Jerome, o Boateng bonzinho, entra na história da Alemanha
Luis Augusto Símon
Do UOL, em São Paulo
A família Boateng comemorou a chegada do ano em Dubai. Jerome Boateng, campeão mundial pela Alemanha, publicou fotos com os irmãos Kevin, que disputou o Mundial por Gana, e Avelina, que é modelo. Faltou George, o irmão mais velho, que abandonou a carreira muito cedo por causa de uma contusão e vive na Holanda. Tem a cidadania do país.
Uma das fotos postadas por Jerome mostrava suas filhas gêmeas no colo de Kevin. Perfeita harmonia. Mas nem sempre foi assim. Os irmãos ficaram rompidos por muito tempo por causa de uma entrada dura de Kevin em Ballack, amigo e companheiro de Jerome. A briga entre os irmãos foi na final da Copa da Inglaterra de 2010, quando Kevin, que jogava pelo Portsmouth, deu uma dura entrada em Ballack, que ficou fora da Copa da África do Sul por causa do lance. Jerome o criticou duramente e recebeu uma resposta ainda pior. "Cada um tem sua família. Não temos relação".
Foi o ponto mais frágil de uma relação que nunca foi boa. Os dois são filhos de Prince Boateng, ganês que chegou à Alemanha em 1981 para defender o pequeno Reinickedorfer. Com Christina, a primeira mulher, teve o filho Kevin-Prince em 1987. Um ano depois, já com Nina, a nova mulher, teve Jerome.
A vida dos dois foi diferente. Jerome teve uma criação menos atribulada. Uma vida de classe média, enquanto Kevin-Prince viveu em um Wedding, um bairro mais perigoso. Lá, se diz que o garoto pode sonhar com o futebol ou ser traficante.
Pouco se viam, pois as mães se detestavam. Encontraram-se e criaram laços afetivos nas categorias de base do Hertha, onde começaram juntos. Chegaram na mesma época às seleções de base, mas as indisciplinas de Kevin causaram sua expulsão. E foi jogar por Gana.
Jerome, o bonzinho, teve uma carreira sem sustos. Jogou no Hertha de 2002, quando tinha 13 anos, até 2007, quando recusou um novo contrato de cinco anos e se transferiu para o Hamburgo. Em junho de 2010 foi para o Manchester City. Assinou por cinco anos, mas se contundiu e atuou por apenas um. Em 2011, foi pra o Bayern de Munique.
Em 2010, os dois irmãos se enfrentaram na Copa. Os alemães venceram e houve um cumprimento entre eles. Começou aí a reconciliação. Em 2014, voltaram a se enfrentar.
Jerome fez uma boa Copa. Começou na lateral e depois passou para a zaga. Com 1,92 m, tem o jogo pelo alto como seu forte. Passou o Mundial atuando de forma discreta. Foi notado apenas contra o Brasil, quando, já com 1 a 0 a favor, reclamou com Marcelo, que havia tentado cavar um pênalti.
Agora está na história como o primeiro negro campeão do mundo pela Alemanha. A primeira conquista do país unificado e o símbolo de uma Alemanha multirracial. Com certeza, seu feito será comemorado também por Kevin-Prince, o irmão que optou – ou foi obrigado – a jogar por Gana. Interessante notar que ele, em 2010, esteve também perto de fazer história. Não fosse a mão de Luiz Suárez e o pênalti perdido por Asamoah Gyan, ele faria parte do primeiro time africano a chegar a uma semifinal.
A história preferiu o irmão bonzinho.