Parreira diz que ainda vê Kaká na briga por uma vaga na Copa

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

Há quase um ano Carlos Alberto Parreira segue uma rotina às terças-feiras. O coordenador técnico da seleção brasileira recebe e examina um relatório com detalhes sobre as atuações de pelo menos 45 jogadores. Ele classifica a lista como "radar" e "raio-x" do futebol brasileiro. Desse documento, ele diz que sairão os 23 jogadores que disputarão a Copa do Mundo de 2014, no Brasil.

Chamado apenas para os amistosos contra Itália e Rússia e com atuação apagada no último deles, Kaká está, por enquanto, na lista de 45 nomes. O coordenador técnico acredita que a passagem pelo Real Madrid, quando sofreu com lesões e foi reserva nas últimas três temporadas, atrapalhou o meia.

O braço direito de Luiz Felipe Scolari, porém, não descarta uma nova chance ao jogador, que voltou a atuar com regularidade agora no Milan. "A gente gosta dele. Ele está no radar, está sendo observado. Ele tem chances, sim", afirmou em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

A seleção terá apenas mais um amistoso antes da divulgação da lista de convocados para a Copa do Mundo. Será contra a África do Sul, no dia 5 de março, em Joanesburgo. Os convocados para o Mundial serão conhecidos no dia 7 de maio.

UOL Esporte: Luiz Felipe Scolari falou em 25 nomes já definidos, sendo que são 23 vagas. Como é o trabalho de vocês para formular a lista, definir cortes?

Carlos Alberto Parreira: Fazemos o que todo treinador faz, observar. Temos uma lista de 45 nomes, está lá na folha, no computador. Cada posição tem ali seis, quatro nomes. É um raio-x do futebol brasileiro. Você analisa alguns nomes. É uma lista mutante. Agora estamos com quatro ou cinco por posição. A gente vai atualizando. A CBF fornece dados dos jogadores para que a nossa equipe veja.

UOL Esporte: A lista são os jogadores já convocados?

Carlos Alberto Parreira: Não é uma lista definitiva. Tem jogadores que não foram convocados e estão na lista. Não temos muitos laterais direitos, por exemplo. O Rafinha nunca foi convocado e está na lista de observados. Temos que ficar antenados.

UOL Esporte: O Kaká foi chamado uma vez, mas nunca mais esteve com vocês. Agora no Milan, ele tem jogado. Qual o status dele?

SELEÇÃO COM FOME

Flávio Florido/UOL
O time de 2006 era mais experiente que o atual. Isso é bom, mas eles não tinham uma coisa que esses jogadores têm: hungry (fome). Eles tinham barriga cheia

Carlos Alberto Parreira: Acho que o que prejudicou o Kaká foi ter ficado muito tempo sem jogar. Foram três temporadas quase parado, sem chance. Mas a gente gosta dele. Ele está no radar, está sendo observado. Ele tem chances, sim. A lista final será só no dia 7 de maio. 

UOL Esporte: O Brasil vem de uma conquista da Copa das Confederações. Em 2006, você viveu uma situação semelhante e o resultado não foi bom [na Copa do Mundo]. Como não repetir aquela experiência?

Carlos Alberto Parreira: Mas era outra realidade. O time de 2006 era mais experiente. Isso é bom, mas eles não tinham uma coisa que esses jogadores têm: hungry (fome, em inglês). É como diz o Steve Jobs: "Stay hungry, stay foolish" (em tradução livre: "se mantenha com fome, se mantenha aberto para aprender").

UOL Esporte: Você consegue notar essa diferença nos treinos da seleção?

Carlos Alberto Parreira: É uma coisa subjetiva. Não é que tenha faltando vontade. Mas eram jogadores que já estavam de barriga cheia. Agora é diferente. É só você ver que não temos nenhum campeão [mundial] no time atual. Você perde experiência, mas chega com muito mais "hungry" (fome). A experiência é muito bom, ajuda pra caramba. Nas horas difíceis, como segurar um placar, tentar reverter um jogo, manter a calma. Experiência conta muito.

UOL Esporte: Você já nota diferenças no Neymar desde a ida para o Barcelona?

Carlos Alberto Parreira: Ele está muito mais confiante. Ele é reconhecido internacionalmente. Ele já era conhecido, mas há uma diferença por estar na Europa. Não adianta, só é reconhecido como grande jogador se jogar no Real Madrid, no Barcelona, no Manchester, no Bayern de Munique. Neymar está fechando o ciclo todo. Ele é um fenômeno. Ele com quatro meses conquistou a Catalunha, a torcida do Barcelona. E olha que tem do lado dele o Messi. Não é fácil conseguir o espaço dele. O que demonstra que ele é um fenômeno. É uma força da natureza. Ninguém segura.

NEYMAR

Mowapress
A ida para o Barcelona deixou o Neymar muito mais confiante. Ele é um fenômeno, uma força da natureza. Ninguém segura.

UOL Esporte: Como você vê as reivindicações dos jogadores, que se organizaram no Bom Senso FC?

Carlos Alberto Parreira: Acho ótimo, mas isso já está resolvido. A CBF adequou tudo. Está aberta ao diálogo. Tem 30 dias de férias e pré-temporada. Já resolve a metade dos problemas. Agora calendário não é só com a CBF.

UOL Esporte: Mas eles dizem que não, que ainda é preciso mudar o calendário e isso é prerrogativa da CBF.

Carlo Alberto Parreira: Eu sempre fui favorável a ter férias e um período para pré-temporada. Sempre reclamei. É um absurdo você jogar uma semana e não treinar. Precisa ter um mês de férias e pelo menos três semanas de pré-temporada. Em 2014 não dá por causa da Copa, mas depois está adequado.

UOL Esporte: Você teme que o Brasil caia num "grupo da morte"?

Carlos Alberto Parreira: Não digo temor, mas vai ter grupo da morte. Temos muitas seleções fortes. Vai ter dois europeus num mesmo grupo. Alguém que não é cabeça de chave vai pegar a Argentina. Copa é assim. 

UOL Esporte: E quem são os times mais fortes?

Carlos Alberto Parreira: As tradicionais, as campeãs do mundo. A Itália, Alemanha, Espanha. A Argentina cresce também. O Agüero está jogando demais. Forte, rápido, técnico. E eles ainda têm o Messi. Copa não tem moleza. 

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