Os administradores da Arena das Dunas, em Natal (RN), sabem que o faturamento do estádio não virá apenas de jogos de futebol. O Rio Grande do Norte não tem nenhum time na Série A do Campeonato Brasileiro, as duas principais equipes do estado tiveram média de público abaixo de 5 mil torcedores em 2013 e poucos times grandes devem visitar Natal ao longo do ano.

Mas o que fazer para que o novo estádio potiguar, projetado para receber 32 mil torcedores, não se transforme no tão temido elefante branco? A resposta da OAS Arenas, administradora do local, é criar um polo de atividades comerciais que funcione durante toda a semana. E o lucro ou prejuízo que a arena tiver interessa ao contribuinte potiguar. 

Enquanto nenhuma partida estiver sendo disputada no gramado, a Arena das Dunas fará as vezes de estacionamento, prédio de escritórios, salas de reunião, bar temático, academia, restaurante, arena de shows, salão para eventos corporativos e o que mais for possível.

Garantir o lucro da Arena das Dunas não é importante só para a OAS. O estádio foi construído por meio de uma PPP (Parceria Público-Privada): a construtora ergueu o estádio e, em troca, ganhou o direito de explorá-lo por 20 anos, além de receber prestações mensais do governo do estado por 17 anos.

A OAS contraiu financiamento de R$ 300 milhões no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por meio de linha de crédito especial para a Copa, e investiu outros R$ 123 milhões para terminar a obra. As garantias do empréstimo, porém, foram dadas pelo governo do Rio Grande do Norte: imóveis públicos e royalties do petróleo.

Além disso, há no contrato, obrigações mensais. Nos primeiros 11 anos, o estado do Rio Grande do Norte pagará uma mensalidade de R$ 10 milhões à OAS. De 2025 até 2027, a prestação cai para R$ 2,7 milhões mensais. Nos três últimos anos do contrato, o governo estadual pagará à OAS um valor fixo por mês de R$ 90 mil.

Somando-se todos os números, o total desembolsado pelo governo atinge R$ 1,4 bilhão. O investimento, no entanto, pode ser reduzido caso o estádio dê lucros altos, já que os ganhos são divididos igualmente entre OAS e governo do Estado. Daí a importância do sucesso do projeto da OAS Arenas para o poder público. 

O problema é que, caso os jogos não atraiam gente suficiente, o prejuízo não é dividido. Existe uma cláusula no contrato assinado entre as partes que garante um lucro mínimo para a OAS. Se esse lucro mínimo não é atingido, o Estado paga a diferença, além das prestações mensais.

O América-RN fechou parceria para disputar seus jogos no estádio. Em 2013, o clube teve média de 1.650 pagantes nos jogos da Série B disputados no Barretão, segundo a CBF. O ABC, que só mandará alguns jogos na Arena das Dunas, levou uma média de 4.117 torcedores para seus jogos no Frasqueirão.

Na rodada dupla de inauguração do estádio, no domingo, 26, 19,2 mil pagantes assistiram à vitória do América-RN sobre o Confiança por 2 a 0 e, na sequência, viram o ABC bater o Alecrim também por 2 a 0,

Atrativos

"O futebol ainda é nosso negócio principal. Mas são 40 ou 50 datas no ano. Não temos jogos o tempo todo. A ideia é criar um organismo vivo para prestar serviços à população o dia inteiro, durante toda a semana", afirmou o gerente de marketing da Arena, Artur Couto.

Um bar temático de esportes já está funcionando no interior da arquibancada norte do estádio de segunda a sábado. "A ideia é que o cliente frequente a arena durante a semana. Ele vem aqui assistir UFC, Liga dos Campeões, jogos de outras modalidades", explica Couto.

Uma academia está negociando para utilizar uma das áreas disponíveis no estádio. Um salão localizado atrás de um dos gols pode ser transformado em um restaurante com vista para o gramado, uma brinquedoteca ou uma arena indoor, com capacidade para até 3 mil pessoas.

Até o início da semana, 40% dos camarotes haviam sido comercializados para toda a temporada 2014, segundo Couto. As empresas que alugam as salas também podem utilizar os espaços para fazer reuniões durante o dia. A arena tem serviço de alimentação para os camarotes.

Os valores e os termos dos contratos não foram revelados. Uma das ideias da OAS Arenas é fazer parcerias com empresas locais para alavancar a economia da cidade em torno do novo equipamento esportivo.

Uma praça localizada do lado de fora do estádio também pode receber shows para 5 mil pessoas. A OAS Arenas negocia apresentações do Jota Quest e de bandas regionais de forró e ritmos nordestinos. A área externa tem espaço que podem ser ocupados por farmácias, bancos e lojas prestadoras de serviços.

A OAS Arenas afirma já ter fechado 28 datas para todos os tipos de eventos, entre eles festas corporativas e o Carnatal deste ano. Como última fonte de renda, a empresa espera comercializar o nome da arena. A negociação deve ficar mais acirrada após a Copa do Mundo.