Após novo vexame, futebol italiano se vê em meio a depressão e incerteza

Fernando Duarte

Do UOL, no Rio de Janeiro

Mesmo as reclamações sobre a atuação do juiz, um argumento sempre tão presente nas lamúrias italianas, desta vez pareceram sussurros. Ao final de uma campanha para esquecer, e a segunda consecutiva em que sai de uma Copa do Mundo ainda na primeira fase, a Azzurra trocou a conspiração pela resignação. Eliminada no Brasil tendo marcado apenas dois gols em três partidas, a equipe voltará para casa mergulhada numa mistura de depressão e incerteza simbolizadas pela queda dupla do treinador Cesare Prandelli e do presidente da Federação Italiana de Futebol, Giancarlo Abete.

E o sentimento de desorientação não recai apenas sobre a seleção italiana. A campanha no Brasil feriu de morte o que aparentava ser um renascimento da Azzurra depois do vexame na África do Sul, quando a então campeã mundial sequer conseguiu vencer uma partida num grupo com paraguaios, eslovacos e neozelandeses.  Uma geração caiu em desgraça e dela sobrou praticamente Andrea Pirlo, o cerebral meia que ficou encarregado de liderar os novos colegas na Euro 2012. Contra todas as expectativas, a Itália só parou na final, diante da então ainda poderosa Espanha.

Mesmo o placar de  4 a 0 para Xavi, Iniesta e cia.ainda deu margem para um certo otimismo. Sob a batuta de Prandelli, um nome admirado em toda a Itália tanto pelo trabalho na Fiorentina, que levou à segunda fase da Liga dos Campeões, quanto pela serenidade com que trabalhou em meio ao câncer terminal de sua mulher. Sua contratação pela Itália fora decidida antes mesmo do início do Mundial da África do Sul, quando a seleção foi comandada pelo mesmo Marcelo Lippi com que tinha sido campeã em 2006, mas a pavorosa campanha fez de Prandelli  uma esperança de salvação.

Para jornalistas italianos, o lombardo fez milagres. "Prandelli tinha em mãos uma das piores gerações de jogadores italianos dos últimos tempos. Tirando Pirlo e (Mario) Balotelli, o grupo é medíocre e ele conseguiu fazer mágica para que esse time conseguisse resultados expressivos", afirma Gabrielle Marcotti, especialista em futebol italiano que escreve para o jornal inglês "The Times". Assim como Marcotti, muitos outros mostraram preocupação com a fragilidade defensiva italiana – justamente o pilar que sustenta a "escola" Azzurra.

Ao contrário da também eliminada Inglaterra, com quem dividiu o Grupo D, a Itália não pode se fiar no argumento de que a presença de estrangeiros em sua liga tirou oportunidades para jogadores nacionais: os ingleses têm 62% de importados contra 48% dos italianos. No entanto, os dois países são dois exemplos negativos no que diz respeito às divisões de base. Os mundiais das principais categorias revelam um "sumiço" italiano, e embora troféus ganhos quando garoto não necessariamente se repitam no adulto, o bom desempenho nessas competições é um bom indicador da renovação de equipes.

O problema também envolve a própria estrutura do futebol italiano. Um estudo do Sindicato dos Jogadores Italianos (AIC) acompanhou a transição de um grupo de mais de 1200 jogadores entre 15 e 20 anos na temporada de 2009-10 e revelou uma taxa de aproveitamento de apenas 5% em clubes da primeira divisão. "O futebol italiano precisa de uma renovação que também depende em muito da ajuda dos clubes. Eles também têm responsabilidade no futuro da seleção", afirmou Prandelli em sua coletiva de despedida do cargo, logo após à derrota de 1 a 0 para o Uruguai em Natal, nesta terça-feira.

Neste ponto, a crise que ainda fere a economia italiana ao menos vem forçando clubes a buscar mais soluções "caseiras" que importadas para seus elencos. O problema é ver jogadores mais jovens recebendo oportunidades. O atacante Lorenzo Insigne, por exemplo, chegou ao Mundial com quatro convocações para a Azzurra. Mas o jogador pertencente ao Napoli desde 2010, e tido como uma promessa de homem-gol, tem perambulado por empréstimo por clubes intermediários e até mesmo de Segunda Divisão.Nada azul o futuro da Azzurra.

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