Torcedores da Argentina são os mais supersticiosos da América Latina

Do Clarín, em Buenos Aires (Argentina)

  • AP/Victor Caivano

    Torcida argentina é a que mais faz rituais em jogos de sua seleção, revelou pesquisa

    Torcida argentina é a que mais faz rituais em jogos de sua seleção, revelou pesquisa

Um em cada quatro torcedores pratica "rituais" para ajudar a seleção argentina. Repetir a roupa e ver as partidas no mesmo lugar e com as mesmas pessoas são os mais comuns. Além disso, eles são os que reagem de maneira mais emocional na região.

O futebol é um pesadelo. Temos que aguentar o nervosismo de cada partida, duvidar do juiz até quando ele acerta, ficar bravos com os jogadores se as coisas não dão certo e cair em depressão se o time vai mal.

E ainda por cima, cumprir as superstições. Colocar a camisa velha que sempre traz sorte ou bloquear a saída da sala a qualquer um porque "estamos ganhando" e agora não podemos modificar nada.

Uma pesquisa realizada em cinco países da América Latina, e divulgada na primeira semana de março, confirmou que os argentinos são os mais supersticiosos e os mais emocionais da região.

Messi

Não paramos de sofrer. Mas mesmo assim, adoramos futebol. E não o trocaríamos por nada no ano em que o Messi pode chegar a se consagrar jogando a Copa no Brasil.

O trabalho, realizado pela multinacional P&G junto com o Instituto Ipsos a partir de 1.500 casos, para entender os hábitos, comportamentos e crenças dos torcedores argentinos, revelou que no país um de cada quatro torcedores admite praticar "rituais" para ajudar a sua equipe.

Rituais

Nesse contexto, 24 por cento dos argentinos só lavam a camisa da seleção quando a Copa termina, para não interromper a fase boa. No caso dos brasileiros, essa prática é cumprida só por um de cada dez torcedores. Na Argentina, além disso, um terço dos torcedores reconhece que assiste aos jogos sempre com as mesmas pessoas e no mesmo lugar.

O estudo acrescenta: sete de cada dez argentinos admitem que xingam para descarregar a tensão durante os jogos. Essa proporção é parecida com a da torcida chilena, mas está muito acima daquilo que brasileiros, colombianos e mexicanos dizem que fazem.

Ao mesmo tempo, 20 por cento dos que apoiam a equipe de Messi admitem não sentir remorsos se tiverem que xingar em companhia de terceiros durante o jogo. Neste item, a diferença é radical: só 7 por cento dos brasileiros falam palavrões livremente por causa de raiva, sem sentir culpa.

'Chifrinhos'

Supersticiosos, esquentados e grosseiros. Os exemplos de superstição, dentro e fora do estádio, são inesgotáveis. O músico argentino Índio Solari reconheceu numa reportagem: "Quando o rival ataca o Boca, eu faço chifrinhos".

Alguns rituais chegam perto do absurdo: em sua época de jogador do Estudiantes, Carlos Bilardo se aproximava todos os sábados dos trilhos para ver o trem das 18 horas passar, um dia antes de cada partida. Além disso, nas Copas em que dirigiu a seleção, o 'Narigón' proibia seus jogadores de comer frango. Acreditava que dava "zica".

Psicanálise

Tem lógica pensar que um terço na mão ou repetir o lugar na sala pode mudar um resultado esportivo? "Quanto maior é a paixão, maior é o grau de irracionalidade, de pensamento mágico", analisa o médico psicanalista Marcelo Halfon, da área de Esportes da Associação Psicanalítica Argentina.

"Isto acontece também quando entra em jogo o imaginário da identidade, e ainda mais com a seleção, onde muitos sentem que a identidade nacional está em disputa", acrescenta. Para Halfon, "diante do incerto as pessoas buscam algum tipo de garantia, mesmo que seja imaginária" e como no futebol há muitos símbolos que mobilizam, aumenta a necessidade de "estar aí, de se juntar, de apoiar os onze que estão dentro de campo seja como for".

Barba

As promessas entram no mesmo terreno. A investigação de P&G concluiu que 43 por cento dos argentinos estariam dispostos a tirar a barba "de anos" e 27 por cento a "fazer um corte de cabelo radical" para ajudar a causa "Argentina campeã mundial".

Fé religiosa

O sociólogo Gastón Delbono, professor na Universidad Abierta Interamericana, vê as superstições como crenças próximas da fé religiosa. Para ele, elas mostram a necessidade de "integrar-se e encontrar estabilidade".

Explica: "Sendo um simples espectador você não pode se integrar. Por isso, o torcedor argentino busca participar. Nossa chance de influir no resultado de um jogo é nula, mas acreditamos que se a gente se vestir de determinada maneira nós podemos fazê-lo. Há uma necessidade de fazer parte de um fato coletivo que nos dá coesão, estabilidade em um mundo em permanente mutação".

A irracionalidade conta. "Todos dizem que a violência está errada, mas se você for ao estádio você vê que os torcedores das cadeiras cativas cantam com a torcida organizada. O irracional muitas vezes brota", diz. Por isso, não restam dúvidas. Este ano tem que ser o do Messi, o do Agüero e o do Sabella. Nós, argentinos, merecemos ser campeões do mundo. Vamos nos preparar para rezar antes de cada jogo, vamos aquecendo os dedos para mantê-los cruzados se tivermos que definir nos pênaltis e, se precisar, não vamos lavar roupa durante toda a Copa. Tudo serve.

Ou por acaso não estamos dispostos a fazer o necessário pela Argentina?

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