Cambista deita e rola na Copa e já planeja burlar a Fifa em russo em 2018

Luiza Oliveira

Do UOL, em Belo Horizonte

O dia começou quando a noite mal havia terminado. Às 7h, apenas duas horas depois de dormir, Júlio César dos Santos já estava de pé para tomar um banho e ir para a rua. O trabalho começa com uma sinfonia de toques de três telefones celulares. E as mesmas mãos malabaristas que equilibram os aparelhos comandam o volante do carro que circula por Belo Horizonte durante o dia inteiro.  

A correria é grande, porém necessária, especialmente nas vésperas de um jogo do Brasil na Copa do Mundo. Nego Gato, como é conhecido, é o cambista mais famoso de Belo Horizonte e trabalha contra o tempo para vender ingressos para a partida válida contra o Chile pelas oitavas de final neste sábado, às 13h, no Mineirão.

A rotina vem sendo intensa desde que começou a vender entradas para o torneio: pouco tempo de sono, refeições fora de hora, dias sem um banho caprichado e mal tem tempo para a esposa e a filha. Só assim para atender todas as chamadas de torcedores desesperados por ingressos.

Mas o esforço não tem sido em vão. Ele está deitando e rolando na Copa do Mundo. Apenas nesta sexta-feira, um dia antes da partida, atendeu 40 pessoas com um lucro generoso de R$ 200 por entrada. Para o cambista, este é o preço da comodidade. 

"É crime vender o ingresso por valor maior que o estabelecido no bilhete. Isso é crime, mas não é isso o que eu faço. Para arrumar aquele ingresso para o meu cliente eu tive gastos e tenho que ter lucro. E isso tem que ser repassado para o cliente, porque ele não está comprando o ingresso, ele está comprando a comodidade", analisa Nego Gato.

No discurso, os ganhos vão muito além do aspecto financeiro. "A Copa é importante porque eu estou expandindo meu mercado. Conheci muitas pessoas, gente de outros estados e outros países. Quando eu tiver uma Copa América aqui no Brasil, por exemplo, já tenho clientes da Colômbia e do México", disse.

Com os negócios em alta, o pé de meia está ficando gordo. Quem sabe se aposentar aos 45 anos e viver apenas com os rendimentos de suas empresas? Se a meta é ousada, pelo menos o Réveillon esta garantido. Nego Gato passará as festas de fim de ano em grande estilo em uma festa em Jurerê Internacional, em Florianópolis, um dos destinos mais badalados do país.

Enquanto as férias de dezembro não chegam, ele ainda terá muito trabalho. Depois da Copa do Mundo, ainda vai trabalhar na Recopa Sul-Americana, que tem o Atlético-MG na final, além do Campeonato Brasileiro.

A ideia inicial não era ter uma rotina tão estressante. Nego Gato havia se planejado para não trabalhar na Copa do Mundo até por causa das regras adotadas pela Fifa de ter ingressos nominais, o que dificultaria o trabalho dos cambistas. Mas depois ele percebeu que sistema não tem funcionado.

"O ingresso para mim é um título ao portador. Se a Fifa especificasse que só a pessoa que comprou o ingresso entra, tudo bem. Era um dos motivos que eu nem ia trabalhar na Copa. Se na hora de entrar, o fiscal pedisse o documento de identidade e conferisse com o ingresso… mas eu não vi ninguém fazer isso. Eles exigem o que seja nominal na retirada do ingresso".

Diante das facilidades para a comercialização das entradas, o planejamento já está traçado para a Copa de 2018, na Rússia. Ele afirma que vai trabalhar no próximo Mundial.

"Eu já estou olhando hotel na Rússia e já vou começar a estudar russo. Não vou aprender a falar russo, mas quero aprender pelo menos alguns dialetos para me comunicar. E vou vender ingresso na Rússia. Lá não tem gente inteligente como eu", finalizou.

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