Campeão nas Copas de 58 e 62, ex-goleiro Gylmar morre em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
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Andre Vicente/ Folhapress
Gylmar dos Santos Neves faleceu neste domingo no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo
O ex-goleiro Gylmar dos Santos Neves, bicampeão mundial pela seleção brasileira nas Copas de 1958 e 1962, morreu neste domingo em São Paulo. A informação foi confirmada ao UOL Esporte por Marcelo Izar Neves, filho do ex-goleiro. Ele estava internado no hospital Sírio Libanês, e não resistiu após sofrer um infarto. Na última quinta-feira, ele havia completado 83 anos. Também neste domingo, De Sordi, campeão do mundo em 58, com Gylmar, faleceu no Paraná aos 82 anos.
Segundo Marcelo, Gylmar estava internado desde o começo da semana com infecção urinária. Como já estava debilitado devido a um AVC (acidente vascular cerebral) sofrido há 13 anos, a situação foi agravada por um quadro de desidratação. Por fim, ele sofreu um infarto que o deixou inconsciente e em estado considerado irreversível.
No sábado, o filho do bicampeão chegou a falar em 'quebra-cabeça' para explicar o estado de seu pai: "Mexe em uma coisa, mas piora outra". Ele havia sido completamente sedado para evitar maiores sofrimentos e estava recebendo antibióticos para amenizar o quadro.
"Por causa de todos esses anos de doença depois do AVC, o coração estava muito fraco", declarou o filho. Por volta das 18h30 horas, foi confirmada a morte do bicampeão mundial. Ainda não há informações sobre o velório e o enterro do ex-goleiro.
O outro filho de Gylmar, Rogério, é médico e veio dos Estados Unidos para acompanhar a situação do pai. Após reunião com a equipe do Sírio Libanês, foi decidido não fazer nenhuma outra intervenção, já que a situação do ex-goleiro era considerada extremamente delicada após o infarto. Assim, ele foi mantido fora da UTI até a hora da morte.
O AVC sofrido em 2000 deixou Gylmar com 40% de seu corpo paralisado. Desde então, ele passou a se locomover com a ajuda de uma cadeira de rodas. Segundo os familiares, as sequelas causadas pelo acidente vascular cerebral foram definitivas para o agravamento do quadro do ex-goleiro desde sua internação.
SAIBA QUEM FOI GYLMAR DOS SANTOS NEVES
Além dos títulos pela seleção brasileira, Gylmar dos Santos Neves é ídolo de Santos e Corinthians. Sua carreira começou no Jabaquara, no ano de 1950. Defendeu o clube do Parque São Jorge até 1961 e conquistou os títulos paulistas de 1951, 1952 e 1954, além do Rio-São Paulo de 1954.
Nos anos seguintes, ele defendeu o Santos, clube em que conquistou dois Mundiais Interclubes, em 1962 e 1963. Ele defendeu o clube da Baixada até se aposentar em 1969, último ano em que vestiu a camisa da seleção brasileira.
Depois de deixar o futebol, Gilmar se dedicou a uma revendedora de veículos na capital paulista e também foi dirigente do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa da cidade de São Paulo por dois anos.
Considerado um dos melhores de todos os tempos por ter conquistado ao menos uma vez todos os títulos que disputou pelos clubes que defendeu e pela seleção brasileira, Gylmar dos Santos Neves chegou a ser chamado de "Pelé do gol". Em 1998, ele foi eleito para a seleção de todos os tempos do Santos pela Federação Paulista de Futebol.
Relembre a história do ex-goleiro
Nascido em Santos no dia 22 de agosto de 1930, Gylmar dos Santos Neves começou sua carreira no Jabaquara, onde foi o goleiro mais vazado do Campeonato Paulista. Chegou ao Corinthians em 1951 sem alarde, como parte da negociação com o meio-campista Ciciá.
Principal contratação na ocasião, Ciciá amargou o esquecimento, enquanto o goleiro Gylmar se transformaria em um dos melhores que o país já teve. Mas a sua história no Corinthians começou acidentada. Ele foi considerado culpado por uma derrota por 7 a 3 para a Portuguesa, e chegou a ser afastado do time pelo técnico Oswaldo Brandão.
No restante daquela temporada, Gylmar amargou a reserva do goleiro Cabeção, mas recuperou espaço durante uma excursão que o clube fez pela Europa, no ano seguinte. Começava a sua vitoriosa trajetória no Parque São Jorge.
Gylmar foi um dos heróis da conquista do bicampeonato paulista em 1954, um título histórico, marcado pelo quarto centenário da cidade de São Paulo. Já consagrado como titular absoluto do Corinthians, ele chegou à seleção brasileira.
Na campanha do primeiro título mundial do Brasil na Suécia, em 1958, Gylmar atuou como titular. Mesmo valorizado, acabou sendo envolvido em uma polêmica transferência para o Santos, e sua saída do Corinthians não foi amistosa.
Em 1961, Gylmar era contratado pelo Santos após ser acusado pelo presidente Wadih Helou de simular uma contusão para facilitar a transferência. A saída polêmica não apagou seus feitos no Parque São Jorge, e muitos corintianos ainda o consideram o melhor goleiro que já passou pelo clube.
Gylmar dos Santos Neves
Já com 30 anos de idade, Gylmar iniciava sua trajetória no Santos. Juntou-se a craques como Pelé, Zito, Coutinho e Pepe. Acabou se tornando um dos jogadores que colecionou mais títulos na história do futebol brasileiro.
Ganhou tudo o que disputou: mais uma Copa do Mundo (a do Chile, em 1962), o bi mundial e da Libertadores (1962 e 1963), cinco Taças Brasil seguidas (de 1961 a 1965), cinco paulistas (1962, 1964, 1965, 1967 e 1968) e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1968), precursor do Campeonato Brasileiro. Encerrou a carreira em 1969, festejado como o melhor goleiro da história do Santos.
Mas foi jogando pela seleção brasileira que Gylmar escreveu definitivamente seu nome na história. Titular absoluto nas duas primeiras conquistas mundiais do Brasil, em 1958 e 1962, ele passava segurança enquanto Pelé, Garrincha e Vavá asseguravam os gols.
Na sua última Copa, em 1966, dividiu a posição com Manga. E, assim como ele, o Brasil também não era mais absoluto: caiu diante de Portugal. Para Gylmar, o prejuízo nem foi tão grande: ele já havia carimbado seu nome na história do futebol brasileiro.