Klinsmann: o "filho do padeiro" que estudou e brigou para encarar seu país

Do UOL, em São Paulo

  • AFP PHOTO/ FRANCISCO LEONG

    O técnico da seleção dos Estados Unidos, o alemão Jürgen Klinsmann

    O técnico da seleção dos Estados Unidos, o alemão Jürgen Klinsmann

Jürgen Klinsmann é um acumulador. O alemão coleciona 11 gols em Copa do Mundo, um título mundial e uma Eurocopa com sua seleção dentro de sua trajetória como o centroavante inteligente e agressivo que fez história nas décadas de 1980-90. Sua personalidade, porém, é o que lhe garantiu um lado B na arte de acumular: apelidos, desavenças e inimigos que servem de combustível para idealizar projetos e atingir seus objetivos.

Prestes a completar 50 anos (em 30 de julho próximo), o alemão chamado no início de carreira "filho do padeiro" deixou a arte da panificação herdada de sua família para virar jogador de futebol. Nesta quinta, às 13h (horário de Brasília), ele se dirigirá ao banco de reservas da Arena Pernambuco com a missão de referendar tudo o que fez acreditando ser o certo desde que deixou a carreira de jogador: se dedicar aos estudos de marketing esportivo no país em que, anos depois, o abraçaria para ser o técnico num duelo justamente contra a sua pátria.

Comandante da seleção dos Estados Unidos desde 2011, o ex-atacante vai enfrentar um adversário que é muito mais do que a seleção que representa o seu país de origem. A Alemanha que tenta garantir a liderança do Grupo G tem parte fundamental de sua escalação como uma herança direta das decisões tomadas por Klinsmann entre 2004 e 2006, quando dirigiu a seleção alemão.

Lahm, Mertsacker, Schweinsteiger e Podoslki foram alavancados para a seleção alemã terceira colocada no Mundial de 2006 por Klinsmann, que assumiu a equipe no lugar de um desmoralizado Rudi Völler, que se demitiu do cargo após a eliminação na primeira fase da Eurocopa de 2004.

Inimigos íntimos

A decisão de apostar em jogadores tão jovens, que tinham o suporte do não tão mais experiente Klose – também remanescente daquela equipe na Copa disputada no Brasil – provocou muitas desconfianças no universo do futebol alemão. Seus métodos e apostas, então, detonaram birras que se arrastam até hoje.

Primeiro foi a decisão de trocar o famoso uniforme número 2 da Alemanha, tradicionalmente verde, cor do escudo da confederação alemã de futebol. Klinsmann decidiu que o vermelho representaria mais a agressividade que ele desejava para uma equipe renovada e que jogaria uma Copa do Mundo em casa. E principalmente por demitir Sepp Maier, o lendário goleiro da seleção alemã nas Copas de 1970, 1974 e 1978. Maier deixou o cargo de treinador de goleiros em uma briga que envolvia diretamente Oliver Kahn.

Preterido por Klinsmann, que apostou em Lehmann como seu titular para a Copa, o goleiro eleito pela Fifa como o melhor jogador da Copa do Mundo de 2002 ganhou o apoio de Maier, seu mentor. Para encurtar a história, o técnico que não tinha medo de comprar brigas não fugiu da raia e afastou Maier, numa decisão altamente impopular com os torcedores.

Suas decisões pouco ortodoxas, assimiladas durante estudos de marketing nos Estados Unidos, para uma Alemanha que sempre seguiu seus próprios métodos também ajudaram a deixá-lo na mira dos críticos: confortável nos EUA, recusou-se a voltar a morar na sua terra-natal, contratou um preparador físico americano, um observador suíço e decidiu que um psicólogo seria fundamental para dar suporte a jovens jogadores. Introduziu treinamentos com pesos e práticas de handebol.

Novidades que, elogiadas a princípio por Franz Beckenbauer, técnico de Klinsmann na Alemanha campeã mundial em 1990, acabariam sendo alvo de críticas quando os resultados nos amistosos que antecederam o Mundial de 2006 mostraram-se desastrosos, como uma goleada por 4 a 1 sofrida para a Itália.

O desempenho na Copa de 2006, entretanto, não só surpreendeu como fez Klinsmann derrubar as críticas que o perseguiram durante a preparação para a competição. Saiu do comando após a conquista do terceiro lugar por decisão própria depois de apelos por sua continuidade e ganhou força para assumir o clube mais popular da Alemanha, o Bayern de Munique.

As coisas por lá, porém, não só deram completamente errado como renovaram o rol de inimigos íntimos, colecionados desde sua passagem pelo clube como jogador, período em que rompeu de vez com Lothar Matthäus. O meia, capitão e ícone da seleção alemã, acusava Klinsmann de fazer lobby para que ele não jogasse a Eurocopa de 1996 - por ironia, Matthaus se machucou e realmente não jogou a competição, vencida pela Alemanha liderada por ninguém menos que Klinsmann.

Decidido a mudar conceitos do clube, Klinsmann convenceu o Bayern de Munique a investir quatro milhões de euros em modificações na estrutura, que incluíam um altar budista, uma biblioteca e a contratação de intérpretes para as entrevistas coletivas. Os resultados em campo não justificaram as mudanças e o investimento, e após uma goleada por 5 a 0 para o Wolfsburg, o técnico dançou antes mesmo do final de sua primeira temporada no Bayern, em abril de 2009.

Preparando o terreno

Klinsmann voltaria a trabalhar quase dois anos depois, quando aceitou dirigir os Estados Unidos. Sua afeição a comprar brigas continuou intacta, o que ficou evidente na formulação da lista de convocados da equipe para a disputa do Mundial no Brasil. O corte de Donovan, maior artilheiro da seleção americana em Copas – cinco gols  -, evidenciou que havia problemas de relacionamento entre os dois – o que não foi negado pelo atacante nas entrevistas após a sua exclusão da delegação.

A decisão é apenas uma entre tantas que Klinsmann considera como acertada na preparação dos EUA. Foi ele que achou importante vir para o Brasil em janeiro deste ano. Durante duas semanas, o elenco de 26 jogadores treinou no CT do São Paulo, fez um amistoso contra o time B do anfitrião e testou sua adaptação ao forte calor, o que era esperado pela comissão técnica como clima padrão dos três jogos da primeira fase.

Os Estados Unidos percorreram na fase de grupos 5.608 km, em jogos disputados em Natal, Manaus e Recife, local da partida desta quinta. "Não estamos com medo do calor. É sempre bom jogar no mesmo clima. Vai ser desafiante. Estaremos bem preparados", disse Klinsmann na ocasião. Errado ele não está: os EUA jogam hoje precisando de um empate para avançar às oitavas-de-final.

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos