Brasil ganha menos que França, Inglaterra e Alemanha por patrocínio de camisa
Fernando Duarte
Do UOL, em São Paulo
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Júlio César Guimarães/UOL
Além da pressão em campo, Neymar agora também precisa ajudar a valorizar a camisa da seleção
Se a queda no ranking de seleções da Fifa (Federação Internacional de Futebol) tem sido bem documentada e discutida, a seleção brasileira também perde terreno numa disputa comercial não tão em evidência. Com as atividades da equipe principal restritas a amistosos desde a Copa América de 2011 e diante do duelo das fabricantes de material esportivo pelo mercado europeu, a seleção desceu na lista de times com as camisas mais caras do mundo. Segundo um estudo da consultoria PR Marketing, da Alemanha, uma referência de informações sobre o mercado de patrocínios no futebol mundial, o Brasil está em quarto lugar num ranking dos maiores contratos.
Desde 1997 associada à Nike, a seleção tem contrato até 2018, com valores estimados em 25 milhões de euros por ano, num compromisso renovado há duas temporadas. Tais cifras são menores que os de França (42,6 milhões), Inglaterra (30 milhões) e Alemanha (26 milhões). A Espanha, que no ano seguinte à conquista do Mundial da África do Sul renovou com a Adidas, recebe 24 milhões. O ranking do material esportivo causa surpresa diante da falta de uma relação mais direta entre o desempenho em campo e o "valor da camisa", mas segundo Peter Rohlmann, consultor responsável pelo estudo da PR Marketing, os fatores não são tão independentes assim.
"A seleção brasileira tem uma marca muito forte, especialmente por não ser associada apenas ao futebol. Há algo cool em usar as cores e o escudo não apenas para ir a estádios ou jogar uma pelada. Mas o time não vem bem nos útimos anos e isso tornará um bom resultado no Mundial de 2014 ainda mais importante sob o ponto de vista comercial´´, afirma Rohlmann, em entrevista ao UOL Esporte.
Valores contratuais são definidos por uma gama de variáveis, incluindo uma imagem vencedora. Mas a queda do Brasil na lista também foi motivada pela batalha por corações e bolsos dos consumidores entre as duas principais gigantes do ramo de material esportivo, a Adidas e a Nike. Em especial no caso da França: em 2009, a Nike investiu nos Les Bleus para conseguir o patrocínio de uma grande equipe europeia, pagando alto para tirar os franceses de sua tradicional associação com a Adidas.
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Os 42,6 milhões de euros por ano, porém, ganharam um tom ainda mais exacerbado quando, no Mundial da África do Sul, a França caiu na primeira fase e ainda foi sacudida por uma série de brigas públicas entre jogadores e comissões técnicas. Já o caso da Inglaterra, seleção que desde a Copa de 1966 jamais fez uma final de um grande torneio, a inflação é também explicada por um desempenho comercial fora do comum.
"Num ano de competições, a seleção inglesa pode vencer coisa de 3 milhões de camisas, e mesmo nos períodos de mais calmaria vende pelo menos 1,5 milhão. Isso é muito atraente para patrocinadores, com ficou provado recentemente", explica o consultor alemão, num alusão ao fim da parceira de mais de 50 anos da Inglaterra com a Umbro e assinatura de contrato com a Nike em outubro do ano passado.
Sem um mercado consumidor tão poderoso quanto os dos grandes centros europeus, ainda mais pagando alguns dos preços mais altos do mundo para material esportivo, o Brasil seria mais vulnerável à percepções de queda de qualidade por parte do torcedor – que além de vaiar ainda fecha o bolso. De acordo com projeções de Rohlmann, a seleção hoje vende menos que Inglaterra, Alemanha e Espanha. "A Espanha beneficiou-se muito dos títulos recentes, enquanto o Brasil parece estar vendendo menos, apesar de sua popularidade. Há quatro anos, falava-se que os número poderia estar num pico de 2 milhões de unidades vendidas por a no. Não creio que atualmente passe de um milhão", analisa Rohlmann.
Neste ponto, a Copa das Confederações e o Mundial ganham conotações comerciais importantes. "A marca do Brasil é muito forte, mas a seleção não tem participado de jogos competitivos e isso faz com que perca em visibilidade e emoção. O torcedor está muito mais disposto a comprar camisas quando os jogos valem títulos. Por isso a oportunidade de sediar dois grandes torneios é preciosa para o Brasil em termos comerciais. Mas há também o risco para a marca em caso de mais resultados".
Ao menos os brasileiros têm alguém de quem rir: no ranking dos 10 maiores contratos, a Argentina está em último, recebendo 8 milhões de euros por ano, atrás de Rússia, Holanda e EUA.