O que está por trás de um post do São Paulo celebrando a Copa?

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo*

  • Reprodução

    Mensagem foi publicada na terça-feira. Em outro momento, não teria sido aceita pela diretoria

    Mensagem foi publicada na terça-feira. Em outro momento, não teria sido aceita pela diretoria

O veto ao Morumbi para a Copa do Mundo de 2014 resultou em diversas críticas do presidente Juvenal Juvêncio à CBF de Ricardo Teixeira e uma ferida aberta na diretoria do São Paulo. O clube, no entanto, não havia se manifestado sobre a realização da competição no Brasil desde o início das principais obras para o evento. Na última terça-feira, a história mudou: o São Paulo usou o Twitter para publicar mensagem em apoio à Copa. Isso só aconteceu devido à formação de uma aliança entre o candidato à presidência da situação, Carlos Miguel Aidar, e o virtual novo presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, que passa pela decisão de apoio de Juvenal Juvêncio e acaba na escolha do Morumbi para sediar o último amistoso da seleção antes da Copa.

"#100DaysToGo #100diaspraCopa CTs do Tricolor já preparados, e em junho o Brasil faz no #Morumbi seu último amistoso antes do mundial!", escreveu o perfil do São Paulo, na última terça-feira. 
 
O pedido para que o clube falasse sobre o tema partiu do departamento de comunicação da Fifa (Federação Internacional de Futebol) e foi enviado ao departamento de comunicação do São Paulo, e também para outros clubes. Corinthians e Fluminense foram outros que usaram a mesma rede social para falar sobre a contagem regressiva de 100 dias, a partir daquela data, para o início da Copa de 2014. Não foi preciso haver um debate para que se autorizasse a publicação da mensagem, mas ato semelhante teria sido vetado pela diretoria se sugerido pela Fifa até o fim de 2013, por exemplo - o São Paulo faz a ressalva que, no fim do ano passado, o Comitê Organizador Local realizou o lançamento do catálogo de CTs para a Copa no CT da Barra Funda, do clube, que será usado pela seleção dos EUA para se preparar para o torneio. A Colômbia ficará no CT de Cotia.
 
Troca de apoios
 
Aidar conseguiu algo que o candidato da oposição, Kalil Rocha Abdalla, tentava: o apoio de Del Nero para se eleger no São Paulo. O sucessor de José Maria Marin na CBF detém o controle dos votos de pelo menos cinco conselheiros vitalícios do clube, além de estar a menos de dois meses de se transformar no homem mais poderoso do futebol brasileiro. Abdalla, que é advogado como Aidar, conhece Del Nero desde a década de 70. Porém, a proximidade do candidato de Juvenal, cujo escritório advogou durante anos para a FPF – da qual Del Nero ainda é presidente – e advoga para a CBF no caso Héverton, levou a melhor. 
 
Até o fim de 2013, Juvenal Juvêncio afirmava que não daria apoio a Del Nero ou a um possível candidato de oposição – Francisco Novelletto não havia se lançado, dentro de um bolo do qual o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez fazia parte. Porém, Juvenal mudou de ideia. O estreitamento da relação entre Aidar e Del Nero fez com que o atual presidente do São Paulo fosse o primeiro a manifestar por escrito a intenção de votar no candidato de José Maria Marin para a sucessão. 
 
Marco Polo Del Nero
Marco Polo Del Nero
 
Neste jogo político, o amistoso entre Brasil e Sérvia, marcado para o dia 6 de junho, foi levado para o Morumbi. A partida, última da seleção de Luiz Felipe Scolari antes da Copa do Mundo, tem como objetivo selar a aproximação entre São Paulo e CBF. Na data do jogo, Del Nero já será o presidente da entidade, e Carlos Miguel Aidar será o mandatário são-paulino se eleito.
 
Briga resultou no Itaquerão
 
A história que deixou o Morumbi fora da Copa de 2014 incomoda o São Paulo até hoje. O ex-governador José Serra propôs que o torneio tivesse abertura na capital paulista e final do Rio de Janeiro. A partir de então, Juvenal Juvêncio e Ricardo Teixeira iniciaram uma aproximação depois de mais de duas décadas de atritos entre clube e CBF.
 
As ressalvas apareceram enquanto Fifa e CBF negociavam com o São Paulo e delimitavam qual teria de ser a reforma para que o Morumbi se tornasse uma das principais arenas do evento. O clube conseguiu garantias financeiras para apresentar um projeto de reforma avaliado em R$ 265 milhões, que não atendia a todas as exigências da Fifa. O projeto orçado pela entidade previa gastos de R$ 630 milhões, que não poderia ser avalizado pelo São Paulo. Como o governo do estado não falava em investimentos públicos em estádios até então, não houve acordo e o Morumbi foi retirado da lista de sedes da Copa.
 
Durante esse processo, quando já havia desacordo de valores entre São Paulo e Fifa, houve a negociação dos novos direitos de transmissão televisiva para os clubes e Juvenal Juvêncio tomou decisão que irritou a CBF: ficou ao lado do presidente gremista e líder do Clube dos 13 Fábio Koff, e lutou contra a dissolução da entidade. Na contramão, Andrés Sanchez liderou a ruptura e se aproximou de Ricardo Teixeira. Mais tarde, o Corinthians conseguiu viabilizar projeto em Itaquera para erguer o estádio que abrigaria a abertura da Copa. Andrés, depois, tornou-se diretor de seleções da CBF.
 
Neste momento, em março de 2014, o São Paulo está mais próximo do que nunca da CBF. As novas pessoas que lideram o jogo político de cada lado fizeram com que as partes fossem de inimigas a melhores amigas. No dia 16 de abril o São Paulo deve eleger seu novo presidente, talvez até no mesmo dia em que Del Nero será aclamado novo presidente da CBF. Aidar e Del Nero se apoiam nas duas frentes, e agora dão as primeiras demonstrações públicas da nova relação.
 
*Atualizado às 10h12

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