Protegido por Felipão, Júlio César não se vê garantido na Copa de 2014

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

Júlio César, goleiro brasileiro
Júlio César, goleiro brasileiro

Em oito dias, Júlio César viveu situações extremas. O goleiro foi da alegria da convocação antecipada para a Copa do Mundo de 2014 feita por Luiz Felipe Scolari à dor de uma fratura no dedo, que o deixará pelo menos um mês fora dos gramados. Apesar disso, ele parece ter reagido com a mesma frieza e tranquilidade às duas. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o goleiro da seleção brasileira e do Queens Park Rangers afirmou não se sentir garantido no Mundial, apesar das declarações do chefe.

"Aquela situação que o Felipão acabou se expressando em relação a mim foi mais uma situação de me proteger. Agradeço a confiança, mas ainda não me sinto garantido na Copa. Em oito meses muita coisa pode acontecer. Quem vai levar o Júlio César é o próprio Júlio César", diz.

Sobre a lesão, que irá adiar ainda mais as chances de o goleiro defender o QPR, ele nega ter ficado com medo de isso atrapalhar sua preparação para o Mundial.

"Na hora, o que passou na cabeça foi a dor mesmo. Depois, a todo momento, só pensei em fazer a radiografia e operar para o problema ser solucionado rapidamente", conta.

Com as duas mãos imobilizadas – além da fratura na mão esquerda, ele luxou dois dedos da direita – Júlio César segue fazendo treinos físicos no QPR e sonha diminuir o tempo previsto para a sua volta aos gramados. A estimativa dos médicos do clube é que ele fique seis semanas parado.

Sem dirigir, teve de mudar algumas coisas da sua rotina em Londres. Um compromisso, porém, não tira da agenda: os jogos de futebol do filho na escola, todas as terças e quintas à tarde. Cauet, de 10 anos, é fã de Neymar e joga na linha. Pedido do pai, calejado com as agruras da função de goleiro? "Não, para falar a verdade eu não imponho nada. Nem que jogue futebol. Quero que faça o que ele escolher, basquete, natação, o que for".

Confira a entrevista completa:

UOL Esporte: Uma semana após ser garantido pelo Luiz Felipe Scolari na Copa do Mundo, você sofreu uma lesão que vai lhe tirar dos gramados por pelo menos um mês. O que você pensou na hora da fratura?
Júlio César: Senti muita dor, mas para falar a verdade, eu não sou um cara que fica se remoendo, agora vai acontecer isso aqui, vou perder isso, etc. Só penso em me recuperar. É uma situação que aconteceu. Igual quando o juiz dá um cartão. Não adianta reclamar. Não adianta ficar pensando e sofrendo. Não consigo ficar assim. Sempre fui um cara muito otimista. Só pensei em fazer a radiografia e operar para o problema ser solucionado rapidamente.

Qual a previsão de retorno? O clube fala em seis semanas.
Ainda não tenho previsão. Espero que seja em breve. Eles falaram em cinco, seis semanas, mas pretendo voltar antes disso.

Não é estranho para você a rotina de um clube na segunda divisão, sem visibilidade?
Olha, aqui na Inglaterra é diferente. Independentemente do time ser grande ou de menor expressão, não tem diferença, o tratamento é igual. Acho isso bem bacana, foi algo que me chamou atenção. Claro que na hora de aparecer em jornal vão sempre priorizar os grandes clubes, mas em relação à visibilidade, é normal para todos os clubes, falando em termos de exposição. Aqui é tudo muito regrado, e isso vale para o futebol, para a organização. Minha realidade é o QPR e estou pensando apenas em voltar a jogar aqui.

PRESSÃO NO BRASIL


Comparo o goleiro do Brasil com os cargos de presidente do país e treinador da seleção. São os três empregos realmente com pressão muito grande. Mas estou preparado

Uma semana antes da lesão, o Felipão garantiu sua presença na Copa do Mundo. Disse que, independentemente de você jogar ou não no clube, vai estar no Mundial. Como foi isso? Ele o avisou antes de falar para os jornalistas?

Aquela situação que o Felipão acabou se expressando em relação a mim foi mais uma situação de me proteger. Por tudo aquilo que vem acontecendo comigo. Aquele ponto de interrogação, aquelas dúvidas sobre para onde o Júlio vai, se vai jogar, se vai ficar no QPR, se vai atuar na segunda divisão. Então criou-se uma coisa forte em relação ao meu nome. Ele fez aquilo para me proteger mesmo. Nesses oito meses ninguém vai perturbá-lo em relação a isso.

Mas você se sente garantido na Copa?
Claro que não tem nada concretizado. Claro que ele falou, ele se expressou de uma maneira, mas não me empolguei. Tenho que trabalhar, voltar a jogar. Em oito meses muita coisa pode acontecer. Quem vai levar o Júlio César é o próprio Júlio César. Agradeço a confiança do Felipão. Não só dele, mas de toda a comissão técnica. Isso aumenta a minha responsabilidade. Tenho que retribuir a confiança, mas não me sinto na Copa do Mundo. Não me sinto mesmo. Só vou me sentir quando sair a convocação definitiva e ver o meu nome lá.

Você participou de outros trabalhos na seleção, com outros técnicos. O que essa seleção tem de diferente?
Acho que a Copa das Confederações trouxe muitos benefícios. A reaproximação com o torcedor foi o principal. Depois da Copa de 2010, com o fato de não jogar eliminatórias, a seleção ficou um pouco distante. Além disso, a outra comissão técnica teve um pouco de dificuldade de montar o time pelo fato de não jogar as eliminatórias também. Na Copa das Confederações, a seleção criou uma identidade bacana. Hoje a seleção brasileira é uma certeza.

Na seleção, você conviveu com o Neymar em situações diferentes, na derrota da Copa América e na vitória da Copa das Confederações. Como você o vê hoje? Por ser mais experiente, conversa, dá conselhos sobre seleção e a ida para a Europa?
Não temos esse tipo de conversa. Ele e o Lucas são dois jogadores que, apesar de jovens, têm certa bagagem no futebol. Apareceram muito cedo e já têm certa experiência, títulos na carreira. Essa Copa das Confederações serviu para eles terem mais amparo, mais experiência na seleção.

Você acha que o Neymar pode ser o melhor do mundo?
Eu o vejo com totais condições para isso. Só o tempo vai dizer, mas eu o vejo com todas as condições.

Você espera alguma pressão diferente por jogar a Copa no Brasil?
Diferente, não, mas vai ter pressão. Aliás, eu comparo o goleiro da seleção com os cargos de presidente do Brasil e treinador da seleção. São os três empregos realmente com pressão muito grande. Mas estou preparado. Essa Copa das Confederações já serviu para dar uma ideia do que nos espera em 2014.

GARANTIDO NA COPA?


O Felipão se expressou de uma maneira, mas não me empolguei. Tenho que trabalhar, voltar a jogar. Em oito meses muita coisa pode acontecer


Durante a última janela de transferências houve notícias sobre propostas de alguns clubes: Arsenal, Napoli, Benfica. Nenhum, porém, do Brasil. Você não pensa em retornar?
Nessa janela não houve negociações com clubes brasileiros. Em outras teve, mas sempre emperrou na questão salarial. Em nenhum momento pensei em sair do QPR. Minha realidade é o clube e tenho que pensar nisso. Minha realidade é jogar a segunda divisão do Campeonato Inglês. Eu nunca conto com coisas que não são concretas. Eu me preparei psicologicamente para ficar aqui no QPR.

Mas você pensa em voltar um dia para o Brasil?
Olha, eu não sei se pretendo voltar. Nessa janela nenhum clube brasileiro me procurou. É uma coisa que eu não penso. Não tenho fixo na minha cabeça. Pode acontecer ou não.

E você tem sofrido com o Flamengo, com a situação do clube?
Sofrer é uma palavra muito forte, mas fico triste pelo fato de gostar do clube, de ter carinho. Foi o Flamengo que me proporcionou o que tenho no futebol.
 

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos