Corpo de ex-goleiro Gylmar dos Santos Neves é enterrado em São Paulo

Giselle Hirata

Do UOL, em São Paulo

  • Nelson Antoine/Fotoarena/Estadão Conteúdo

    Família vela corpo do ex-goleiro Gylmar, morto no último domingo

    Família vela corpo do ex-goleiro Gylmar, morto no último domingo

Sob uma sonora salva de palmas, o corpo do ex-goleiro Gylmar dos Santos Neves foi enterrado na tarde desta segunda-feira, no Cemitério do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. Ele vinha sendo velado desde o início de manhã no mesmo local.

José Maria Marin, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), esteve no local durante o enterro. Outras personalidades do esporte, como Pepe, Zetti, Cafu e Zé Maria, também foram ao cemitério.

"Ele reunia um conjunto de qualidades, não somente como goleiro, mas como pessoa humana. Espero que os próximos, não só os atletas, mas todos aqueles que amam o futebol, sempre cultivem com o maior carinho e gratidão o que realmente representou Gylmar dos Santos Neves. Um exemplo como atleta e extraordinária figura humana", declarou Marin, visivelmente emocionado. 

Cafu, que foi capitão brasileiro na conquista do penta pela seleção, em 2002, também falou sobre o ex-arqueiro. "Ele foi uma referência no futebol mundial. Nós somos apenas uma sequência de grandes profissionais como ele"

Campeão mundial com a seleção brasileira nas Copas de 1958 e 1962, Gylmar tinha a saúde frágil havia 13 anos por causa de um AVC (acidade vascular cerebral). O problema o fez perder 40% dos movimentos do corpo.

"Ele tentava se recuperar e não se recuperava. A gente sofreu muito nesses últimos 13 anos, principalmente minha mãe. É triste falar dessa maneira, mas chega uma hora em que viver assim, para um homem que foi um grande atleta, ter que ficar confinado a uma cadeira de rodas, não vale a pena. Então, hoje é um alívio para ele e para todos nós", contou Marcelo, filho de Gylmar. 

No dia 8 de agosto, o ex-goleiro foi internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, por causa de uma infecção urinária. O quadro foi agravado por desidratação e levou a um infarto.

Um dos filhos de Gylmar, Rogério Neves, que é médico e mora nos Estados Unidos, chegou a voar para o Brasil a fim de conversar com a equipe que cuidava do ex-goleiro. Eles optaram por não colocá-lo na UTI.

Gylmar seguiu internado, em situação grave, até a tarde do último domingo. O ex-goleiro, que havia completado 83 anos no dia 22, morreu em função das complicações do infarto.

Além dos títulos com a seleção brasileira, Gylmar foi goleiro de Jabaquara, Corinthians e Santos. Duas bandeiras, a do Corinthians e a do Jabaquara, estiveram sobre o caixão dele nesta segunda-feira, durante o velório.

SAIBA QUEM FOI GYLMAR DOS SANTOS NEVES

Relembre a história do ex-goleiro

 

Nascido em Santos no dia 22 de agosto de 1930, Gylmar começou sua carreira no Jabaquara e chegou ao Corinthians em 1951 sem alarde, como parte da negociação com o meio-campista Ciciá, depois de ser o goleiro mais vazado do Campeonato Paulista pelo time da Baixada.

Principal contratação na ocasião, Ciciá amargou o esquecimento, enquanto o goleiro Gylmar se transformaria em um dos melhores que o país já teve. Sua história no Corinthians, porém, não começou bem, já que ele foi considerado culpado por uma derrota por 7 a 3 para a Portuguesa, e chegou a ser afastado pelo técnico Oswaldo Brandão.

No restante daquela temporada, Gylmar amargou a reserva, mas recuperou espaço durante uma excursão que o clube fez pela Europa, no ano seguinte. Gylmar foi um dos heróis da conquista do bicampeonato paulista em 1954, um título histórico, marcado pelo quarto centenário da cidade de São Paulo. Com a titularidade do Corinthians conquistada, ele chegou à seleção brasileira.

Na campanha do primeiro título mundial do Brasil na Suécia, em 1958, Gylmar atuou como titular. Mesmo valorizado, acabou sendo envolvido em uma polêmica transferência para o Santos, e sua saída do Corinthians não foi amistosa.

Em 1961, Gylmar era contratado pelo Santos após ser acusado pelo presidente Wadih Helou de simular uma contusão para facilitar a transferência. A saída polêmica não apagou seus feitos no Parque São Jorge, e muitos corintianos ainda o consideram o melhor goleiro que já passou pelo clube.

Gylmar dos Santos Neves
Gylmar dos Santos Neves

Aos 30 anos de idade, Gylmar iniciava sua trajetória no Santos. Juntou-se a craques como Pelé, Zito, Coutinho e Pepe e acabou se tornando um dos jogadores com mais títulos na história do futebol brasileiro, ganhando tudo o que disputou: mais uma Copa do Mundo (a do Chile, em 1962), o bi mundial e da Libertadores (1962 e 1963), cinco Taças Brasil seguidas (de 1961 a 1965), cinco paulistas (1962, 1964, 1965, 1967 e 1968) e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1968), precursor do Campeonato Brasileiro. Encerrou a carreira em 1969, festejado como o melhor goleiro da história do Santos.

Mas foi jogando pela seleção brasileira que Gylmar escreveu definitivamente seu nome na história. Titular absoluto nas duas primeiras conquistas mundiais do Brasil, em 1958 e 1962, ele passava segurança enquanto Pelé, Garrincha e Vavá asseguravam os gols.

Na sua última Copa, em 1966, dividiu a posição com Manga. E, assim como ele, o Brasil também não era mais absoluto: caiu diante de Portugal. Para Gylmar, o prejuízo nem foi tão grande: ele já havia carimbado seu nome na história do futebol brasileiro.

Morte de esportistas
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