Ministro do Esporte critica imprensa e defende a Fifa

Luis Augusto Símon

Do UOL, em São Paulo

Aldo Rebelo, Ministro dos Esportes, não está preocupado com pesquisas quem mostram declínio da aprovação popular em relação à Copa do Mundo no Brasil. Para ele, os números refletem uma campanha dos principais meios de comunicação contra o evento. "Se dependesse dos críticos, a Copa seria na Inglaterra", diz Aldo, que nunca abandona um discurso nacionalista. Não se sente atraído pelo que chama de "modismos" como a globalização.

Em uma conversa de 25 minutos, após uma palestra em São Paulo, ele conta ao UOL Esporte sobre o otimismo com a realização da Copa do Mundo na metade do ano.

A última pesquisa mostrou que apenas 52% da população apóia a Copa. Como o senhor analisa isso?
É uma pesquisa submetida a uma campanha que os principais veículos de comunicação fizeram contra a Copa. Não se fez campanha a favor da Copa. A Copa se mantém pelo prestígio que o futebol tem no mundo todo.

Que tipo de campanha?
Disseram que é a Copa da corrupção, que é a Copa do superfaturamento, que será desviado dinheiro da saúde e da educação, as pessoas. E a Copa ainda resiste.

O governo está  perdendo a guerra da comunicação?
Não. A Copa tem uma força muito grande, quando se demonstrar sua viabilidade, que ela não é apenas um evento esportivo, mas também econômico, que trará muitos investimentos privados, vai melhorar o turismo, melhorar a economia, as pessoas vão sentir e mudar de ideia.

E porque se deve acreditar nisso?
É só olhar os números divulgados por consultorias privadas como a Getúlio Vargas. Não são números do governo. Serão criados 3,6 milhões de empregos, mais que a população do Uruguai. Haverá um acréscimo de 0,4% no PIB até 2019. Para cada real público, o setor privado investirá 3,4 reais. O turismo vai crescer e haverá melhoria no futebol, com os centros de treinamento que estão sendo construídos.

O senhor, que é nacionalista, não se incomoda com tanta intromissão da Fifa? Até cerveja em estádio foi liberada.
Olha, tentam pintar a Fifa como se fosse a Otan do futebol. Não vejo assim. Ela tem seus interesses privados, sim, mas há um contrato a ser seguido. É como na F-1, com seus interesses comerciais  preservados. Houve uma ocasião em que o governo editou medida provisória para permitir propaganda de cigarros nos carros, o que era proibido no Brasil. Mas, se dependesse dos críticos, sabe como a Copa seria realizada?

Não.
Na Inglaterra. Ou em São Paulo. Aliás, se fosse uma Copa só em São Paulo, seria boa, mas não seria a Copa do Brasil.

Mas é necessário ter jogos em Cuiabá, Manaus e Brasília?
Seria excluir uma parte representativa da identidade e da cultura do Brasil. Nenhum lugar do mundo tem um bioma como o Pantanal, uma cidade como Cuiabá com mais de 300 anos, um estado forte na agropecuária, responsável por mais de 60% do superávit brasileiro. O Mato Grosso pode ficar fora da Copa? Não pode.

Mas o senhor justifica jogos nesses locais, mesmo se nunca mais houver jogos nesses estádios, mesmo que fiquem vazios?
Não, não justifico não. Mas não é isso que vai acontecer. Em 2 de abril, vai ter Santos e Mixto. Como fazer um jogo desses sem a Arena Pantanal? Quando o Nacional, de Manaus, enfrentou o Vasco no ano passado, o governador estava aperrreado com segurança porque o estádio era de 5 mil pessoas. Palmeiras e ABC no Frasqueirão foi com risco de acidente.

Mas é um jogo na vida e outro na morte...
E os teatros? No mundo todo foram construídos com dinheiro público e não tem peça todo dia. São importantes para a cultura. E os estádios podem melhorar o nível do futebol nesses estados.

Como?
O Luverdense vai jogar em Cuiabá na Copa do Brasil. Amazonas pode retomar o clássico Nacional x Rio Negro, centenário. 

Não vão ser elefantes brancos como em Portugal, após a Eurocopa de 2004?
Imagina, o Brasil tem 200 milhões de habitantes. O espaço próximo da Areia das Dunas em Natal valorizou muito. Todo mundo quer ter uma farmácia, um empreendimento perto dali.

Mas é difícil acreditar que um estado que tem campeonato com média de público de 600 pessoas possa ter eventos para um estádio com mais de 40 mil lugares.
No interior de São Paulo e Rio também tem público de 600 pessoas.

Sim, mas não tem estádio da Copa lá.
Mas vai mudar. Os estádios farão com que o público aumente como foi antigamente. Estádios lotavam.

O senhor comparou o atraso dos estádios ao atraso das noivas. Fala do complexo de vira lata dos críticos. Não deveria utilizar argumentos mais técnicos?
Sou admirador de Nelson Rodrigues. Ele argumenta com as idéias, sem tecnicalidade, sem números. Mas o orgulho nacional legítimo, a confiança na  capacidade de nosso país também são argumentos a ser levado em conta, sim. E organizadores da Copa levaram isso em contra, muito mais do que se imagina.

Como assim?
Os organizadores olharam para o nosso passado e viram o país que construímos. E viram que temos capacidade de organizar a Copa.

E os aeroportos?  Apenas dois vão ficar prontos. Isso não cria descrédito?
Não. Eles nem integram os encargos e exigências da Fifa. As obras aeroportuárias são necessárias para o Brasil e não para a Fifa. A economia está crescendo e os aeroportos precisam melhorar para atender a demanda. Em São Paulo, Cumbica já melhorou bastante. Viracopos está em obras. O maior investimento de Brasília é no aeroporto. Em Várzea Grande, vizinho a Cuiabá, o aeroporto está tudo em obras. Se não ficar pronto em junho, fica em agosto. Se não ficar pronto para a Copa, fica para depois, mas a maioria fica pronto pra a Copa.

Você gosta de ver o futebol brasileiro nas mãos de Marin e Del Nero?
Eu vivo uma situação que não me permite dar minha opinião. Mas lembremos que nos anos 90, quando veio a grande onda neoliberal, se dizia que era necessário liberar o esporte da tutela do estado, como se ele fosse cair na mão de anjos. E não foi o que aconteceu. Quando o Estado reduz sua influência, o seu papel é ocupado pelo Mercado. E nem sempre é pelo melhor do mercado, pode ser também pelo pior, pelo instinto predatório. Infelizmente foi o que tivemos no futebol.

Mas se você tivesse o direito de escolher o presidente da CBF, Marin e Del Nero teriam chances?
Quando me derem essa atribuição, pensarei no assunto.

O senhor fala no jeito brasileiro de futebol, no país que construímos. Esse nacionalismo não o transforma em um homem antiquado, fora de moda?
Posso estar fora de moda, mas não me sinto mal com isso. Me sentiria mal acompanhando certos modismos. Não fui eu que inventei a expressão, foi Gilberto Freyre que falou sobre o jeito brasileiro de jogar, isso está em Nelson Rodrigues e Mário Filho. Os clássicos da nossa sociologia viram no futebol uma metáfora do homem brasileiro.  Um inglês que jogou aqui disse que as regras eram iguais, mas que nós jogávamos outro esporte, não era só futebol.

Mas não falo só do futebol. O senhor tem um discurso ufanista, como o Pacheco. Sente-se identifcado com o mundo globalizado ou vai ser sempre um retirante alagoano?
Sou um retirante alagoano muito identificado com o Brasil. Não acho que a globalização tenha todas as virtudes que prometeu.

E quando, para analisar a violência no Brasil, o senhor diz que foi assaltado em Paris não é uma fuga do assunto?
Não. Pode ser coincidência. Viajo de avião pelo Brasil há 30 anos, sempre deixei minhas coisas largadas, mala aqui, bolsa ali e nunca fui assaltado. Fui três vezes a Paris e já fui assaltado. A violência é deplorável e não quero justificar a nossa com a dos outros, mas deixo claro que ela não é um fenômeno nacional. Não é uma jaboticaba. Está no mundo todo.
 

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