Promotor revela intimidação da Match em ação contra cambistas; empresa nega

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • Osvaldo Praddo/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

    Promotor diz que sócio da Match tentou intimida-lo ao prender Raymond Whelan (foto)

    Promotor diz que sócio da Match tentou intimida-lo ao prender Raymond Whelan (foto)

Uma ação conjunta do Ministério Público e da Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu na tarde de segunda-feira o diretor executivo da Match Services, Raymond Whelan, suspeito de fazer parte de uma quadrilha internacional que vendia ilegalmente ingressos da Copa do Mundo. Whelan foi detido no hotel Copacabana Palace, local onde está hospedada a cúpula da Fifa durante o Mundial de 2014. Antes de ser levado à delegacia no carro da polícia, um dos sócios da Match, Enrique Byrom, tentou intimidar agentes envolvidos na operação para que eles não prendessem Whelan.

Isso é o que revelou o promotor Marcos Kac, da 9ª PIP (Promotoria de Investigação Penal) do Ministério Público. Kac disse na terça-feira ter sido abordado por Byrom dentro do Copacabana Palace. Ele afirmou que Byrom tentou desencorajar a prisão de Whelan dizendo que conhecia "pessoas acima" do promotor. Por isso, a prisão do executivo da Match não levaria a lugar nenhum. Policiais que prenderam Whelan confirmaram a tentativa de intimidação.

Em nota, a Match informou que Byrom procurou o promotor Kac durante a operação que resultou na prisão de Whelan. A empresa, no entanto, informou que Byrom só falou com Kac porque ele não entendia a forma como a Match trabalha a venda de ingressos da Copa do Mundo. Isso teria levado ele e outras autoridades a conclusões equivocadas. A empreda declarou também que a Match não tem nada a temer ou a esconder das autoridades (leia nota completa abaixo).

Para Kac, contudo, não há dúvidas que houve uma tentativa de intimidação. "Byrom, que é um senhor de cavanhaque e gordo, veio me dizer que não sabíamos nada do que estávamos fazendo", contou o promotor. "Ele veio e me disse: cuidado. Conhecemos todos os ministros. Isso [a prisão de Whelan] não vai dar em nada."

De fato, a prisão de Whelan teve pouco efeito prático já que horas depois ele foi solto. Pagou uma fiança de R$ 5 mil reais, comprometeu-se a não deixar o país, o obteve autorização judicial para voltar ao Copacabana Palace. 

Para o promotor, Byrom não tinha como saber que Whelan seria libertado horas depois. Porém, ele mostrou certa arrogância frente aos resultados alcançados pela polícia e o Ministério Público na operação batizada de Jules Rimet. A operação já prendeu 12 pessoas. Dessas, 11 continuam presas.

Todos os envolvidos devem responder pelo crime de cambismo e associação criminosa, segundo a polícia. Advogados de Whelan, porém, devem tentar na Justiça a anulação de toda a operação que resultou nas prisões. Os advogados também dizem que Whelan é inocente.

Quem é Byrom?

Além de sócio da Match, Byrom é um dos cabeças da empresa, parceira há muitos anos da Fifa. Byrom é mexicano e figura conhecida dentro da entidade máxima do futebol. Tem conexões com dirigentes da cúpula da Fifa. Em negociações com hotéis, é apresentado até como diretor da Fifa e usa um terno com o símbolo da organização. Oficialmente, Byrom é CEO da Match Services.

A relação Byrom com a Fifa foi deslindada pelo livro "Um jogo cada vez mais sujo", escrito pelo inglês Andrew Jennings e lançado no dia 5 de maio deste ano.

Um dos capítulos mais polêmicos da obra é o sétimo, que fala sobre a caixa-preta de entradas para a Copa do Mundo. "Existe um mundo negro que os fãs do futebol não conhecem, que é o mundo dos negócios de ingressos. Há 209 associações nacionais de futebol na Fifa, como a CBF no Brasil. Algumas são bem honestas, mas a maioria não é. As associações nacionais pedem ingressos aos Byrom [Enrique e Jaime Byrom], que os fornecem em nome de Blatter e da Fifa. Os negociadores vão até essas pessoas em diferentes países da África, da Ásia e alguns da Europa – especialmente os do antigo bloco soviético – e conseguem ingressos com eles", disse Jennings em entrevista ao site da "Agência Pública".

Segundo Jennings, o negócio foi muito lucrativo em 2006, na Alemanha, mas teve menos sucesso na Copa de 2010. Ingressos corporativos e de camarotes estiveram entre os menos vendidos do Mundial disputado na África do Sul.

"Existem três diferentes contratos entre os Byrom e a Fifa. Um é para os 3 milhões de ingressos para todos os jogos que vocês vão ter no Brasil nos próximos meses. Esses ingressos são para pessoas como eu e você ficarmos nas arquibancadas de concreto gritando e torcendo pelos times. Outro é para acomodação, porque nós estrangeiros e vocês brasileiros de outras cidades precisam de um lugar para ficar. Então os Byrom reservam uma grande quantidade de quartos, perto da Copa do Mundo percebem que não venderam todos e começam a se livrar deles. A terceira coisa é a Match Hospitality, da qual os Byrom são acionistas majoritários, da qual o Philippe, sobrinho do sir Blatter, tem 5% e outros grupos também têm ações… A Match é responsável pela hospitalidade, que são aqueles grandes e caros camarotes de vidro nos estádios, todos novos, pagos, em sua maioria, pelos contribuintes. Tem muito dinheiro na hospitalidade", explicou o jornalista.

Oirmãos Byrom conheceram Blatter em 1986. Os dois eram próximos de Guillermo Cañedo, que era vice-presidente da Fifa e comandava o futebol no México.

"Os Byrom prosperaram, mudaram-se para a Inglaterra, e hoje administram uma enorme fatia das gigantescas operações da Copa do Mundo da Fifa em um moderno edifício de dois andares, localizado em um parque comercial nos subúrbios verdejantes do sul de Manchester, perto do aeroporto internacional. Uma de suas empresas é a Byrom Holdings, cuja sede fica na Ilha de Man, território em que não precisam publicar seus balancetes. Uma de suas contas bancárias fica em Sotogrande, na Espanha. Os irmãos Byrom moram em agradáveis casas de luxo na área rural do condado de Cheshire, ombro a ombro com astros dos dois clubes de futebol de Manchester", escreveu Jennings.

O que diz a Match

Confira a íntegra da resposta da Match sobre a declarações do promotor Kac.

A respeito de um comunicado que o promotor Sr. Marcos Kac fez a jornalistas, o Sr. Enrique Byrom gostaria de salientar o seguinte:

Sr. Enrique Byrom lamenta o fato de o Sr. Marcos Kac não tentar falar com a MATCH Hospitality, de modo a obter informações em primeira mão sobre como MATCH Hospitality funciona.

Sr. Byrom disse ao promotor, o Sr. Marcos Kac, com todo o respeito que ele (Sr. Kac) não entendia a venda de pacotes de hospitalidade jogo.

Sr. Byrom simplesmente declarou que não havia nada para MATCH Hospitality para ocultar ou medo.

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