E no café, quem é melhor? Brasil ou Colômbia?
Adriano Wilkson e Felipe Pereira
Do UOL, em São Paulo
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AP Photo/Jaime Puebla
A colheita manual que só retira os melhores grãos é um dos diferenciais do café colombiano
A Colômbia joga nesta sexta-feira querendo mostrar que pode fazer frente ao Brasil nos gramados. Mas no mercado mundial de café eles conquistaram espaço e há muito tempo disputam consumidores mundo afora. A diferença é que no comércio internacional os dois países podem conviver, enquanto na Copa só um continuará na competição.
Se a seleção tem James Rodrigues, o café colombiano também tem um herói: Juan Valdez. O personagem simboliza o pequeno agricultor e foi peça importante de marketing. A ligação do país com o produto é tão grande que o time é conhecido como seleção cafetara. Confira os detalhes que fazem Brasil e Colômbia ter uma briga ferrenha quando se trata de café.
Café colombiano é mais caro
Se nos gramados o time brasileiro é mais valioso que o colombiano, no mercado internacional de café ocorre o contrário. O preço do produto colombiano é cerca de 25% mais elevado que o nacional.
De acordo com a Organização Internacional do Café, em média a saca de 60 quilos custa US$ 195 quando a origem é a Colômbia. A brasileira sai por US$ 152. O diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Guilherme Braga, atribui a diferença aos métodos de preparação.
Grão colombiano é melhor do que o brasileiro
Quando a Cordilheira dos Andes entra no território colombiano, ela forma dois vales de solos originados por cinzas de vulcão, o que aumenta a fertilidade. A altitude, as temperaturas amenas e a composição do ar contribuem para a produção de um grão de maior qualidade do que o brasileiro.
Mas o principal fator de diferenciação do café colombiano são os processos de colheita e pós colheita. Como a produção lá é feita principalmente por pequenos agricultores, a colheita é manual, o que garante a escolha apenas dos grãos ideais. Depois disso, o café também é lavado, diferentemente no que ocorre nas principais fazendas brasileiras.
Café brasileiro é mais simples
Enquanto no Brasil se dá mais ênfase à quantidade, os colombianos preferem conferir maior qualidade a seu produto, o que permite cobrar mais caro. De acordo com o barista Emílio Rodrigues, proprietário da Casa do Barista, no Rio, o grão colombiano tem maior diversidade aromática e, quase sempre, é mais ácido do que o brasileiro.
"O café brasileiro, em geral, é menos diverso, mais "simples", mas por isso mesmo é usado como base de quase todos os blends", afirma Rodrigues. "Como o grão colombiano é muito ácido, você precisa balancear a mistura com uma variedade mais suave. É por isso que se diz que em cada xicara de café bebida no mundo, o grão brasileiro está presente."
Brasil vende mais, Colômbia vende mais caro
Os colombianos investiram na qualidade porque não tinham volume para concorrer com os brasileiros. O diretor-geral Cecafé, Guilherme Braga, explica que aqui existia pouco interesse em seguir este caminho até a década de 1990 porque havia cotas de exportação da OMC.
Isto significava um limite para quantidade de café exportado. Mesmo que um produto de maior qualidade fosse entregue, o produtor nacional não teria retorno pelo investimento porque não aumentaria a quantidade de vendas.
Café faz parte da identidade nacional da Colômbia
"Você quer conseguir um inimigo colombiano? Fale mal do café deles", afirma o barista Emilio Rodrigues. O grão é mais do que um produto importante da balança comercial do pais, também constrói discursos de identidade nacional. "O povo colombiano se orgulha de ser conhecido mundialmente como 'cafetero'. Os valores da produção do café estão presentes na sociedade", afirma Luis Fernando Sampes, gerente da Federação Nacional de Cafeicultores da Colômbia.
No Brasil, ocorre o contrário. "O Brasil tem a maior produção mundial de café, mas o brasileiro acha que bom mesmo é o café da Itália, que não produz quase nada", afirma o barista Rodrigues.
Brasil vende e fatura muito mais
Um terço de cada xícara de café no mundo é feita com grãos brasileiros afirma Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café. Dados da Cecafé mostram que o país lidera as exportações mundiais com 32,5 milhões de sacas, o que rendeu US$ 6 bilhões ano passado.
Enquanto isso, a Colômbia vendeu a outros países 10,5 milhões de sacas e os negócios renderam US$ 1,8 bilhão.
Brasil ganha também em produtividade
O Brasil pode ter o preço médio inferior ao dos colombianos, mas tratando-se de produtividade o adversário não dá nem para o começo. A média nacional é de 26 sacas para cada hectare. O número é o dobro do principal rival que produz 13 sacas por hectare. O método mecanizado presente em quase metade das propriedades é a causa do desempenho singular.
Empate nos portos
A diferença nos volumes exportados é grande, mas o tamanho das economias do Brasil e da Colômbia também. Por este motivo, a participação do café no total de vendas para outros países é semelhante. O produto representa 3% das exportações colombianas e 2,3% das brasileiras.
A diferença fica a cargo do principal parceiro comercial. Os produtores nacionais vendem principalmente para a Europa e os colombianos para os Estados Unidos.
Café gera mais empregos no Brasil do que na Colômbia
De acordo com a Federação Nacional de Cafeteros de Colombia, a cultura do produto emprega 500 mil famílias que plantam numa área de 974 mil hectares. Os números são grandes, mas impressionantes mesmos são os dados brasileiros.
A Cecafé informou que a cadeia do café emprega 6 milhões de pessoas no país. A área plantada é de 2,2 milhões de hectares.
Colômbia e o personagem
Desde a década de 1950, a Colômbia vem investindo pesado no marketing de seu café. Foi criado o personagem Juan Valdez, a personificação do pequeno cafeicultor, que ajudou a aumentar o valor agregado do café colombiano. O discurso publicitário transmitiu a ideia de que na Colômbia, a produção é muito mais tradicional e ecológica, em oposição aos processos mecanizados do agronegócio brasileiro.
A estratégia ajudou a posicionar o café colombiano como uma marca pela qual se pode pagar mais porque ele não seria uma simples commodity, como no caso brasileiro.