Alemanha põe à prova união de gerações e flexibilidade do seu estilo

Danilo Valentini

Do UOL, em São Paulo

  • REUTERS/Eddie Keogh

    Özil, Kroos, Schweinsteiger e Muller jogaram o Mundial de 2010 e estão na Copa de 2014

    Özil, Kroos, Schweinsteiger e Muller jogaram o Mundial de 2010 e estão na Copa de 2014

Muito do que a Alemanha colocará em campo nesta segunda (30), às 17h, no Beira-Rio, começou a ser planejado, de certa forma, a partir da decepção da Copa do Mundo de 1998 e do fracasso retumbante da Eurocopa de 2000. Foi a partir dali que a Federação Alemã de Futebol decidiu agir. Matthäus e Klinsmann já haviam feito história e ponto final. Era hora de renovar e dar sequência ao trabalho até dar unidade à equipe. E deixá-la pronta de forma planejada e organizada. Processo que pode ter chegado ao seu ápice exatamente agora, no Brasil.

Juntando figuras importantes nas Copas de 2002, 2006 e 2010, a Alemanha dirigida por Joachim Löw tem a partir do confronto com a Argélia uma chance que pode ser derradeira para aproveitar a união de jogadores que foram se integrando naturalmente em um processo que se iniciou em uma fase de derrotas da seleção. E que, muito provavelmente, não terá algumas de suas principais peças disponíveis para o Mundial da Rússia, em 2018.

Klose (2002), Lahm, Mertsacker, Podolski, Schweinsteiger (2006), Neuer, Khedira, Boateng, Kroos, Özil e Müller (2010) representam a soma de forças que foram surgindo depois de um árduo trabalho de renovação que a Federação Alemã de Futebol decidiu adotar a partir dos tombos tomados.

Eliminada com um 3 a 0 para a surpreendente Croácia nas quartas-de-final da Copa da França, a então tricampeã do Mundo fez papelão dois anos depois, quando empatou com a inexpressiva Romênia e perdeu para Inglaterra e Portugal, jogando fora, ainda na primeira fase, seu status de atual campeã da competição disputada na Bélgica e na Holanda. Era o fundo do poço e o ponto de partida para uma revolução que envolvia maciço investimento nas categorias de base e, mais do que isso, olhar clínico para não desperdiçar a experiência como um fator importante para fazer uma equipe se desenvolver.

Olho nos jovens

As coisas começaram a acontecer de forma contínua a partir de 2001, quando a Federação Alemã passou investir 10 milhões de euros anuais na formação de novos talentos, introduzindo medidas para atrair jovens que, selecionados, eram distribuídos entre os clubes do país para cumprirem uma programação de treinamentos, cinco dias por semana. Um campeonato nacional de juniores foi formado, e um prazo foi pré-determinado: 2006. Era durante a Copa que seria disputada em casa que a nova Alemanha começaria a mostrar sua cara.

Em 2002, porém, uma surpresa. Uma equipe formada por alguns remanescentes de 1998 (Kahn, Jeremies, Bierhoff) e jogadores que passaram a integrar a seleção logo depois da Copa jogada na França, como Ballack, decidiram antecipar o sucesso para a seleção alemã, que não chegava à uma final de Mundial desde 1990, quando venceu a Argentina. Desta vez, entretanto, restou o vice-campeonato, uma erguida na moral e uma referência.

Apesar de Ballack ter sido o motor que empurrou a Alemanha até a final, foi Klose que começou a construir uma história realmente duradora pela seleção. Autor de cinco gols em sua primeira Copa, aos 23 anos, o polonês naturalizado entrou no Mundial de 2006 como uma importante figura para o processo de renovação que ganhou novo fôlego a partir da chegada de Jürgen Klinsmann ao comando técnico da Mannschaft (o termo pelo qual a Alemanha trata sua seleção).

Ex-jogador em três Mundiais, Klinsmann foi o responsável por colocar em prática na seleção o processo de renovação que vinha sendo aplicado pelo futebol alemão. E a dar espaço para que o lateral Lahm (22 anos), o zagueiro Mertsacker (21), o volante/meia Schweinsteiger (21) e o atacante Podolski (21) oxigenassem a equipe e dessem mobilidade ao esquema tático da equipe, agressivo e direto, perfeito para Klose marcar mais cinco gols na Copa de 2006.

O título não veio. O terceiro lugar e a campanha que voltou a orgulhar o torcedor alemão, entretanto, deram a certeza de que o trabalho estava funcionando. E que a continuidade era a única coisa que deveria ser adotada naquele momento.

E assim foi: o artilheiro que já somava 10 gols em Copas seguiria integrado ao quarteto de 2006, e que passaria a contar com uma nova leva de jovens talentos. Entraram o goleiro Neuer (24 anos), o zagueiro Boateng (21), o volante Khedira (23) e os meias Kroos (20) e Özil. A fórmula funcionou, e a Alemanha brilhou.

Com partidas fenomenais contra a Inglaterra (4 a 1, nas oitavas) e a Argentina (4 a 0, nas quartas), o trabalho de 2006 estava comprovadamente consolidado pelo sucessor de Klinsmann, Joachin Löw. Um gol de cabeça de Puyol na semifinal, porém, fez a Espanha furar a fila e fazer a sua geração renovada ganhar antes um título mundial.

Tudo passa pela Bahia

E foi com esse espírito de que as coisas atrasaram um pouco que a Alemanha chegou ao Brasil. O planejamento, então, ganhou atenção especial. Foi decidido, por exemplo, construir a própria base da seleção, em Santa Cruz de Cabrália, na Bahia. Um complexo de 13 casas e 65 quartos à beira-mar e que só é acessado por balsa. Um isolamento que, na teoria, provava que os alemães buscariam concentração no isolamento e na suposta frieza de seu temperamento.

Outro engano. Os alemães viraram sinônimo de carisma no que se convencionou chamar de "Copa das Copas" nas redes sociais desde que o Mundial começou e engrenou. Neuer e Schweinsteiger apareceram cantando o hino do Bahia, Podolski tirou foto com militares fazendo pose e Klose comemorou seu aniversário com um cocar de índio. O mito da frieza estava enterrado. E o astral da seleção alemã, renovado. Ingrediente que possa ser a alavanca que a Alemanha coroe seu processo de renovação com um sorriso no rosto. E um quarto título mundial em sua galeria de glórias.

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