Levar o que há de melhor para ter força máxima na conquista do título ou usar pelo menos uma das 23 vagas com o intuito de "cultivar" uma esperança para ela estar mais experiente nas Copas seguintes? Essa é uma indagação que um técnico da seleção brasileira ou outra pode ter na sua convocação final para o Mundial. Afinal, o que vale a pena?

Em 1994, ficou famosa a convocação de Ronaldo aos 17 anos por Carlos Alberto Parreira para fazer parte do grupo que conquistou o tetra. Depois, ele participou de três Copas seguintes e se tornou o maior artilheiro da história do torneio. Exemplo similar ocorreu com Kaká, levado com 19 anos por Felipão em 2002. Depois, jogou outras duas Copas como protagonista.

Ronaldo não entrou um minuto sequer no seu primeiro Mundial. Já Kaká atuou poucos minutos em um jogo contra a Costa Rica, com a seleção já classificada.

Depois disso, no entanto, poucos jogadores com potencial para amadurecer foram chamados. O mais novo jogador da última Copa, em 2010, foi Ramires, que tinha 23 anos. Na época, o técnico Dunga era pressionado por levar os jovens Neymar, então com 18 anos, e Paulo Henrique Ganso, com 20. Mas o treinador optou pela coerência e levou o que achava melhor.

Anos depois, ao explicar a opção, disse que o caso dos Meninos da Vila era diferente do que de Ronaldo em 1994. Ainda não os via com potencial para a seleção e não se guiou por uma preparação para o futuro.  "Eu nunca pensei nesse aspecto. Mas se for claro, o Ronaldo já era goleador no Cruzeiro, artilheiro do Campeonato Brasileiro. [O Ganso] estava machucado, vinha de cirurgia. O Neymar só veio a ser titular faltando mês antes do nosso último amistoso em Londres. Até ali ele não era titular", falou em entrevista ao canal Esporte Interativo, cerca de um ano depois da Copa.


Emerson Leão é alguém que vivenciou essa situação. Em 1970, foi convocado com 20 anos por Zagallo mais com o intuito de ser preparado para Copas futuras. Acabou sendo titular nas duas seguintes, em 74 e 78, e foi para a de 86 já veterano, com 38 anos. Ele é enfático em dizer que um técnico de seleção brasileira deve pensar em vagas para jovens com potencial no futuro e diz que com ele isso funcionou para chegar mais maduro nas edições seguintes. E diz que pior do que isso é levar jogador veterano que terá o Mundial como fim da linha.

"Se o jogador muito jovem tiver bola pra cacete, vale a pena. Funcionou pra mim. Em 74 eu era um veterano de seleção brasileira; já tinha 4 anos e havia jogado não sei quantos jogos. Se o cara tiver bola, é válido. Depois da Copa, muitos que estão lá não vão mais pertencer à seleção brasileira. O nosso goleiro (Julio Cesar) e centroavante (Fred), por exemplo, não vão mais jogar depois da Copa. E o cara do banco já vislumbra que o lugar será dele logo na sequência", falou.

"Agora vou dizer o contrário pra você. O que adianta um experiente, como eu fui na Copa de 86, com 38 anos, e o cara (Telê Santana) não me colocou? Se eu levar um cara de 38 anos, ele tem que jogar, não vai para ver a Copa de perto, entendeu? Eu acho isso um erro maior do que levar um jovem, porque o jovem vai dar continuidade, e o de 38 anos parou ali, tanto é que depois que eu voltei da Copa de 86 joguei mais 3 meses", continuou.

Há quem tenha passado pela mesma situação que Leão, mas que não entenda que ir tão jovem para uma Copa signifique uma boa preparação para outras. O hoje técnico Silas foi com 20 anos para o Mundial de 86 depois de despontar no time dos Menudos do São Paulo. Mais tarde, mais consolidado, foi chamado para a Copa de 90 como o camisa 10 da equipe de Sebastião Lazaroni.

Ele entende que um jogador só deve ser chamado muito jovem para uma Copa se o técnico acreditar em seu potencial para fazer parte do grupo, independentemente do futuro. Não se deve dar uma vaga como "cota" para preparar jovens.

"Acho que só se o cara for um craque, como o Neymar. Você pode até ir para a Copa, mas de repente vai lá e nem joga, como foi com o Ronaldo em 1994. Tudo bem que ele é o maior artilheiro da história das Copas, mas quem entrou durante um jogo (dos reservas) foi o Viola. Acho que vale se for pro cara jogar, dar experiência pra ele em jogos fáceis. Mas o cara pode pegar experiência em outras competições internacionais, como Libertadores, Copa América, Olimpíada", opinou.

Entre as opções certas de Scolari, o mais novo é Bernard, com 21 anos. Mas não é uma aposta para o futuro, e sim um nome consolidado para o treinador, vide que já fez parte da Copa das Confederações do ano passado.

Entre os que correm por fora, aparece o zagueiro Marquinhos, do PSG. Ele tem 19 anos, foi chamado para um amistoso e pode ter o perfil certo para uma vaga de preparação para o futuro. Silas diz acreditar que nem ele seria uma aposta a ponto de essa vaga de "preparação" valer a pena. Já Leão aponta outros nomes.

"Não, hoje eu acho que não tem ninguém (com perfil pra valer a pena apostar), até porque o Marquinhos é zagueiro, e o zagueiro tem que estar amadurecido pra ir a uma Copa do Mundo. Você não vai enfrentar um jogador amador lá, vai ter pela frente o melhor do mundo, então eu acho que tem que dar tempo mesmo pro cara", falou Silas.

"Hoje não levaria ninguém, porque não dá mais tempo, tem que chamar alguém que esteja jogando. Tem um goleiro que saiu há uns dois ou três anos, o Neto ,que foi jogar na Itália. Pintou bem no ano passado também aquele Marcelo Cirino, do Atlético-PR. Já era para ter chamado aquele menino alguns jogos para ver se dava", declarou Leão.

Pelé é o jogador mais jovem da seleção brasileira a participar de Copas do Mundo, com 17 anos em 1958. Antes disso, havia sido campeão paulista com o Santos e a artilheiro de duas edições do Campeonato Paulista. Já fazia parte da seleção desde 1957.

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