Numa Inglaterra em que, pelo menos no futebol, o tribalismo ainda faz dura frente ao nacionalismo, é bem capaz de aplausos se misturarem às vaias no estádio de Wembley durante o anúncio da escalação da seleção brasileira  no amistoso de quarta-feira contra o English Team. Afinal, o grupo de 20 jogadores chamados por Luiz Felipe Scolari para a partida em Londres conta com um número recorde de jogadores atuando em clubes ingleses (quatro).

No geral, a Espanha é o país mais representado na lista com cinco jogadores, mas não apresenta a mesma concentração do contingente inglês quando se trata de um clube (David Luiz, Ramires e Oscar integram o Chelsea) ou de uma cidade (além do trio do Chelsea, Londres também está representada pelo goleiro Júlio César, do Queen Park Rangers). O número poderia ter sido ainda maior não fosse a lesão no joelho sofrida pelo volante Sandro, do Tottenham, presença habitual nas convocações de Mano Menezes.

Mais do que uma questão estatística, o contingente inglês representa ainda um grupo de influência na seleção. Isso porque seus integrantes se esforçam no quesito socialização. Jantares e reuniões em Londres, por exemplo, por vezes contam com a presença de jogadores brasileiros baseados em clubes de outras regiões do país, como o volante Anderson, do Manchester United, por exemplo.

Um ponto de encontros da 'panelinha' é a cobertura de David Luiz, do Chelsea, em Putney, bairro nobre do sul de Londres, em que os jogadores se enfrentam em partidas de sinuca e fliperama. Sandro é outro anfitrião e conta ter feito uma festa de confraternização no final de 2011 em que o normalmente tímido meia Ramires teria aparecido com um uniforme do Batman.

E a presença inglesa é mais útil do que a óbvia espionagem direta do adversário desta quarta-feira. A Premier League hoje é o campeonato com o maior proporção de atletas de seleções em todo o mundo: segundo um recente estudo do Observatório do Futebol, o índice é de 42,5%. ''A Premier League é um campeonato com grande poder financeiro e atrai muitos jogadores importantes de seleções, então a gente acaba tendo a chance de estudá-los mais de perto'', opina David Luiz.

Na última cerimônia de premiação da Fifa, a Espanha concentrou os 11 jogadores da seleção mundial. No entanto, apenas 20,7% dos jogadores de La Liga atuam por representações nacionais. E a Inglaterra também acena com a maior diversidade de países representados (75). ''O Chelsea não é o único clube com mais de um jogador na seleção, mas posso falar pela minha experiência que ajuda bastante ter ao lado colegas de equipe. Temos pouco tempo para treinar com a seleção, então algum entrosamento já contribui'', diz Oscar.

O contingente inglês ainda não reflete o aumento substancial da presença brasileira no futebol de lá. Ainda que os números absolutos sejam tímidos em comparação com destinos mais tradicionais como Itália e Espanha, há brasileiros hoje em todos os clubes de ponta ingleses e alguns menos expressivos, como o próprio QPR de Júlio César ou o West Ham, que recentemente contratou por empréstimo junto ao Cruzeiro o atacante Wellington Paulista.

De acordo com as estatísticas da Premier League, o número total de brasileiros atuando na primeira divisão inglesa hoje é de 14, o maior desde que a federação de futebol do país acabou com a proibição da contratação de jogadores estrangeiros, em 1978 – e que apenas nove anos depois, com o atacante Mirandinha, ex-Palmeiras, resultou na chegada de um brasileiro.