Romero Jucá chama de "megalomaníaco" projeto de estádio em RR para o qual pediu R$ 210 mi

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

  • Sergio Lima/Folhapress

    O senador do PMDB de Roraima disse que "pede R$ 160 milhões para conseguir R$ 40 milhões"

    O senador do PMDB de Roraima disse que "pede R$ 160 milhões para conseguir R$ 40 milhões"

O senador Romero Jucá (PMDB/RR) classificou o projeto de reforma do estádio Canarinho, em Boa Vista (RR), que foi assinado entre o governo roraimense e o Ministério do Esporte em 2010, como "megalomaníaco". O custo da empreitada seria de R$ 257 milhões, e a arena passaria a ter capacidade para 22.500 pessoas (contra as atuais 8.000) . Paradoxalmente, apesar de achar a obra exagerada, o parlamentar é autor de duas emendas que visavam transferir R$ 210 milhões do Orçamento da União para a obra.

A opinião de Jucá é a mesma do MPF (Ministério Público Federal), que instaurou inquérito para investigar a obra (que seria bancada em mais de 90% com recursos do governo federal), e conseguiu que o Ministério do Esporte cancelasse o convênio com Roraima, assinando um substituto, no valor de R$ 100 milhões, para uma reforma e ampliação que deixe o Canarinho com capacidade de 10.000 pessoas. Em 2006, a Arena da Floresta (em Rio Branco, no Acre), um estádio que segue os padrões da Fifa e tem capacidade para 14.500, foi construído a um custo de pouco mais que R$ 30 milhões.

R$ 10 MIL POR ASSENTO

  • A reforma do estádio Flamarion Vasconcelos, em Boa Vista (RR), vai custar R$ 100 milhões, graças a uma intervenção do Ministério Público Federal, que se opôs a um projeto de R$ 257 milhões e conseguiu a redução. O custo da obra será de R$ 10 mil por assento, valor igual ou maior do que em cinco dos 12 estádios que estão sendo construídos ou reformados para a Copa de 2014. LEIA MAIS

"Realmente, o projeto inicial do governo de Roraima era megalomaníaco. Quando o projeto foi divulgado, gerou muitas contestações, era muito grande para Boa Vista", explica o senador, afirmando concordar com a redução orçamentária do projeto.

O que o senador não contou foi que ele é o autor de duas emendas ao Orçamento da União, uma de 2010 e outra de 2011, para que o Ministério do Esporte transferisse R$ 210 milhões ao governo de Roraima para serem utilizados na obra do estádio.

A primeira, de R$ 28,95 milhões, foi aprovada, e a Caixa Econômica Federal já transferiu os valores para os cofres roraimenses. Já a segunda, de R$ 160 milhões, não passou.

Alertado pelo UOL Esporte sobre a incoerência existente entre taxar o projeto de megalomaníaco e, ao mesmo tempo, tentar canalizar R$ 210 milhões de verbas federais para executá-lo, o senador explicou que tudo não passa de técnica parlamentar: "É que a gente (deputados e senadores) faz uma emenda de R$ 160 milhões para ver se consegue R$ 30 milhões ou R$ 40 milhões".

A emenda de R$ 160 milhões que Jucá assinou juntamente com toda a bancada de Roraima é de 2011, quando o projeto de reforma de R$ 257 milhões ainda estava valendo. Foi só depois que o Ministério do Esporte acatou a recomendação do MPF e cancelou o convênio inicial que o senador mudou de opinião.

A emenda de 2010 assinada pelos parlamentares de Roraima mostra que os mandatários manejam o dinheiro público dotados de desinformação ou má-fé. Na justificativa do pedido que obteve R$ 28,95 milhões dos cofres federais, está escrito: "A presente emenda trata-se de uma obra que tem como objetivo desenvolver ações de infra-estrutura esportiva
com alcance social para o município de Boa Vista, o qual tem o privilégio de ser subsede para Copa de 2014".

Na verdade, como apontou o procurador da República Rogrigo Golívio Pereira, Boa Vista é apenas uma das 158 cidades do país que estão concorrendo para receber, para um período de treinos e aclimatação, uma das 31 seleções de futebol que virão ao Brasil para a Copa do Mundo de 2014.

Obras da Copa
Obras da Copa

Depois da Copa, o equipamento ficará à disposição do futebol roraimense, cujo campeonato estadual é disputado por seis equipes profissionais, tem uma média de público de 50 torcedores por partida e não cobra ingresso para os jogos. A disputa é subsidiada por governos municipais e pelo Estado.

No dia 22 de junho de 1996, quando ainda havia cobrança pelos ingressos, uma partida entre Rio Negro e Progresso atraiu um público total de um pagante. O servidor federal Abraão Pereira de Souza proporcionou uma renda de R$ 5. Cada clube ficou com R$ 1. As informações são da Federação Roraimense de Futebol.



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