Psicólogos apontam as falhas que levaram o Brasil a passar vexame na Copa

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Teresópolis

Como poucas vezes na história das eliminações do Brasil, o fator emocional foi protagonista. Depois do choro em fases anteriores, a seleção passou pelo maior vexame de sua história sofrendo uma pane em campo, com jogadores correndo para todos os lados, quase sempre fugindo das próprias posições.

Pensando nisso, o UOL Esporte consultou especialistas da psicologia esportiva para uma autópsia da queda da seleção. E os erros, segundo os especialistas, são muito anteriores à semifinal da Copa do Mundo.

Faltou estratégia
"Eu não deposito todas as aflições na questão psicológica. Deposito no fato deles entenderem que estavam desorganizados, sem liderança. Isso resultou naquela correria em campo. Não é só psicológico. Eles tinham noção de que não tinham equiparação à outra equipe", disse Katia Rubio, psicóloga e professora da USP.

É como se os jogadores vissem, em campo, que tudo o que pensaram para a partida deu errado. Depois de dias de preparo, a Alemanha jogou treinos, palestras e estudos da seleção no lixo, abrindo 5 a 0 com 30 minutos de jogo. Sem um contragolpe tático e estratégico que reequilibrasse a partida, cada um tentou resolver por si.

Faltou liderança
Na visão dos especialistas, o time não teve um líder dentro de campo, alguém que acalmasse os companheiros e evitasse a pane que transformou a derrota em vexame. Thiago Silva, suspenso, deveria cumprir esse papel, massa postura nas oitavas, quando se afastou dos companheiros na cobrança dos pênaltis, colocou o capitão em xeque.

"O David Luiz mostrou esse potencial quando teve espaço para isso. Poderia ser um líder se fosse formado para um espaço que o Thiago não conseguiu ocupar. Se tivesse tido mais tempo de trabalho, quem sabe", avalia João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista de Psicologia do Esporte.

Faltou experiência
O Brasil tem média de 27,8 anos. A algoz Alemanha, por exemplo, tem 25,7 anos de média. Não dá para dizer que o time verde-amarelo seja novo, nem que seja exatamente inexperiente. Dos titulares da tragédia, seis já têm um título continental de primeiro escalão no currículo. A Copa do Mundo, porém, era uma experiência inédita para boa parte da turma.

"A pressão de jogar a Copa no próprio país é muito grande", disse João Ricardo Cozac.

O perfil do grupo também pode ter a ver com essa falta de "malandragem". "O técnico brasileiro tem mania de exaltar os homens do elenco, falar em valores. Há um preconceito contra os chamados bad boys. Um time campeão tem seu bad boy", avalia o psiquiatra Roberto Shinyashiki.

Falha de motivação
Felipão vacilou justamente na sua especialidade: a capacidade de mobilizar um grupo. No meio da competição, o treinador meteu os pés pelas mãos ao revelar, em uma conversa com jornalistas mais próximos, que se arrependeu de ter chamado um dos 23 jogadores de seu elenco. O discurso, apurou o UOL Esporte, não caiu bem entre os atletas.

"Isso é um desastre para a equipe. Cada jogador fica no seu dormitório pensando que é com ele", diz Katia Rubio. "Dizer que se arrependeu é uma catástrofe. Felipão conduziu muito mal essa questão", disse João Ricardo Cozac.

Mudança de status
Quando a competição começou, Carlos Alberto Parreira disse que o Brasil estava com uma mão na taça. Era a confirmação da teoria de Felipão, que havia garantido o título em entrevistas meses antes. Não bastasse a pressão enorme nas costas dos jogadores, a comissão técnica deu um passo atrás quando o mata-mata começou.

"É normal que a gente sinta algum incômodo, alguma ansiedade, principalmente em mata-mata, quando a gente não pode errar e perder. É normal que a gente fique mais assustado e nervoso, não é por ser no Brasil. A gente sabe que a cada fase que a gente passa a gente tem mais chance", disse Luiz Felipe Scolari antes do jogo contra o Chile, nas oitavas.

"Isso desarticulou os atletas. De uma hora para outra o time deixou de ser o favorito?", disse João Ricardo Cozac.

Faltou psicologia de verdade
Nada contra Regina Brandão, diga-se. "Ela não é um pouco competente não, ela é muito competente", adverte Roberto Shinyashiki. Só que a presença da psicóloga na seleção foi menos constante do que gostariam os especialistas. "Você tem de ter o psicólogo como parceiro, e não como consultor. A psicologia do esporte tem mais a oferecer que essa metodologia de trabalho", disse João Ricardo Cozac.

Regina foi à Granja Comary no início da preparação para traçar perfis dos convocados. Depois, acompanhou tudo de longe e só voltou a ter contato com os jogadores depois de um pedido especial de Felipão, depois do time superar o Chile nas oitavas.

"Você vê a Alemanha, que tem um trabalho de base nos aspectos tático, físico e psicológico. Eles têm psicólogos do esporte monitorando as concentrações desde os times menores', explica Cozac. 

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