Seleção se despede de Teresópolis transformada após vexame no Mineirão
Ricardo Perrone
Do UOL, em Teresópolis
Às 13h37 desta sexta-feira, a seleção brasileira deixou a Granja Comary transformada 46 dias após sua chegada a Teresópolis para a Copa do Mundo. Um cartaz em meio aos cerca de 100 torcedores que foram se despedir do time denunciava uma das principais mudanças. Ele trazia a inscrição: "Força, Felipão, você é pentacampeão e nos brindou com uma semifinal após 12 anos". A anônima mensagem de apoio simboliza as marcas que o a Copa do Mundo no Brasil deixaram em Luiz Felipe Scolari.
No dia 26 de maio, o treinador chegou à cidade com a expectativa de entrar para a história como o técnico que levou o Brasil a dois títulos Mundiais. O primeiro, e ainda único, foi em 2002. Porém, Felipão foi embora da cidade com uma novidade indesejada no currículo: é o técnico que comandou o time nacional em seu pior resultado numa Copa do Mundo, a goleada por 7 a 1 sofrida diante da Alemanha na fase semifinal.
Cerca de duas horas antes de entrar no ônibus da delegação, Felipão havia decretado outra transformação na seleção. Essa relacionada ao atacante Fred. O jogador que iniciou a fase de preparação ostentando o posto de artilheiro da Copa das Confederações como fio de esperança para afastar a má fase, terminou o último treino do Mundial sacado do time titular. O treinador optou por Jô.
Outro cartaz, este exibido pelo torcedor Wellington Souza Vítor no momento em que o ônibus da delegação deixou a concentração, conta mais da história da seleção na Copa disputada em casa. "O Brasil perdeu porque Neymar não jogou. Sem Neymar, o Brasil não joga", escreveu Vítor numa cartolina.
Com uma vértebra fraturada por causa de uma joelhada do colombiano Zuñiga, o atacante partiu ao lado dos companheiros para Brasília, mas não enfrentará a Holanda neste sábado. Por causa da lesão, virou café com leite na seleção. Está com o time, mas não joga. Situação dramática para quem chegou à Granja Comary como principal esperança da seleção e candidato a artilheiro do torneio.
Juntamente com o sonho de Neymar, ficou para trás o desejo da equipe inteira de Felipão. Apesar de o ônibus da delegação estampar a frase "Rumo ao hexa", o destino da delegação era a disputa do terceiro lugar contra a Holanda, em Brasília. O jogo que virou estorvo é uma das sequelas deixadas pelo atropelamento alemão em Belo Horizonte, que só não mudou o ritual de incansáveis adolescentes que durante quase 50 dias bateram ponto no condomínio vizinho à concentração da seleção para espiar os ídolos. Nem a chuva e o frio no começo do treinamento afastou essa turma, que como sempre disparava gritos histéricos para os jogadores.
Também numa cena comum durante os trabalhos da seleção, outro grupo de torcedores assistiu ao último trabalho da seleção dentro da Granja. Cerca de dez convidados foram acomodados ao lado do gramado. Mas, dessa vez, não eram parentes dos atletas e nem gente levada pelos patrocinadores da seleção. Segundo a assessoria de imprensa da CBF, eram familiares de jornalistas, o que demonstra a relação entre tapas e beijos da imprensa com a seleção durante o Mundial. O relacionamento teve conversa reservada de Felipão com jornalistas com quem se dá bem, repórteres pedindo autógrafos e tirando fotos com jogadores e muitas críticas ao técnico, que devolveu mandando para o inferno quem não gosta de seu jeito de comandar a seleção.
Para o inferno ninguém foi. E nem para o Maracanã, local da decisão entre Alemanha e Argentina neste domingo, contrariando a previsão feita pelo coordenador técnico Carlos Alberto Parreira. No primeiro dia da delegação na Granja, ele disse que havia chegado a seleção campeã. Errou, como quem pintou um painel numa rua próxima à concentração da seleção com a desbotada frase "Rumo ao hexa". Depois da tragédia no Mineirão, alguém alterou o quadro com a inscrição "Não perdemos o rumo". A nova versão soa como um desejo dos moradores da cidade que também se transformou com a passagem da seleção.
A seleção brasileira deu adeus à Granja Comary nesta Copa do Mundo. A delegação deixou Teresópolis no início da tarde desta sexta-feira rumo a Brasília, onde enfrentará a Holanda na disputa do terceiro lugar. E, apesar da eliminação traumática diante da Alemanha, foi acolhida pelo torcedor que apareceu para se despedir.
Apoio da torcida
Os cerca de 100 torcedores que foram acompanhar a saída dos jogadores procuraram levantar o ânimo dos atletas após a goleada sofrida na terça-feira com faixas de incentivo. Algumas delas traziam desenhos do goleiro Júlio César e do zagueiro David Luiz.
"David Luiz, mesmo sem ir para a final, você pôs um sorriso no meu rosto. David, você é o melhor", trouxe uma das faixas. "Sou Brasil de corpo alma. Uma derrota não me fará parar de torcer. Vocês são guerreiros. Hexa em 2018", estava escrito em outra.
Os jogadores também foram recebidos com gritos de incentivo. "Com esse apoio popular, o Brasil da Holanda vai ganhar", cantaram os torcedores.
Apesar da boa receptividade dos torcedores, a maioria dos jogadores passou de forma discreta. David Luiz foi um dos poucos que acenou para o público.
O Brasil encerra sua participação na Copa do Mundo no próximo sábado, às 17h, no estádio Mané Garrincha. O técnico Luiz Felipe Scolari e o zagueiro Thiago Silva são esperados no local ainda nesta sexta para conceder entrevista coletiva.