Rio implantará só na Olimpíada projeto de reciclagem previsto para Copa

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • Antonio Lacerda - 19.abr.2012/ EFE

    Catadora recolhe material reciclável em lixão no RJ: cidade firmou parceria com BNDES

    Catadora recolhe material reciclável em lixão no RJ: cidade firmou parceria com BNDES

O projeto que deveria "revolucionar" a coletiva seletiva de lixo no Rio de Janeiro para a Copa do Mundo de 2014 será completamente implantando só após a Olimpíada de 2016. Anunciado em 2010 pela prefeitura e pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a iniciativa que visa a organizar a reciclagem de resíduos na capital fluminense pensando para o Mundial de 2014 atrasou. Por isso, estará funcionando a pleno vapor só no final de 2016.

Os novos prazos foram divulgados na última quarta-feira, Dia Mundial do Meio Ambiente, pelo presidente da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), Vinícius Roriz. Roriz assumiu a empresa de lixo do Rio no início de 2013.

O atraso de mais de dois anos é difícil de explicar. Em no fim de 2010, o prefeito Eduardo Paes já havia firmado um acordo com o BNDES para melhorias na reciclagem da capital fluminense para a Copa. À época, Paes assinou um contrato com o banco estatal. Conseguiu R$ 22 milhões para investir em 25 cooperativas do Rio, capacitar 1.500 catadores de recicláveis e construir seis centros de triagem de lixo.

O BNDES se comprometeu a repassar o dinheiro a fundo perdido à prefeitura, ou seja, esse valor nunca retornaria ao banco. A instituição exigiu da administração municipal, contudo, que ela também investisse R$ 28 milhões na coleta seletiva.

O trato foi feito. Tudo o que estava previsto nele, entretanto, não andou. Hoje, nenhuma das seis centrais de triagem de lixo prometidas está funcionando. Sem elas, o plano de organizar o trabalho de 25 cooperativas e capacitar 1.500 catadores de material reciclável ficou comprometido. Agora, a ideia é tentar colocar tudo funcionando só ao final de 2016.

"Com certeza, teremos três centrais de triagem funcionando até a Copa do Mundo", disse o presidente da Comlurb na última quarta-feira. "As três restantes estarão funcionando até 2016." 

Problemas

Vinícius Roriz não usa a palavra "atraso" quando fala do programa de coleta seletiva do Rio. Ele disse que, apesar de o BNDES relacionar a ajuda ao município com a Copa do Mundo, nem o banco nem a Fifa exigem que o programa reciclagem esteja funcionando conforme o idealizado antes da cidade receber o Mundial de 2014.

É verdade, assim como também é verdade que absolutamente todas as obras que constam no plano oficial brasileiro de preparação para a Copa, à exceção dos estádios, não precisam  estar prontas para a Copa. 

Isso porque, no dia 27 de março deste ano, o Senado aprovou uma resolução de autoria de Romero Jucá (PMDB-RR) que permite que todas as obras e projetos destinados à Copa do Mundo de 2014 que não ficarem prontos a tempo do torneio possam ser concluídos depois do evento mantendo as mesmas condições de financiamento facilitado e regras de licitação flexíveis que foram criadas exclusivamente para viabilizar a execução dentro do prazo.

Voltando ao Rio e ao lixo, segundo Roriz, os objetivos acordados com o BNDES estão sendo cumpridos. O presidente da Comlurb justifica a redefinição de prazos afirmando que foram encontradas dificuldades extras e inesperadas durante a implantação do sistema de coleta seletiva no Rio. "É difícil organizar as cooperativas e arrumar terrenos para os centros de triagem numa cidade como o Rio", explicou Roriz. Resta explicar por que tais dificuldades eram inesperadas. 

Obras no Maracanã
Obras no Maracanã

De qualquer forma, o BNDES mantém seu apoio ao projeto. O banco, porém, reteve boa parte do dinheiro prometido à prefeitura justamente por falta das ações previstas no contrato. Dos R$ 22 milhões garantidos pela instituição em 2010, só cerca de R$ 3 milhões foram efetivamente repassados. "Os desembolsos do banco estão diretamente ligados ao passo dos investimentos", esclarece o superintendente da área agrícola e de inclusão social do BNDES, Marcelo Porteiro Cardoso.

Ao UOL Esporte, Cardoso  confirma que o BNDES priorizou cidades-sede da Copa do Mundo para fazer parcerias para a coletiva seletiva. Curitiba (R$ 26,3 milhões), Porto Alegre (R$ 9 milhões) e Brasília (R$ 21,3 milhões) também receberão o torneio e conseguiram recursos do banco para melhorar sua coleta de lixo. Nenhuma delas, entretanto, é obrigada a concluir algo até o Mundial da Fifa.

BNDES OFERECE DINHEIRO, MAS SEDES DA COPA NÃO AMPLIAM COLETA

  • Com o objetivo de implantar ou ampliar os programas de coleta seletiva de lixo reciclável nas 12 cidades-sede da Copa, o BNDES ofereceu aos municípios uma oportunidade irrecusável: o banco propõe doar o dinheiro para os projetos por meio do seu Fundo Social. As exigências são que os mesmos sejam colocados em prática até o início do Mundial e que o governo local invista a mesma quantia que o banco. O programa foi lançado em setembro de 2010, mas até agora apenas Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília buscaram os recursos.

Reclamação

Enquanto banco e prefeitura aparentam estar satisfeitos, catadores se queixam da demora para melhorias na coletiva seletiva do Rio de Janeiro. Eva Barbosa é catadora e vice-presidente da Coopgericinó (Cooperativa de Catadorres de Materiais Recicláveis de Gericinó). Ela trabalha no Aterro de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, junto com 245 pessoas. Todas elas aguardam a construção de uma central de triagem em Bangu para poderem se mudar para lá.

"Todo mundo vive de catar o que acha no aterro", afirmou ela. "Disseram que a obra da central de triagem de Bangu começaria em janeiro. Até agora, nada."

Segundo Eva, todos os catadores de Gericinó devem ser alocados para trabalhar na nova central. Eles gostariam até de colaborar com a obra do espaço. Problemas de licitação, disse Eva, atrasam a construção.

Nesta quarta, Eva questionou pessoalmente o prefeito Eduardo Paes sobre o assunto. A jornalistas, Paes disse que "o processo está andando, o projeto está caminhando."
 

Obras da Copa
Obras da Copa

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