Atrasado, Maracanã não terá teste completo para Copa das Confederações

Paulo Passos, Pedro Ivo Almeida, Ricardo Perrone e Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

O Maracanã não passará por um teste completo antes da Copa das Confederações. Devido aos atrasos na reforma do estádio, parte das estruturas que será usada durante o torneio não estará pronta até domingo, dia da última avaliação do espaço antes de ele receber uma partida oficial de seleções.

No dia 2 de junho, às 16h, o Maracanã sediará amistoso entre a seleção brasileira e a inglesa e será oficialmente reinaugurado, após passar dois anos e meio fechado para obras. No evento-teste, porém, nem toda a estrutura que será usada no torneio estará à disposição do COL (Comitê Organizador Local da Copa do Mundo) para ser posta à prova.

De acordo com o gerente geral de operações do COL, Tiago Paes, a sinalização do estádio, a área de hospitalidade e o centro de imprensa do Maracanã, que serão temporários, não poderão ser avaliados. Segundo ele, o teste dessas áreas seria possível só se o estádio estivesse 100% adaptado para a Copa das Confederações. Isso, contudo, só ocorrerá no próximo dia 15, data da abertura do torneio.

"Não teremos uma estrutura 100% igual a da Copa das Confederações, mas muito parecida", afirmou Paes. "O Maracanã só estará 100% mesmo no dia 15, até porque falta a instalação de uma série de equipamentos temporários."

Paes participou nesta segunda-feira de uma entrevista coletiva sobre o jogo-teste de domingo. A partida será a primeira em que o COL participará efetivamente da operação do Maracanã.

O gerente geral do comitê informou na entrevista que o órgão já esperava que o último teste do Maracanã não avaliasse todas as estruturas da Copa das Confederações. O sistema de venda e checagem de ingressos, por exemplo, não poderia ser completamente avaliadas, pois são operações sob o controle da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o que não acontecerá no torneio da Fifa. Fato é que, caso as obras no estádio tivessem sido concluídas em dezembro de 2012, como havia sido inicialmente prometido, mais elementos da arena poderiam ser avaliados antes neste domingo.

Em abril, o próprio secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, escreveu em coluna publicada no site da entidade que os atrasos nas obras de estádios da Copa das Confederações poderia comprometer a preparação do torneio. Segundo ele, "nem todos os aspectos operacionais [do evento] estarão a 100%" por causa das dificuldades encontradas pela Fifa e o COL.

Na época, o COL explicou que o atraso nas obras dos estádios era a principal preocupação da organização da Copa das Confederações e alertou que os testes seriam prejudicados por isso. "No caso de alguns estádios, por conta da entrega posterior à data prevista, não será possível fazer todos os testes que se fazem necessários em um cenário ideal."

Na última segunda-feira, Paes minimizou os efeitos do atraso na reforma do Maracanã para último teste do estádio. Afirmou que o que não será testado são "coisas internas do COL", seja lá o que isso signifique.

Já para o governo do Rio de Janeiro, entre as consequências do descumprimento do prazo, como aumento do custo da obra gerado pela contratação de turnos extras de trabalho e impossibilidade de se fazer o número acordado de eventos-teste, não está a falta de testes das estruturas temporárias.

Para o Poder Executivo fluminense, o estádio foi devidamente entregue à Fifa na data prometida, dia 24 de maio, e o teste das estruturas temporárias não é uma exigência da entidade.

Calendário comprometido

Também na última segunda-feira, o UOL Esporte ouviu de um membro do COL que a entrega do estádio em cima da hora comprometeu o calendário de testes da arena, o que deveria incluir operações com funcionalidade semelhante às das estruturas temporárias. A afirmação corrobora o que sempre foi dito pela Fifa e por seu secretário-geral.

Posteriormente, em resposta oficial enviada por escrito, o comitê reiterou que o Maracanã deveria ter sido entregue seis meses antes da Copa das Confederações, o que de resto era compromisso público - e não cumprido - do Estado do Rio de Janeiro.

Assim, ainda que "o objetivo final dos eventos-teste não seja promover eventos 100% nos padrões FIFA", a entrega do estádio na data acordada era fundamental para que tivesse sido possível "realizar um número maior de ensaios, com capacidade de público crescente", explica a nota do COL. 

O plano da Fifa era de realizar, pelo menos, três eventos-testes antes do início da Copa das Confederações. O jogo do próximo domingo no Maracanã, entretanto, servirá como o segundo e último evento-teste do estádio. 

Isso se for possível considerar o que aconteceu no estádio no último dia 27 de abril como um evento-teste de fato. Na oportunidade, ocorreu uma partida entre amigos de Ronaldo Nazário e colegas do ex-jogador Bebeto. O jogo foi disputado com as obras de reforma no estádio a pleno vapor. Não houve venda de ingressos, apenas convidados puderam entrar. Só metade do estádio estava aberta. A outra, em obras, estava coberta por tapumes e um rigoroso esquema de segurança, que mantinha jornalistas e convidados longe do canteiro. Do lado fora, o que se via era entulhos, operários trabalhando e máquinas em operação em todo o entorno da arena.

Um segundo teste estava marcado para o dia 15 de maio. Foi cancelado, sem maiores explicações do Governo do Rio de Janeiro. Assim, graças aos atrasos protagonizados por aqueles que eram responsáveis pela obra, o evento deste domingo terá que ser suficiente. 

Atrasos e aumentos

Iniciada em 2010, a reforma do Maracanã para a Copa foi anunciada ao custo de R$ 600 milhões. Quando a reforma começou, em setembro daquele ano, seu orçamento já era de R$ 705 milhões. O prazo de entrega era dezembro de 2012.

O tempo passou e o custo subiu. O governo chegou à conclusão de que a demolição da cobertura do estádio era necessária. Com isso, o custo da reforma chegou a R$ 859 milhões. Neste mês, o governo publicou um aditivo do contrato da reforma do estádio. A obra passou a custar R$ 1,049 bilhão. Juntando outras adequações adicionais e outros contratos já assinados, as adequações só no estádio já custam R$ 1,12 bilhão.

CULPADO, EU?

  • Folhapress

    O "imponderável" foi o culpado pelo aumento de 87% no custo da reforma do Maracanã para a Copa do Mundo segundo o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral.

    Após seu governo assinar o décimo aditivo do contrato da obra no estádio e comprometer-se a pagar R$ 1,12 bilhão pelas adequações que inicialmente custariam R$ 600 milhões, Cabral afirmou que uma "série de variáveis não esperadas" ocasionou a alteração no orçamento.

Conforme o custo da obra ia subindo, sua entrega também ia sendo adiada. Quando o governo decidiu reconstruir a cobertura, ela passou para o final de fevereiro. Depois, no início deste ano, o governo anunciou que a reforma só acabaria 27 de abril.

Em março, o governo e as construtoras acordaram um novo prazo para o fim das obras. O nono aditivo do contrato da reforma foi assinado prevendo que o trabalho terminasse no dia 24 de maio, ou seja, na sexta-feira. O mesmo prazo vale para as obras da área intramuros, que foram contratadas separadamente. A data-limite, porém, não foi cumprida. Na semana passada, o Maracanã passou ao controle da Fifa inacabado.

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