De xaveco de jogador a voz de prisão: o que rola na grade do CT da seleção

Luiza Oliveira e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em Teresópolis (RJ)

Um lugar se tornou emblemático na preparação da seleção brasileira: a grade que virou camarote e ponto de encontro entre torcedores e jogadores da seleção. O lugar mais badalado da Granja Comary reúne histórias curiosas nas duas semanas de preparação que vão de casos de polícia até uma paquera entre jogador e fãs.

A cerca separa o condomínio ao lado do CT do campo 2 e representa o único contato entre os ídolos e fãs. Quase diariamente, os atletas atendem os fãs após os treinos. Na última segunda-feira, chegaram a ficar duas horas em uma papo que rendeu até um xaveco diante das fãs assanhadas.

O meia Bernard respondeu de bate pronto ao ser parado por uma menina que denunciou a amiga. "Ela é apaixonada de verdade por você". "Não fala assim que eu estou solteiro", disse o meia. E , quando todos os torcedores pediam uma peça do uniforme como recordação, o jovem disse que não era permitido, mas mudou de ideia diante de uma fã bem mais interessante que os rapazes. "Para você eu dou o meião", brincou.

Se Bernard estava soltinho, a dupla de atacante Hulk e Fred era a mais assediada. Os gritos de "Fred, lindo" eram ouvidos à distância. Algumas foram ainda mais ousadas. "Ai quero apertar esse bumbum', se derreteu uma fã o observar de pertinho os atributos nada futebolísticos de Hulk. Depois de conseguir o sonhado 'selfie', se debulhou em lágrimas. "Ele é perfeito".

Enquanto algumas meninas choravam, outras gritavam desesperamente. Os meninos subiam em árvores na tentativa de um melhor posicionamento. O arsenal de máquinas fotográficas, telefones celulares, álbuns de figurinhas e bola Brazucas para serem fotografadas explorou toda a paciência dos atletas.

O zagueiro David Luiz incorporou seu papel em campo e deu uma de xerife, ou melhor, de general. Com muito bom-humor, tentava organizar, em vão, a bagunça. "Calma, gente. Um de cada vez", "Você fica aqui, você entra na fila", "É assim que fala? Pede por favor" foram frases constantes ditas pelo jogador que levou os fãs às gargalhadas.

Não foi à toa que foi o último a atleta a deixar o local por volta de 18h45, quase duas horas após o fim do treino.

Se nem David Luiz conseguiu pôr ordem na casa, os policiais e seguranças também tiveram dificuldades de conter as centenas de pessoas que moram no local ou, em sua maioria, são convidados de condôminos.

Apenas nos dois últimos dias, duas invasões de campo e até uma ameaça de prisão aconteceram no local. Um torcedor fez um avião de aeromodelismo sobrevoar em um dos treinos. A Polícia Militar interveio e ameaçou o rapaz de prendê-lo.

Segundo o tenente Tiego Wagner, responsável pelo Batalhão que fica na Granja, o objeto infringiu as regras da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) ao invadir o espaço aéreo sem autorização. Os policiais orientaram que ele interrompesse a brincadeira. Caso contrário, o equipamento seria apreendido e o responsável seria levado para a delegacia.

A segunda-feira, também teve uma invasão de campo. A dançarina Amanda Bueno, integrante do grupo de funk Jaula das Gostozudas, pulou o muro de uma casa para entrar no condomínio. Não satisfeita, pulou a cerca e entrou no campo. Atingiu o objetivo de agarrar o atacante Hulk e garantiu uma foto antes de ser retirada pelos seguranças.

No domingo, foi o menino Bernardo Ramos, de oito anos, quem roubou a cena ao invadir o campo com a ajuda do pai. Ele foi cercado por seguranças e estava sendo retirado de campo, quando foi salvo por Neymar. O garotinho foi apresentado aos outros jogadores e fez a festa tirando as fotos.

Essas não foram as únicas vezes em que a cerca virou motivo de polêmica. Antes mesmo de a seleção brasileira chegar, a grade criou discórdia entre a CBF e moradores do condomínio. A entidade colocou tapumes no local, cerca de dez dias antes da apresentação da seleção. O pedido foi de Felipão que queria mais tranquilidade nos treinos.

Mas, revoltados com a perda da visão da paisagem do vasto local verde e, principalmente, com a chance de ver a seleção, os moradores do local protestaram. A seu favor, eles tinham um documento que proibia instalações de cercas de mais de 1,40m no local. Após as reclamações, os tapumes foram retirados. Mal sabiam eles, que a bagunça estava para começar. "Se eu soubesse que seria essa baderna aqui, teria deixado os tapumes", desabafou um dos moradores.

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