Comitê Popular da Copa negociará com torcida do Corinthians para protestar no entorno do Itaquerão
Vinícius Segalla
Do UOL, em São Paulo
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Fernando Donasci/UOL
Torcedores do Corinthians terão o Itaquerão pronto no começo de 2014
O Comitê Popular da Copa em São Paulo, entidade da sociedade civil que reivindica maior participação popular no planejamento e o fim das desapropriações de residências em virtude de obras preparatórias para a Copa do Mundo de 2014, irá divulgar nos próximos dias uma carta aberta às torcidas de futebol, especialmente à do Corinthians, reiterando seu direito de livre manifestação e explicando que o comitê não milita contra o clube alvinegro ou contra a construção do estádio corintiano em Itaquera.
A iniciativa da entidade tem como objetivo evitar qualquer tipo de incidente em eventuais manifestações que sejam realizadas nas áreas próximas ao estádio, que está sendo construído para receber a partida de abertura da Copa de 2014. "O problema não é o estádio, é o Estado", resume Juliana Brito, membro do Comitê Popular.
Segundo ela, um dos principais itens da pauta de reivindicações do comitê é o fim das desapropriações em virtude de obras da Copa. De acordo com um estudo divulgado pela organização nacional do movimento, 250 mil famílias já perderam ou correm o risco de perder suas casas por causa das intervenções.
"O pior é que os processos de desapropriação não são executados como se deveria. As pessoas demoram para receber a indenização, passam a receber auxílio-aluguel insuficientes ou são deslocadas para regiões distantes de onde moravam", argumenta a ativista.
É dentro deste contexto que o Comitê Popular enxerga o entorno do estádio corintiano como uma área problemática. "Para realizar obras de trânsito em volta da arena, a Favela da Paz será destruída. O processo está sendo preparado sem que a população do local seja minimamente informada de prazos e condições", afirma Juliana Brito. Cerca de 5.000 famílias deverão ser removidas do local até o final do ano.
Além da carta aberta, o comitê pretende marcar reuniões com líderes de torcidas organizadas do Corinthians para explicar a situação. "Queremos exercer nosso direito de protestar nas ruas que quisermos, mas compreendemos que os torcedores corintianos zelem pelo estádio que está sendo construído. Por isso vamos conversar com eles (torcedores organizados), para mostrar que não pretendemos causar qualquer dano ao estádio, apenas protestar por uma Copa do Mundo mais democrática".
O UOL Esporte conversou com membros da torcida Gaviões da Fiel na última quarta-feira e ouviu dos torcedores que ainda não foram contatados por nenhuma entidade para tratar do assunto manifestações, e que é disposição geral dos corintianos garantir a segurança do estádio.
Já o delegado Mario Gobbi, presidente do Corinthians, acredita que a série de manifestações ocorridas durante a Copa das Confederações por conta dos gastos em estádios não chegará ao Itaquerão. De acordo com o cartola, existe uma certa implicância em relação ao clube quando se trata desse assunto.
"O Corinthians ia fazer o estádio dele. Foi escolhido para ser o da Copa. Todos os estádios da Copa ganharam incentivos fiscais, não foi só o nosso. É que só falam da gente. Vai levar para Zona Leste, que é uma região carente, que precisa de emprego, desenvolvimento, o estádio vai levar isso para lá. Todos tiveram incentivos. Agora o Corinthians não pode. Porque os outros não vendem jornal, o que dá audiência é falar do Corinthians", disse, em entrevista ao UOL Esporte no último dia 4.