Nada de cabeça baixa. Seleção fala grosso e enfrenta críticas
Gustavo Franceschini
Do UOL, em Fortaleza
A vaga conquistada nos pênaltis deixou a seleção na mira dos críticos. Todos os defeitos do time foram passados a limpo nos últimos dias. A reação do grupo, que estava sendo acusado de ser frágil demais, foi uma postura firme: encarou os problemas de frente. Sob a batuta de Luiz Felipe Scolari, Thiago Silva e Neymar deram a cara a tapa. Falaram grosso e passaram uma imagem bem mais forte antes da partida contra a Colômbia, nesta sexta, às 17h, do que a deixada anteriormente.
Quer um exemplo? Quem dá é Neymar. "Porque vocês estão jogando sem aquela alegria característica do futebol brasileiro?", perguntou um jornalista. "Alegria sempre teve", disse o camisa 10, irritado. "É que a gente não está vendo", rebateu o repórter. "É porque você não está em campo e você não sabe. Alegria não é só no 4 a 0 ou no 5 a 0. Se a gente estiver aqui para ganhar de meio a zero está bom. A gente está aqui para vencer. A gente quer se comprometer, sair vencedor e depois avalia se foi com show ou não".
A fala firme é uma resposta direta às críticas que o Brasil recebeu depois de passar do Chile somente nos pênaltis. O time que venceu a Copa das Confederações de 2013 ainda não apareceu na Copa do Mundo, e nas oitavas o componente psicológico entrou em cena. O choro e o abalo emocional de alguns atletas na iminência de uma eliminação fez a imprensa questionar o emocional do grupo, especialmente o do capitão Thiago Silva.
"Não tenho nada engasgado, muito pelo contrário. Não escutei muitas coisas. Mas eu acho a coisa mais natural essa pressão, esse comentário. Para mim, não vai agregar em nada, não vai me ajudar. Em termo de psicológico, a gente está bem. Quando a gente se entrega pelo o que a gente ama, é normal a gente descarregar. A pressão é muito grande para ganhar. Eu me entrego e a descarga foi por isso. Não tem como não se emocionar quando faz com gosto", disse o zagueiro.
Um dos principais motivos para a instabilidade partiu o próprio grupo. Incomodado com a pressão, Luiz Felipe Scolari convocou seis jornalistas mais próximos para uma conversa em que abriu alguns problemas do time. Questionado sobre a atitude, o treinador seguiu os pupilos e abriu fogo.
"Adorei. Sempre fiz isso, gente... Agora, se eu não puder fazer as coisas que gosto de fazer, se tenho que ser pautado pra fazer A ou B, não adianta, eu vou fazer. Gostou, gostou, não gostou, vai para o inferno", disse Felipão, sem meias palavras.
A fala firme mostra um perfil bem diferente do abatimento que se previu após a classificação suada contra o Chile. Em conjunto, Neymar, Thiago Silva e Felipão exibem uma seleção disposta a mudar a percepção que se tem dela até agora. A própria presença dos jogadores nas entrevistas mostra isso.
Desde que Felipão assumiu o comando da seleção, Neymar tem sido poupado dos microfones para que possa render em campo com mais liberdade. Até agora, na preparação para a Copa do Mundo, o camisa 10 só havia falado uma vez: na véspera do jogo contra a Croácia. No olho do furacão, porém, ele deixou a ideia de preservação de lado e encarou os microfones.
Thiago Silva, por sua vez, mostrou virtude ao não fugir da entrevista coletiva que tradicionalmente dá ao lado de Luiz Felipe Scolari, nos dias pré-jogos. Questionado por ter se afastado do grupo no momento da cobrança de pênaltis, ele rebateu todas as perguntas que colocavam em xeque o seu abalo emocional.