Corinthians e Odebrecht adotam discursos distintos e ampliam impasse sobre o Itaquerão
Gustavo Franceschini e Vinicius Konchinski
Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro
-
Leonardo Soares/UOL
Em estágio avançado de obras, Itaquerão ainda não recebeu nenhum apoio estatal prometido
Parceiros na construção do Itaquerão, estádio de São Paulo para a Copa do Mundo de 2014, Corinthians e Odebrecht oficialmente seguem em lua-de-mel, mas já falam línguas diferentes longe das câmeras de TV. Os dois lados têm discursos distintos para explicar a demora para a liberação do empréstimo de R$ 400 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a obra do estádio, deixando transparecer um atrito nos bastidores dos negócios envolvendo a arena do jogo de abertura do Mundial.
O crédito federal é hoje o maior entrave do estádio, que já está em fase avançada de construção. A arena, oficialmente, vai custar R$ 820 milhões. Custos extras do estádio, porém, devem elevar seu preço para cerca de R$ 1 bilhão. No plano inicial, R$ 420 milhões seriam pagos com títulos imobiliários concedidos pela Prefeitura de São Paulo e outros R$ 400 milhões com o empréstimo do BNDES.
O financiamento estatal será intermediado pelo Banco do Brasil, que ainda não chegou a um acordo com Corinthians e Odebrecht sobre as garantias financeiras da operação. O banco informa não negociar com clubes de futebol. Diz também que precisa de envolvimento maior da construtora para liberar o empréstimo. Por isso, solicita que ela assuma a arena, se responsabilize por eventuais atrasos em pagamentos do crédito ou empenhe recursos próprios para que o financiamento saia.
Publicamente, a Odebrecht nega a intenção de assumir o controle do Itaquerão ou mesmo aumentar sua participação no estádio. A construtora informa até que o empréstimo não sai justamente porque a empresa reluta em empenhar parte do seu patrimônio como garantia do financiamento, o que já foi sugerido pelo Banco do Brasil em negociações.
O Corinthians, porém, vê todo esse impasse de forma diferente. O UOL Esporte apurou que, na visão da cúpula alvinegra, a construtora tem aberto detalhes da negociação do empréstimo à imprensa com o intuito de pressionar o clube a deixar a gestão do Itaquerão. A Odebrecht recentemente criou um braço destinado à administração de arenas. Repassar o Itaquerão à construtora, entretanto, é opção considerada inaceitável pelos dirigentes do Corinthians.
A publicação de reportagens apontando que o acordo firmado entre Palmeiras e WTorre para a construção da Arena Palestra seria um bom exemplo para o Itaquerão seria fruto da ação da Odebrecht junto aos órgãos de imprensa, segundo o Corinthians. No arena do rival, a construtora responsável pela obra é também gestora do estádio por 30 anos.
O ápice da insatisfação corintiana com a suposta movimentação da parceira se deu há pouco mais de uma semana, quando autoridades estiveram no estádio em construção para acompanhar o andamento das obras. Na ocasião, Antônio Gavioli, diretor de contrato da Odebrecht, confirmou que a obra só ficará 100% pronta após a Copa de 2014. Depois de mais um vazamento de informações, o Corinthians começou a rebater, nos bastidores, as informações da construtora.
Essa disputa velada se dá, até o momento, só nos bastidores. O UOL Esporte apurou que o tom das discussões entre Corinthians e Odebrecht tem sido respeitoso à medida do possível e adequado a um negócio do porte do Itaquerão, com discordâncias naturais. Oficialmente, o Corinthians nega qualquer atrito.
"Odebrecht e Corinthians são parceiros. Nós estamos tentando achar uma solução para fins de garantia do empréstimo para equacionar esse entrave e seguirmos na obra. Não tenho dúvida que acharemos. A Odebrecht é parceira do Corinthians. Não existe rompimento, picuinha, disse que disse... Nada disso aí?", disse Mário Gobbi, presidente do clube.
Procurada pela reportagem, a Odebrecht não se pronunciou sobre o assunto.