Tabárez admite erro de Suárez, critica Fifa e renuncia a cargo na entidade
Maurício Stycer e Rodrigo Mattos
Do UOL, no Rio de Janeiro
Em pronunciamento emocionado sobre a punição de Luis Suárez, o técnico uruguaio Oscar Tabárez deu a entender que seu jogador cometeu de fato um erro, mas criticou a severidade da Fifa na punição a ele. Ao afirmar que não foi o mesmo critério adotado a outros atletas, ele disse que não concorda com os valores defendidos pela Fifa e renunciou a cargo na entidade, que ocupa em uma das comissões. Não respondeu a pergunta dos jornalistas.
"Não estou justificando nada, e não creio que não se deva punir (Suárez). Mas, quando se trata de pessoas, sempre deve se dar oportunidade para quem transgride. (…) A severidade foi excessiva", disse.
"Há muitos anos, tenho vinculação com a Fifa, como instrutor de cursos e membro do grupo de estudo técnico de Mundiais. Atualmente, ocupo o cargo na Comissão de Estratégia. Sinto que devo sair desse cargo. Não é prudente ficar em uma organização com pessoas que pressionaram por uma decisão, e manejam critérios e valores diferentes dos que eu tenho. Portanto, nos próximos dias, apresento minha renúncia."
Tabarez revelou que, na entrevista imediatamente depois do jogo contra a Itália, não havia visto as imagens do que ocorreu em campo. "Depois que vimos as imagens vi que havia uma possibilidade muito certa de punir os dois protagonistas, Soares e Chiellini. Esperávamos uma punição", disse, deixando claro que o atacante uruguaio cometeu um erro. "Mas jamais poderíamos imaginar os pormenores da punição. Foi de uma severidade excessiva".
Na visão de Tabarez, que no Uruguai é chamado de "maestro" (professor), a punição ocorreu em consequência de uma "pressão midiática" exagerada. "Foi uma decisão que evidententemente está muito mais voltada a atender à pressão midiática que se armou logo depois da partida, de jornalistas que tomaram como único tema esse. E não sei de que nacionalidade eram, mas todos falavam inglês", ironizou. "Uma pressão midiática que está muito distante do que representam as imagens da partida."
O técnico do Uruguai lamentou que os críticos de Suárez apelaram aos seus "antecedentes", sem lembrar que o jogador foi várias vezes punido e cumpriu todas as sanções. "Todos sabemos onde está o poder. Não se discute. O organizador tem o poder. Mas isso não significa aceitar e entender esse poder", observou.
Tavarez reconheceu que o Comitê Disciplinar da Fifa "deve fazer justiça", mas não concorda com a terapia do "castigo exemplar". "Como treinador e professor, sei como é isso. Dar um castigo exemplar e excessivo a quem comete uma transgressão para que o coletivo entenda o que está certo e o que não está. Em tese, estamos de acordo. Mas há um perigo nessa forma de proceder. Esquece-se que o exemplo envolve uma pessoa, que tem direitos".
Perguntando em voz alta, Tabarez provocou: "Quem ganha com essa decisão? Quem perde? Quem se beneficiou? Quem saiu prejudicado? Serão evitados, a partir de decisões tão drásticas, todos os excessos? Só com decisões desse tipo?" E respondeu: "Duvido muito. Outros episódios neste Mundial foram vistos por uma ótica diferente."
O técnico não mencionou, mas a própria Federação Uruguaia já havia feito menção, por exemplo, a uma cotovelada dada por Neymar na partida contra a Croácia, como exemplo de dois pesos e duas medidas.
Ao final de seu pronunciamento, em tom épico, Tabarez dirigiu-se aos uruguaios e disse: "E aos fãs uruguaios que, como nós, estão abalados com esta punição, digo que estamos feridos, mas com uma força incrivel e muita rebeldia. Mais do que nunca, pela partida de amanhã, vamos que vamos!"